O que faz de uma aparição uma aparição? APARIÇÕES DE DANÇA

O que faz de uma aparição uma aparição?

A depender do repertório que carregamos dentro da gente, essa palavra evoca muitas coisas; Aparições, a princípio, em mim, provoca uma sensação de estranhamento. Aparições sempre estavam relacionadas a estas coisas que vemos e não identificamos de imediato. Porém, a palavra também evoca outras coisas: um movimento, às vezes um cheiro, às vezes um arrepio, mas ela indiscutivelmente evoca imagens.

Na etnocenologia, a gente poderia dizer que tudo que provoca um deslocamento na ordem “comum” das coisas, principalmente no cotidiano, tudo que causa um ruído ou uma fissura na rede nada pálida da rotina pode ser percebido com um certo estranhamento, como uma coisa que ocupa um lugar de destaque, ou que só chame atenção mesmo… um espetáculo ou uma aparição.

Talvez, tenha sido esse o mote para o projeto; inicialmente, sem o interesse de ser uma Aparição, mas se perceber uma Aparição, foi assim que Datan Izaká relatou o princípio de uma experiência que se tornou logo em seguida uma proposta, proposta essa que reuniu 13 artistas da Dança e da pesquisa em Dança, e mais uma artista do audiovisual; a enorme maioria habitando esse relevo que compreende as cidades de Teresina e Timon, uma atenção à esta ultima informação porque ela impõe trânsito entre fronteiras sejam lá quais forem elas! Isso tem a ver com perceber uma Aparição também, uma coisa que captura o olhar, que convida, que estabelece circunferências, trânsito entre fronteiras!

 

Fotos de Datan Izaká

Aparições de Dança porque tem uma tónica na imagem, a imagem que em si já é uma dança;  já é uma Aparição, Ideia dançada nas palavras e nos pensamentos de Adriana Bittencourt, que trazia referências pra pensar na imagem, no tempo e na ideia de permanecer! “O corpo tem sua fala pela dança e permanecer é se transformar ao longo do tempo”

Essa proposta pode estar mais calcada na pergunta: “O que me torna uma aparição?”; e, por via de regra, em uma outra pergunta: “Onde eu/aparição apareço?” Sobre o primeiro questionamento, há tantas respostas quanto pessoas no mundo; já o segundo, é geograficamente mais fácil de identificar, essas aparições estão por aí e neste recorte elas apareceram aqui na Zona da Mata, por cima de dois grandes Rios e de uma floresta fossilizada, nesse lugar aonde há minutos atrás quase não se via prédios, mas eles apareceram também e tem o nome de Teresina e Timon, é que a cidade dança junto coma  gente, ela vai aparecendo!

Fotos de Datan Izaká

Uma grande cidade, muitos corpos e o dobro de olhares. Essas cidades tem tantas paisagens quanto o número de pessoas que olham para elas, que param para olhar.

Nesse acontecimento, registrado pelo olhar de Tassia Araújo, vemos 12 aparições diferentes. Essas aparições, ao que parece, teciam imagens a partir da relação que tinham com essa cidade ou com a cidade que habita nas retinas e no peito de cada um e uma nesse  projeto.

É nesse lugar onde se percebe a potência do trabalho. É um trabalho para produzir imagens, mas as aparições, como qualquer outra coisa no mundo, não se submetem apenas a imagens chapadas. Essas aparições contam histórias, dançam, se movimentam, fazem sinal de fumaça, se indignam, provocam barulhos, conquistam lugares, evocam memórias que nalgum momento já caminharam por essas cidades, essas aparições se lembram e elas fazem lembrar; essas aparições estão acontecendo agora em algum lugar, nalguma frequência. E imagens nunca são coisas só de vê!

É que, no fundo, nós estamos falando de pessoas e das suas cidades, que às vezes se localizam no mesmo KM, na mesma baixada. Ocasionalmente, essas cidades compartilham as mesmas ruas e as mesmas pontes, mas, por habitarem em pessoas diferentes, também se corrompem, no sentido de se “co-romperem”, quando divididas no olhar das pessoas.

Fotos de Datan Izaká

Se pudéssemos dividir esse trabalho em camadas, teríamos 12 aparições distintas se movendo em lugares distintos. Naquele dia e naquele momento, uma aparição aconteceu, quem viu? Essas aparições poderiam acontecer, mesmo distante do olhar de alguém? Se assumíssemos que os viadutos, as pontes, as tubulações de água, as carnaúbas, as torres de TV, os prédios e as ladeiras também capturassem uma imagem dançada, ao mesmo tempo em que são incorporadas por elas, essas aparições aconteceriam mesmo assim? Mesmo sem um olhar para expectar? Acredito que sim! Aquela Velha que surge caminhando na rua, não foi também o movimento da Rua se lembrando daquela imagem?

A segunda camada poderia ser a do olhar dos outros, assumindo que essas aparições aconteceram nesse trabalho e foram capturadas pelas lentes de Tassía Aárújo com a contribuição de Datan Izaká, então, ao menos um olhar estranho acontecia naquele momento, um olhar participativo, como são todos os outros.

Uma terceira camada seria a da própria aparição em si, os desejos de falar sem palavras, de contar uma história com movimentos, produzir uma imagem se valendo de alguma tecnologia. A camada do sentido, da lógica. Essas aparições, ao mesmo tempo que teciam uma dança, teciam, também, reivindicações. Essa é a graça de perceber que “Aparições” somos todos e todas nós, respirando diariamente sobre uma cidade.

E uma quarta camada, mas não última, seria a dos que estão vendo essas imagens agora, dos que recolhem no tempo um espaço para estranhar, para se mobilizar, para apreciar, para se perguntar também!

Fotos de Datan Izaká

Se eu sou, então, uma aparição, como e por onde eu apareço?

Como e por onde eu tenho dançado?

Acesse o link aqui em baixo e veja os registros dessas Aparições

redemoinhodedanca.com.br

 

Ficha Técnica

– Direção Geral Redemoinho de Dança – Datan Izaká

– Concepção/direção APARIÇÕES: Datan Izaká

– Colaboração: Adriana Bittencourt (BA) e Jacob Alves (PI/SP)

– Criação e performance: Artista residentes, Datan Izaká, Hellen Mesquita, Hildegarda Sampaio, Ireno Júnior, Josivan Luzes, Kácio Santos, Kassyo Leal, Nayara Fabrícia, Paulo Beltrão, Sammya Tamires e Weyla Carvalho.

– Direção de fotografia e edição: Tássia Araújo

– Câmeras: Karystom Soares e Tássia Araújo

– Operador de Gimbal: Karystom Soares

– Identidade Visual: Ana Raquel Benício

– Produção: Bruno Dantas

– Social media: Abner Oliveira

– Teasers redes sociais: Daline Ribeiro e Joana Corrêa

– Apoio: Ruan Nunes

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