A Literatura produzida no Piauí é vasta. Trago aos leitores da Geleia Total uma estória curiosa e trágica vivenciada por Dionísio Vilarinho, um poeta piauiense, nascido em Amarante, terra natal de Da Costa e Silva.
Dionísio Vilarinho deu fim à própria vida aos 26 anos de idade. Sergio Faraco, escritor gaúcho, bem relata o caso em seu livro 60 Poetas Trágicos, a seguir transcrito:
” Poeta e sargento do Exército Brasileiro, foi protagonista de um assombroso drama em Alegrete: o poeta e a noiva se suicidaram, amargo desenlace de uma história de amor, ciúme e perversão. Após beber suco de uva com arsênico, ao meio-dia de uma segunda-feira, ele chamou o amigo e também poeta Hélio Ricciardi, pedindo que escrevesse o soneto que acabara de fazer e iria ditar. O amigo, percebendo que ele já se envenenara, não conseguiu escrever e se apressou a chamar o médico. Então ele mesmo escreveu, com a mão trêmula, o soneto que segue. Morreu na quarta-feira no Hospital Militar – no mesmo dia em que morria a noiva no Hospital de Caridade. Passados seis anos, Hélio Ricciardi reuniu sua pequena obra e a publicou em Alegrete, com o título de Música Indefinida, inaugurando a histórica série dos Cadernos do Extremo Sul. Vilarinho ainda não era um poeta, mas tinha talento para sê-lo se tão cedo não desistisse de viver.”
Depoimento de Sergio Faraco, um dos grandes escritores brasileiros.
(Sergio Faraco)
(Mário Quintana e Hélio Ricciardi, amigo do piauiense Dionísio Vilarinho)
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O poema derradeiro de Dionísio Vilarinho foi intitulado de Vinte e Seis anos, em referência à tenra idade em que o poeta cometeu suicídio.
VINTE E SEIS ANOS
poema de Dionísio Vilarinho
Vinte e seis anos… Vinte e seis mil passos
à procura de um bem, de uma ilusão!
Vinte e seis mil soluços de cansaços,
mil preces, mil pedidos…Tudo em vão.
Vinte e seis anos… Trinta mil fracassos…
Trinta mil tentativas de ascensão
sem êxito… Cair de membros lassos,
trinta mil vezes revertendo ao chão.
Já na casa dos meus vinte e seis anos,
curvado ao peso atroz dos desenganos,
sinto os desígnios infernais da sorte.
E assim desiludido, assim cansado,
de minha própria vida, eu, entediado,
evoco e espero com prazer a morte.
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Dionísio Vilarinho nasceu em Amarante, no Estado do Piauí, terra do poeta Da Costa e Silva, e morreu em Alegrete, no Rio Grande do Sul, em 1947.
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Minuta de Diego Mendes Sousa
(Fotografia de Amarante, Piauí)