Marleide Lins

A escritora, produtora, editora e designer gráfico Marleide Lins de Albuquerque nasceu em São Paulo, em 1961, mas mudou-se para Teresina-PI ainda criança. Em 2012, pelos serviços prestados à cultura do Estado a Câmara Municipal de Teresina lhe concedeu o título de cidadão teresinense. Desde os anos 70 Marleide Lins participa ativamente da cena cultura do Piauí, por meio de diversas linguagens artísticas, como literatura, artes visuais, teatro e música, como letrista e produtora. Entre os diversos livros que publicou estão Sub-vivo (1979); Sem plano e sem piloto 1985); o livro trilíngue (português, inglês e francês) Externo-Interno (2002), Plexo Solar (2010) e o recente Lirismo Antropofágico e outras iscas minimalistas (2016), feito em parceria com a artista plástica Yolanda Carvalho. Em sua trajetória como produtora, gestora cultural, pesquisadora e editora, tem desenvolvido projetos de registro, valorização e difusão da cultura produzida no Brasil e em outros países. Realiza por meio de parcerias com Instituições brasileiras e estrangeiras o projeto “Identidade e diversidade cultural” que versa, principalmente, sobre questões culturais de patrimônio e identitárias, como etnia e gênero. Durante essa semana você vai conhecer uma pouco mais sobre essa personalidade piauiense.

“Toda alma pesa arquétipos ancestrais. Toda alma que a outra se apega pesa mais.” Marleide Lins

Nome Completo: Marleide Lins de Albuquerque

Descrição: Escritora, produtora e editora

Data de Nascimento: 02/03/1961

Local de Nascimento: São Paulo-SP

Infância e primeiros escritos

A escritora Marleide Lins cultivou o hábito de ler desde muito cedo. Parte do apreço que sente pelos livros se deve à sua mãe, que sempre cuidou para que os filhos tivessem uma boa educação, e lessem o máximo possível. Marleide recorda que a forma que sua mãe utilizava para castigar à ela e seus irmãos era fazendo-os ler livros e contar-lhe o resumo da obra. O que para os outros filhos talvez fosse algo ruim, para Marleide era muito agradável. A escritora recorda que dois livros, em especial, a fizeram ter vontade de escrever. Foram eles: Alice no país das maravilhas de Lewis Carroll e Dom Quixote de la Mancha de Miguel de Cervantes. Marleide Lins diz ter sido sempre muito intimista e introvertida, e para ela escrever foi uma forma de expressar todo o seu processo mental e sua visão de mundo. Começou aos 12 anos escrevendo crônicas, e aos 15 escreveu seus primeiros poemas. Foi nessa idade também que teve contato com obras de escritores como o poeta russo Vladimir Maiakovski, o poeta japonês pai do Haikai (poemas curtos de origem japonesa), Matsuo Bashõ e Manuel Bandeira. Esses autores, principalmente Bashõ, influenciaram muito o estilo de escrita de Marleide, que desenvolve poemas curtos, sem, no entanto, perder a força de suas ideias. “Eu gosto muito da poesia síntese, a poesia minimalista. Eu acho que a gente pode ser densa com poucas palavras”, afirma. Em seus poemas Marleide trabalha temas ligados à natureza e às estações, assuntos sempre relacionados com os sentimentos humanos.

Primeiro livro e participação em movimentos culturais

A escritora Marleide Lins acredita que a boa escrita vem através de um exercício constante de leitura. Para ela, ainda que o indivíduo tenha nascido com o dom de expressar seu mundo por meio de um texto, é preciso uma certa carga de trabalho para lapidar o talento. Marleide trabalha como uma verdadeira operária na construção de seus textos, garantindo uma bela estética artística como resultado final. Escreveu o primeiro livro aos 17 anos de idade. Foi também nessa época, que juntamente com poetas como William Soares, Menezes de Morais, Fred Maia, Chico Castro e Salgado Maranhão, realizou movimentos em prol da cultura teresinense. As principais reivindicações da época eram o reconhecimento dos autores teresinenses que estavam produzindo, mas não eram publicados. O provincianismo da cidade não permitia que os responsáveis pelas publicações das obras literárias considerassem os versos produzidos pelos escritores daquela época como trabalhos de qualidade. Um entrave para a evolução literária no Estado, que, oficialmente, cultuava e visibiliza só os mortos. Participou de manifestações, saraus, e em parceria com os amigos organizou e publicou poemas em algumas revistas de cunho literário e filosófico, organizadas pelo poeta José Eduardo Lopes e por Cineas Santos. Também desenvolveu publicações, como foi o caso dos fanzines “Autodefesa” e “Não-ser”, trabalhos que versavam sobre literatura, filosofia e música. Era uma forma de furar as publicações oficiais, e mostrar que havia escrita da melhor qualidade sendo produzida dentro do Estado.

A mulher e o meio literário

Algumas das iniciativas notáveis da escritora Marleide Lins devem ser aqui destacadas. Uma delas é o fato de Marleide publicar, por meio de sua editora Avant Garde, os chamados “invisíveis”, grupos cujo registro histórico é pouco conciso ou inexistente. Uma das mais importantes contribuições feitas por ela em parceria com Algemira Mendes e Olívia Candeia foi o livro “Antologia de Escritoras Piauienses – Século XIX à Contemporaneidade”. A ideia da publicação foi dar visibilidade para a produção literária feminina produzida no Estado, e que não constava nos registros históricos dos trabalhos literários por uma política tendenciosa de exclusão feminina, segundo nos relata Marleide. A escritora ressalta ainda a relevância de uma publicação como essas. “Foi importante para reafirmar a produção literária feminina.”, declara. Produziu ainda juntamente com Algemira Macedo e participação literária de autoras da África, Europa e América do Sul, a “Antologia Transcultural de Literatura Feminina”. Organizou e publicou, também, a antologia “Elas escrevem, elas inspiram”. Ao ser questionada sobre a dificuldade de ser mulher no meio literário, ela diz que as questões problemáticas nada diferem das encontradas por mulheres em outras áreas. “A mulher tem que mostrar muito para ter visibilidade.”, pontuou. Marleide tem mostrado muito, não por acaso é referência para outras tantas mulheres que veem no seu trabalho uma grande fonte de inspiração.

“Estações de mim

Não me viram no verão

Vivo auto-ostracismo e solidão

Se me vires no inverno

Verás, viverás amor eterno.”

Marleide Lins

Trabalhos com identidades e diversidade cultural

Para contemplar outros segmentos identitários, também sem visibilidades, a escritora Marleide Lins criou a série “Identidades e Diversidade Cultural”. As publicações são feitas em parceria com instituições nacionais e internacionais. Ao todo foram três publicações já lançadas. A segunda edição “Patrimônio antropológico e arqueológico do Piauí/Brasil e Alto Ribatejo/ Portugal” recebeu o selo ANO BRASIL-PORTUGAL e a terceira “Etnia e gênero”, recebeu o selo de cultura da União Europeia. O quarto trabalho da série “Movimentos Migratórios e as Novas Diásporas”, será publicado nesse ano. Para esse novo livro, Marleide, a convite das instituições italianas “Associazione di Donne Senegalesi” e “Associazione Global Solidarietá”, ligadas à Prefeitura de Ravenna/Itália, passou três meses na Itália realizando pesquisa em casas de acolhimento para refugiados e imigrantes de países da África, do Paquistão e do Afeganistão. Para esse trabalho, organizou juntamente com Daniela Pedreira Aragão, a antologia poética “Crocevia di Versi” (2016), que aborda temas de travessias e exílios. Além de oferecer um laboratório de máscaras neutras. Por meio da arte, conseguiu tocar os refugiados, tão fragilizados pela condição humana em que se encontravam. Na oportunidade realizou entrevistas com as pessoas corpus da pesquisa, como também, com mediadores culturais que desenvolvem trabalhos nessas casas, pesquisadores, representantes da pasta de cidadania e imigrações, vereadores, deputado federal, prefeito, jornalistas, ex-refugiados e a comunidade italiana. O objetivo desse novo trabalho é registrar as pesquisas sobre as novas diásporas da contemporaneidade, o movimento atual de dispersão dos povos.

Apoiadora cultural e dificuldades no segmento literário

Já foram muitas as contribuições de Marleide Lins para a cultura do nosso Estado. Além de desempenhar seu papel de escritora e editora de livros, também escreveu as peças “Baile da Morte” (1982) e “Bay, Bay Baygon” (1985), em parceria com o diretor de teatro Adalmir Miranda. Na área musical, produziu vários cd’s e songbooks de cantores e compositores piauiense, como Claúdia Simone, Fátima Castelo Branco, Lúcia Alvino, Rubens Figueiredo, Soraya Castelo Branco, Bebel Martins, além da coletânea “Só quero saber do que pode dar certo”, remasterizada com poemas de Torquato Neto, entre outros. Atualmente foi eleita pela sociedade civil a suplente de Literatura, no Conselho Municipal de Política Cultural da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, e trabalhará juntamente com uma equipe para relatar em documento oficial, norteador das futuras políticas públicas para a cultura do Estado, as demandas da sociedade civil para o setor literário. A escritora consegue firmar parcerias com instituições públicas, mas a considerar a grande demanda do segmento, acredita que é necessário criar uma política de Estado, abrangente. Relata que as principais questões levantadas, em fórum, pelos que produzem no âmbito literário, dizem respeito à dificuldade de distribuição dos livros, falta de incentivo para que os escritores participem de feiras literárias divulgando seus trabalhos, e a necessidade de que município e Estado absorvam, a partir de um processo de curadoria, parte das obras dos escritores piauienses. Com essas medidas, pelo menos parte dos problemas seriam solucionados.

A vida em movimento

A escritora Marleide Lins de Albuquerque conseguiu fazer uma brilhante trajetória. Todas as suas contribuições para os mais variados segmentos da cultura teresinense foram de extrema importância. Na literatura, já fez muito, tanto a nível nacional quanto internacional. Como pesquisadora e editora é figura essencial para as chamadas frentes “invisíveis”. Respeitando a diversidade de cores, credos e gêneros, ela expressa por meio do seu trabalho a importância de conhecer e respeitar as singularidades presentes no outro. Trabalhando como uma verdadeira “operária das palavras” ela traz à tona mundos ainda desconhecidos pela grande massa. A escritora entrega-se completamente ao que faz, e colhe os frutos de um trabalho sério e extremamente competente. Para 2017, planeja o lançamento do 4º livro da série “Identidade e Diversidade Cultural: movimentos migratórios e novas diásporas”, a ser lançando no Fórum Mundial de Humanidades, em Agosto, na Bélgica. Ainda está previsto para o segundo semestre o lançamento de outro livro chamado “Antologia poética-poesia e lusofonia”, fruto de uma parceria entre ela e o moçambicano Ernesto Moamba. Outra boa iniciativa de Marleide, juntamente com seus parceiros, é a realização da segunda edição da Feira do Livro Infantil e de Quadrinhos do Piauí (FLIQUIPI). Marleide, assim como a poesia com a qual tanto se identifica, é vida em movimento.

Contatos

http://facebook.com/marleide.lins

http://instagram.com/marleide.lins/

Fotos

Livros

“Sub-Vivo” (1979);

“Sem Plano e Sem Piloto” (1985);

“Oito Para Ela” (1992);

“Os Sinos que Dobravam em Silêncio” (1997);

“Interno/Externo” (2002);

“Plexo Solar” (2010);

“Identidades e Diversidade Cultural: Patrimônio Arqueológico e Antropológico” (2013);

“Lirismo antropofágico e outras iscas minimalistas” (2016).

Outras fontes

https://cidadeverde.com/videos/19614/marleide-lins-conversa-no-jardim-sobre-seus-novos-trabalhos

http://falandonisso.meionorte.com/tags/marleide-lins/

http://180graus.com/geral/poetisa-marleide-lins-recebe-titulo-de-cidadania-teresinense-nesta-quinta-19-516281

Última atualização: 16/04/2017

Caso queria sugerir alguma edição ou correção, envie e-mail para geleiatotal@gmail.com.

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