O avanço acelerado da inteligência artificial, tem proporcionado inúmeras polêmicas e provocado discussões em todas as áreas profissionais nos últimos anos. Esta semana, surgiu um nova “trend” provocada pelo chat GPT. Usuários começaram a criar imagens inspiradas no estilo visual do Studio Ghibli, famoso estúdio japonês responsável por animações como A Viagem de Chihiro (2001) e Meu Amigo Totoro (1988). A brincadeira viralizou e tem se tornado um sucesso nas redes sociais.
A ampla disseminação de imagens inspiradas no estilo Ghibli pegou a OpenAI de surpresa, levando a companhia a estabelecer limites para esse tipo de criação com inteligência artificial. De acordo com Sam Altman, CEO da empresa, a procura superou as expectativas e causou instabilidades no sistema, o que levou à restrição do acesso para usuários gratuitos e à imposição de um limite de três imagens por dia para assinantes.
Além da elevada demanda, preocupações jurídicas e morais também influenciaram a decisão, pois a OpenAI passou a investigar se a replicação desse estilo poderia infringir direitos autorais. Embora a IA possibilite a geração de conteúdo baseado na estética de estúdios de forma geral, o uso de referências visuais com reconhecimento no mercado, como as do Studio Ghibli, reacendeu a discussão sobre propriedade intelectual na era da IA.
Ao lado da nova moda, se lança uma investigação. Quanto vale ser substituído por comandos robóticos que podem um dia apagar o seu legado artístico? A Geleia Total ouviu artistas visuais piauienses que nos demonstram seus anseios e percepções sobre o tema. Para o cartunista Jota A, a facilidade proporcionada pela inteligência artificial, pode retirar a liberdade de criação.
“A IA é uma ferramenta. Chegou para ficar. Ela é um meio. Nunca um fim. Por exemplo, eu posso utilizar a IA para me ajudar a criar um desenho. Quero desenhar uma onça, em uma floresta, próximo de um rio, ao meio dia. Então posso pedir para a IA para fazer um desenho assim e utilizar esse desenho como uma referência para fazer um desenho. O que eu não posso fazer é assinar esse desenho e vende-lo como se eu tivesse criado”, afirma.
O cartunista ainda reforça que o processo de criação vai muito além de comandos estabelecidos por recursos de uma Inteligência Artificial.
“Os desenhos no estilo Ghibli ficam muito bonito. Não dá pra negar. Mas também não dá pra negar que aquilo é um roubo de estilo. Um estilo, como o do mestre Hayao Miyazaki leva uma vida inteira para ser construído. E vem uma IA e rouba isso em segundo. Isso é lamentável”, disse.

O que a artista visual Eulália Pessoa chama de “desvirtuação da obra”, se enquadra numa série de consequências negativas aliadas a prática da IA
“Penso que o uso dessas ferramentas, que não servem a um propósito de progresso de qualquer setor, extremamente danosa, pelo motivo óbvio inicial, e também quanto ao gasto de recursos e o custo ao meio ambiente, pois elas usam quantidades absurdas de água e energia para funcionar. O principal motivo é a apropriação da obra de artistas, sem remuneração, pagamento de direitos autorais e desvirtuação da obra”, afirma
O professor e artista visual, Evaldo Santos Oliveira, descreve as inovações da IA para criações artísticas como “um movimento sem graça”
“Um tanto artificial, trata-se de uma ferramenta sem volta, mas não se compara com o feito humano. As linhas, as formas seguem um padrão matemático, ou seja, pura matemática, o que deixa o desenho sem graça, feio e comete alguns equívocos. Outro dia fiz um vídeo de uma foto minha e da minha mulher, ela apareceu com três braços, horrível e o movimento segue também anormal e sem graça”, pontua.
Com a popularidade dessas ferramentas, o mercado de ilustração pode sofrer uma desvalorização. Jota A confirma o fato “Pode sim. Se eu posso criar um desenho em poucos segundos porque irei pagar por um desenho. Mas também valorizará a ilustração original”, diz.
Eulália Pessoa, destaca que vai depender do contexto. “Pode ser que sim. Pode ser que não. Isso é uma onda, uma “trend”, algo mais para o passageiro que duradouro. Depende de outros fatores para haver uma forte desvalorização do trabalho de artistas”, pontua.
Evaldo, defende que no momento a mão de obra humana ainda prevalece. “Se continuar com as imperfeições, traço desumano, as linhas sem graça, cores artificiais, luzes tronchas, sim, a ilustração hoje segue com o uso de meios tradicionais e isso vem acompanhado de beleza, fluidez, harmonia etc. E ainda não será por enquanto substituída”, disse.

Com essas provocações, os artistas visuais sugerem que algumas abordagens podem vir entrar em vigor num futuro próximo, como a possibilidade da criação de regulamentações para o uso de IA na criação de arte digital. O cartunista Jota A, sugere que dentro desse processo deveria obrigar a explicar que aquele desenho/arte/ilustração foi feito por uma IA. Eulália afirma que, assim como em todos os setores a arte visual precisa de uma atenção e responsabilidade de criar uma regulamentação.
Já Evaldo, aponta a utilização do lado “bom” da IA de forma justa e responsável, pois “a arte digital já é um caminho sem volta”, dessa forma o artista a usa como ferramenta nova. “Costumo dizer aos meus alunos que eles devem experienciar os tradicionais meios e ferramentas e assim facilitará o uso dos meios digitais e ainda trabalhar de forma híbrida. Conhecer o tradicional para usar bem o digital.”
O artista visual ressalta que já existem algumas regras em vigor quanto ao uso da inteligência artificial em vários países do mundo.
“Uma informação, tenho participado de editais pelo mundo a fora e um dos itens que eles colocam e reforçam é a de que fica terminantemente proibido o uso de inteligência artificial, isso em países como Croácia, Bélgica, Turquia, Kosovo, Montenegro, Irã, Iraque, Espanha”.

Aproveitando esse novo movimento na internet das criações de “desenhos no estilo Ghibli”, sugerimos que os nossos artistas criassem uma versão como forma de protesto e resistência a IA, como mostra as intervenções abaixo.

JotaA, Eulália e Evaldo, são três talentosos artistas, que estudaram, se dedicaram e projetaram os seus talentos para alcançarem o reconhecimento profissional atual. Assim como tantos outros grandes artistas pelo Piauí, pelo Brasil e pelo mundo, merecem destaque e zelo por suas obras. Aproveitamos a deixa do espaço, para parabenizar o nosso artista piauiense Evaldo, por ter sido premiado em primeiro lugar (Menções Honrosas), vencedores da 41ª edição do Festival Internacional de Sátira e Humor “Marul de Aur”/ Romênia 2025. Esta é uma oportunidade humanizada, um reconhecimento pelo talento que a Inteligência Artificial não consegue atingir.
