Empresários, moradores do Centro de Teresina e fazedores de cultura se uniram para denunciar os crescentes arrombamentos aos imóveis da região. Segundo levantamento dos lojistas, nos últimos anos, mais de 300 empresas fecharam as portas devido à insegurança.
Falar do Centro de Teresina é falar de um pertencimento histórico, de uma cidade que precisou enfrentar os fantasmas decorrentes da quebra da economia no pós-pandemia, transformando o alegre e fervoroso centro de Teresina num território de medos, vazios, incertezas e perda de força trabalhista.
A Geleia Total compartilha os depoimentos do jornalista Marco Aurélio Siqueira e do sociólogo e ativista cultural Messias Júnior, que trouxeram uma sequência de posicionamentos acerca dessa discussão. “O debate sobre a revitalização do centro de Teresina precisa envolver diversos setores da sociedade. É um tema que mexe com várias áreas e tem dois projetos distintos: um projeto mais elitista, que simplesmente tira as pessoas em situação de rua, coloca policiamento, faz reformas estruturais aqui ou ali; enfim, é um centro para a elite e turistas verem. O outro projeto é mais inclusivo, merecendo um debate mais amplo, mais democrático”, afirmou Messias Júnior.
Recentemente, aconteceu uma reunião entre moradores, políticos e fazedores de cultura, na qual foram discutidos importantes temas para o projeto S.O.S Centro. De acordo com a apuração feita pelo jornalista Marco Aurélio Siqueira, a reunião não teve a consistência que deveria ter. “Percebemos que era um movimento mais preocupado com negócios do que propriamente social. Nas falas iniciais, predominou a preocupação com a segurança pública, e por isso algumas pessoas da organização fizeram vários relatos da situação de insegurança, arrombamentos, furtos e violência na área central. Preocupação válida, porque, além do temor, esses fatores têm diminuído a atividade econômica na região, com o crescente número de lojas e outros serviços fechando e a consequente diminuição da oferta de empregos no centro.”
“A próxima gestão deve promover esse debate de forma transparente e verdadeiramente democrática, sobre como ocupar o centro da cidade, como revitalizar o centro da cidade. Em meu ver, a ocupação do centro de Teresina passa pela transformação em uma área especial de interesse social, que combina o uso comercial e habitacional, envolvendo, claro, a economia criativa e o pessoal que faz cultura, que é importante. Hoje, a cultura, segundo o último dado de uma pesquisa do Itaú Cultural, corresponde a 3,15% do PIB brasileiro, maior do que o setor automobilístico”, disse Messias Júnior.
Segundo Siqueira, na última reunião foram pautadas as seguintes temáticas dentro do projeto:
1. Fundação da Associação S.O.S Centro (Zé Marques assinou).
2. Segurança pública (índice alto de arrombamentos).
3. Fechamento gradual de comércio e serviços no centro com aumento do desemprego.
4. Isenção de IPTU (muito caro na região, em média mil reais).
5. Urbanismo, guarda municipal, iluminação pública, recuperação de calçadas.
Segundo Siqueira, foi pedida a fala para a classe artística e Zé Marques comentou sobre a necessidade de cuidado com moradores de rua e pessoas em situação de pobreza e da urgente revitalização. “Também usei o microfone e comentei sobre o manifesto dos artistas que propõe a construção de um centro cultural no Rex, a retomada da obra do Museu da Imagem e do Som para a preservação da memória musical e audiovisual da capital, cuja obra encontra-se parada na antiga Câmara Municipal, localizada próximo à Rua Climatizada. Fiz questão de ressaltar que muitos dos atuais problemas do centro são resultado da falta de planejamento e gestão de governos em que Sílvio Mendes participou.”
Estiveram sentados conosco a professora e poeta Valéria Silva, Patrícia, Conceição, Zé Marques e Maria, moradora do centro.
Para Messias, o repovoamento da região central da capital combina com a ajuda de importantes pilares sociais. “Então, é importante atrair a população que tem o potencial de reduzir custos, garantir o direito à moradia e fomentar um ambiente propício para o comércio. Ou seja, a presença de moradores e comerciantes no Centro vai contribuir para uma maior movimentação de pessoas, o que, por sua vez, aumentará a segurança no local. Esse debate precisa envolver as partes interessadas: os comerciantes, os comerciários, os moradores do centro, da região do Ilhotas, por exemplo, e da população de baixa renda que ganha entre zero a três salários mínimos e de três a seis salários mínimos. Atualmente, essa população não possui moradia adequada e poderia ser beneficiada.”
Apesar do processo de revitalização do Centro ainda ser um pouco prematuro e procurar um apoio consistente das autoridades políticas, o jornalista Marco Aurélio Siqueira se solidarizou e declarou apoio à causa. “Expressamos na atividade nosso apoio à criação da Associação S.O.S CENTRO e destacamos que a classe artística pode contribuir para a melhoria das condições materiais no centro e manter o fluxo de pessoas que vêm e vão para os bairros com apresentações e produtos culturais em equipamentos públicos de cultura, num projeto sólido de revitalização e inclusão social”, afirmou.
“Com a habitação do centro, ou seja, povoar o centro, os prédios que estão abandonados aguardam a oportunidade para serem vendidos a preços exorbitantes devido à especulação imobiliária. Então, o Estado, como um todo, precisa ter cuidado com a especulação imobiliária. Tem gente de olho no centro para especular e ganhar muito dinheiro, independentemente de beneficiar a população. Esse cenário exige a criação de uma lei que possibilite a requalificação desses imóveis para o uso residencial e comercial de interesse social. Esse é o nó da questão. A prefeitura, no meu ponto de vista, deve atuar de forma a evitar que efetuem as compras desses imóveis inflacionados, priorizando a ocupação e o uso efetivo desse espaço de maneira a atender as necessidades da população”, afirmou Messias Júnior.
Para Messias, a ajuda na redução dos impostos entra como alternativa dentro do projeto de revitalização. “Trabalhar inclusive a redução de imposto de IPTU, essas questões aí, revitalizar o centro de Teresina através de um planejamento inclusivo e democrático, repito, tem um potencial econômico e transformador e abre um espaço político, cultural, comercial e seguro que beneficia uma grande população”, finaliza.