Todo mundo, em algum momento da vida, já quis ser uma mosca. Geralmente para ver ou ouvir o que não poderiam ou deveriam. Eu também já quis ser mosca, aliás, estive pensando muito sobre isso nos últimos dias. Não por razões tão medíocres como as que mencionei há pouco, mas por questões existenciais. Seria interessante.
Semana passada flagrei duas moscas em um frenético exercício sexual bem na porta da minha geladeira. Fiquei a pensar: que danadas, são 11h da manhã e elas transando por aí, sem se importar com quem as vê em seus atos libidinosos.
Não tive coragem de interromper, elas pareciam felizes. Fechei a porta com cuidado, para não atrapalhar o ato, e fui refletir. Como seria mais legal viver sem se importar com o que os outros vão falar ou fazer ao nos ver sendo quem somos. Eis um perigo: ser quem se é.
Só as moscas são felizes. Elas vivem pouco, são promíscuas, fazem sexo várias vezes por dia e voam, são livres. Bem melhor que ser tigre ou águia, como essa enxurrada de coachs dos últimos tempos tem repetido. Aliás, que pessoal enjoado.
Deve ser uma vida muito cansativa, essa dos tigres, tendo que amedrontar as pessoas com suas poses imponentes, comendo a carne de seus inimigos. E as águias? Coitadas, ficam lá de cima, voando com foco em seus objetivos, sem jamais olhar para os lados. Tem ainda quem prefira o arquétipo dos lobos, porque são solitários e espertos. É um bestume ser esperto e não poder dividir com ninguém porque “sou um lobo solitário”. Já ouvi alguém dizer que gostaria de ser um urubu, porque ninguém os incomoda.
Eu discordo com veemência. Os urubus vivem em média entre 10 e 30 anos, é muito tempo sem ser incomodado. Deve ser monótono. De que adianta viver muito sem ser nada? Como carnavalizou Babau do Pandeiro: o urubu vive no mundo da ilusão.
Bom mesmo é ser mosca. Voar ágil e livre, sem responsabilidades, fazendo merda por aí, enchendo o saco dos outros sem ser pega, transando loucamente a qualquer hora e em qualquer lugar. Poder fazer tudo isso sem medo de nada porque afinal só se vive 28 dias.
Tem alguma história para partilhar comigo? Eu vou adorar saber. Sobre qualquer assunto, os felizes e tristes, de famílias, amantes, amigos, festas, morte, paixão ou doença. Tudo vale. Posso garantir uma escuta atenta e forte.
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Registro fotográfico: por Denise Veras “Moscas na porta da geladeira”.
sempre uma crônica cavernosa deliciosa