O mestre Carlos Simioni, um dos fundadores do LUME, apresenta hoje (11) às 19h “Prisão para a Liberdade” em Teresina, na Escola de Dança Estadual Lenir Argento, localizada no Centro de Artesanato. A apresentação faz parte do “Projeto Acervo Público”.
“Prisão para a Liberdade” é uma demonstração de seu trabalho ao longo dos anos de pesquisa que, segundo o próprio artista, é um percurso do ator-pesquisador composto também pelas dificuldades encontradas nesse trajeto. Esse trabalho foi apresentado no Brasil, Estados Unidos da América, Itália, Dinamarca, Bélgica, Costa Rica, Colômbia e Portugal.
Vale destacar que o grupo LUME Teatro foi fundado em 1985 e já se apresentou em mais de 28 países, sendo uma referência na pesquisa da arte do ator. Com um trabalho diversificado, incluindo no repertório espetáculos de palhaço, dança pessoal, entre outros, o grupo também atua com intervenções. O LUME, que é um núcleo de pesquisa da Universidade de Campinas, atua na área da formação com oficinas, demonstrações técnicas, intercâmbios, palestras, etc.
Em entrevista para a Geleia Total, Carlos Simioni fala sobre sua passagem por Teresina, além dos 40 anos do grupo Lume.
Segundo Simioni, Luís Otávio Burnier foi estudar na Europa, onde se tornou discípulo de Decroux, conheceu Barba, Philippe Gaulier, Jacques Lecoq, Ives Lebreton, Jerzy Grotowski, entre outros mestres. Quando retornou ao Brasil, criaram o LUME como um núcleo de pesquisas.
“Esta é a terceira vez que venho para cá, e eu tenho certeza de que os artistas do Piauí têm um tesouro guardado dentro deles que às vezes usam sem saber e às vezes sabendo. E esse tesouro é riquíssimo. Eu, enquanto pesquisador, quando chego aqui para ensinar, consigo ver tanto nos bailarinos quanto nos atores e atrizes esse tesouro. E o que é esse tesouro? É a vontade de fazer a entrega, a beleza interna, a riqueza e a sensibilidade que eles têm. Então, é raro ver isso em artistas, e aqui em Teresina eu percebo isso, tanto que quis voltar.”
Quando começou seu treinamento, Simioni tinha 25 anos de idade, por isso ele frisa que há 40 anos seu corpo era outro, mais jovem e com resistência para aguentar a exaustão dos treinos intensos, para saltar, mexer o corpo e com o tempo esse método teve que encontrar outros caminhos. Dessa forma, o LUME desenvolveu o treinamento de “Técnica em Vida”, que consistia em:
“tudo que eu fazia com meu corpo tecnicamente eu tinha que ligar com o meu ser. Eu não podia fazer nada mecânico, isso não me interessava. Sempre que eu ligava o meu corpo físico, técnico, eu tinha que colocar o meu ser, a minha vontade, a minha pessoa, a minha emoção. A técnica servia para despertar coisas adormecidas que nós todos temos. E, com o tempo, aprimorando a técnica.”
Além de tudo isso, Simioni afirma que a pesquisa não podia ficar limitada dentro das fronteiras da Universidade, porém como os pesquisadores do LUME eram pagos para pesquisar, passando cerca de 8 a 10 horas investigando técnicas com treinamentos intensos, o método mais demorado não fazia parte da realidade dos artistas de fora do grupo. Por isso, ele frisa que existia essa preocupação e que a pesquisa foi sendo construída para tentar encontrar um caminho que levasse menos tempo, mas que fosse tão eficiente quanto o que conseguiram no treino de 8 horas.
Sobre a demonstração de “Prisão para a Liberdade”, Simioni conclui dizendo que o público terá uma mostra de todo o percurso de sua vida como pesquisador. “Vocês verão como era antes, como foi se desenvolvendo, como foi quando encontrei com os mestres e, o principal, vocês que estão interessados na arte de atuação verão onde eu cheguei, que patamar eu estou.”
O “Projeto Acervo Público” é uma realização do Coletivo Piauhy Estúdio das Artes e Redemoinho de Dança, um projeto financiado com recursos da Lei Paulo Gustavo, Edital Totó Barbosa, Governo do Estado do Piauí e Governo Federal.