Em meu exercício criativo e fazer literário já transitei profissionalmente pela esfera da revisão. De todos os horrores que já presenciei nos textos que li e com os quais trabalhei, um dos piores é o excesso de pontuação, sobretudo da exclamação. Há também os que sofrem de virgulite aguda, mas isso é matéria para outro texto.
“Para que serve uma exclamação? Não existe nada exclamativo para um escritor. As coisas são o que elas são”, foi o que disse Graciliano Ramos, e eu reitero. Os novos moldes de comunicação nos colocam frete a necessárias afirmações que, diga-se de passagem, só são necessárias porque a pontuação não é obedecida.
Já me chamaram de estranha porque uso ponto final ao encerrar as sentenças quando escrevo nos aplicativos de conversas virtuais. Penso que estranho é não usar. Outro dia manifestei um fato a um colega de trabalho e encerrei o escrito com um ponto final. Ele respondeu dizendo que não sabia me dar a informação. Tive que esclarecer que a sentença não era uma pergunta, e sim uma afirmação. Fui chamada atenção. Me disseram que meu colega achou que fosse uma pergunta porque eu não coloquei uma exclamação ao término da frase.
— Por que eu exclamaria uma afirmação?
— Para enfatizar o que você está dizendo.
— Isso não faz sentido.
— Claro que faz. Nas redes sociais as pessoas não sabem como você está do outro lado. Se você usar ponto final todos vão achar que você é algum tipo de psicopata que está esperando o momento certo para atacar.
— Psicopatas usam pontuação?
— Psicopatas são frios.
— Eu não sou fria, eu apenas obedeço às regras gramaticais.
— Ninguém gosta de regras.
— Eu gosto daquelas que facilitam a minha vida.
Não há razão para reproduzir o diálogo mantido sobre a relação entre os psicopatas e os pontos de exclamação, mas posso dizer que acredito que há qualquer coisa de inquietante em alguém que usa muito essa pontuação.
Não tenho tempo nem aviamento para literatura medíocre, para uma vida medíocre. Qualquer coisa que sinalize para a redução da qualidade do que é dito em prol de uma pseudo facilidade de comunicação me ofende.
Talvez eu seja dura, crítica demais, ou talvez eu seja uma psicopata. A maníaca da exclamação.
Tem alguma história para partilhar comigo? Eu vou adorar saber. Sobre qualquer assunto, os felizes e tristes, de famílias, amantes, amigos, festas, morte, paixão ou doença. Tudo vale. Posso garantir uma escuta atenta e forte.
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Ilustração: “Sinal de seta amarela e preta”. Disponível para uso gratuito em: https://www.pexels.com/pt-br/foto/sinal-de-seta-amarela-e-preta-5849597/