Se me perguntarem qual é a pior parte em ser uma fibromiálgica eu não pensarei antes de responder: os conselhos. Tem sempre alguém que acha que você não tentou todas as alternativas disponíveis no mercado ou que você não sabe o suficiente sobre a condição que te aflige.
Vão te aconselhar a fazer exercícios físicos, meditação, ioga, pilates, terapia, ir para a igreja, visitar um terreiro de umbanda, fazer ebó, tentar homeopatia, acupuntura, beber ayuasca, aprender um instrumento musical, fazer sessões de microfisioterapia, de fisioterapia e/ou mais uma sem conta de estratégias alopáticas, homeopáticas ou espirituais para tratar uma doença que não tem cura.
Quem não sofre com esse problema jamais entenderá o que é ir dormir bem, feliz, de boas e acordar como se tivesse sido atropelada por um caminhão. E, por favor, antes julgar que a pessoa dormiu de mal jeito ou que o colchão dela está velho, considere que essa pessoa é um ser humano que sofre, e muito provavelmente já tentou de tudo, inclusive investigar se ela tem um jeito tosco de dormir ou se o colchão dela está surrado.
Aos espertinhos de plantão que não entendem o que é uma condição de saúde psicoemocional, eu explico: não importa o que a pessoa faça, nada resolve, apenas apazigua. Quando acordo com muita dor, só duas coisas me fazem levantar: horas deitada praticamente sem me mexer, aguardando a dor aliviar (porque quase nunca passa) ou uma droga fortíssima que pode acabar com o meu fígado em menos de 10 anos.
A crônica de hoje era para ter sido sobre clima. Recebi um e-mail pedindo que eu escrevesse sobre como os últimos dias na cidade têm sido estranhos. Eu ia fazer isso. Pretendia começar dizendo que qualquer curso de escrita criativa, por mais simples que seja, ensina em suas primeiras aulas que nunca devemos iniciar um texto falando do clima. É difícil, é preciso ser muito bom para conseguir segurar o leitor depois de um “A brisa fresca da aurora adentrou pela janela”, por isso fiquei resistente em falar do céu de Teresina das últimas semanas. Mas, vejam vocês, aqui estou eu divagando sobre os perigos do lugar comum na escrita depois de expor alguns parágrafos acerca da irritação que me causam os sabidinhos de plantão que me cercam, me olham com escárnio enquanto conjecturam – e às vezes verbalizam – que tenho mesmo é preguiça de trabalhar.
Pensando bem, melhor teria sido deixar a brisa abrir a janela do meu quarto e olhar para o céu indeciso da cidade que, assim como eu, não sabe se queima ou se chora.
Tem alguma história para partilhar comigo? Eu vou adorar saber. Sobre qualquer assunto, os felizes e tristes, de famílias, amantes, amigos, festas, morte, paixão ou doença. Tudo vale. Posso garantir uma escuta atenta e forte.
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Registro fotográfico de Valquíria Gomes: “Vista da janela”.