As pessoas da minha geração – e as mais antigas também – passaram a infância assombradas pelo Velho do saco, uma figura mitológica que permeava o imaginário popular.
Existem muitas vertentes da mesma lenda. Há quem diga que se tratava de um senhor bastante idoso, barbudo e maltrapilho, que andava pelas ruas recolhendo crianças malcriadas. Existe ainda uma vertente bem mais medonha dessa história. Dizia-se tratar de um senhor que sofria de hanseníase, também conhecida como lepra, uma doença que causa inchaço no fígado. Segundo essa vertente da mitologia, esse senhor perambulava em busca de crianças para comer-lhes o fígado ou vender para outros enfermos. É por essa razão que, em algumas regiões, essa lenda também é conhecida por Papa-figo.
Seja como for, o fato é que os adultos usavam dessa narrativa para causar medo em suas crianças, e assim evitar que elas falassem com estranhos e/ou fizessem malcriação. Mais uma prova da crueldade humana.
Tudo bem, Denise, eu conheço a lenda, mas por que você decidiu escrever um texto sobre isso nesse período tão lindo? Afinal, é natal, queres estragar os prazeres alheios? Nada disso, se assim o fiz, peço desculpas ao leitor. Não tive a intenção. Na realidade quero falar de outro velho do saco: Papai Noel.
Esse homem de barba longa e sacola nas costas também assombrou a minha infância. Não sei bem porquê, mas sempre tive mais medo dele que do Papa-figo. Ele visitava as crianças da minha escola e dava-lhes os presentes que elas haviam pedido. Deixava embaixo do pinheiro natalino da minha avó os carrinhos, bonecas e jogos que os meus primos haviam desejado. O estranho é que nunca havia nada para mim.
Como eu detestava aquele homem. Acaso ele não sabia que eu também era criança, e que também era da família? Por que eu sempre era esquecida? Seriam os seus gnomos ajudantes uns incompetentes? Jamais descobri. Outrossim, ano após ano, embaixo da minha rede sempre amanhecia um embrulho esquecido. Dentro dele, a boneca que eu havia pedido aos meus pais, o brinquedo com o qual sonhei o ano inteiro.
Não demorou muito para eu descobrir que quem comprava o presente era a minha mãe, e quem o colocava embaixo da minha rede era o meu pai. Papai Noel nunca me visitou, o Velho do saco também não. Desde então o meu plano é mandar o Papa-figo para o hospital, e o Papai Noel para o inferno.
Tem alguma história para partilhar comigo? Eu vou adorar saber. Sobre qualquer assunto, os felizes e tristes, de famílias, amantes, amigos, festas, morte, paixão ou doença. Tudo vale. Posso garantir uma escuta atenta e forte.
Email: deniseverasletras@gmail.com
Instagram: @deniseveras1
Ilustração: “Djalma Paiva Armelin”. Disponível para uso gratuito em: https://www.pexels.com/pt-br/foto/fotografia-em-tons-de-cinza-de-um-homem-vestindo-uma-camisa-polo-e-segurando-um-saco-705301/
Ainda bem que assim como a figura do velho do saco e mito a do Papai Noel também é pode mandar tudo ir a pqp.