Douglas Machado e seu talento para a irrelevância, por Noé Filho

Chitara Sousa – Foto Eduardo Crispim

Ver a divulgação de um filme e ter ali escrito “Douglas Machado” tem um peso, uma significância. Gera em nós expectadores que sabem um pouco da trajetória deste cineasta, expectativas positivas e, também, negativas. E sempre na derrocada do fim da exibição de seus trabalhos me pego pensando na sua capacidade em se tornar invisível ao artesanar documentários.

Não foi diferente ao assistir ao “A Carta de Esperança Garcia”. Sendo bem sincero como sempre sou, a primeira coisa em que pensei ao ver que o Douglas estava nesta empreitada sobre Esperança foi: “marmininu, o que o Douglas tá querendo em se meter nessa história?”.

Ter um histórico de histórias contadas sempre gera as famigeradas expectativas. E cabe a quem constrói esses caminhos bem lapidados o trabalho sisífico de empurrar essas expectativas até conseguir desmembrá-las, para então vê-se na base do morro para uma nova empreitada.

Um sinônimo mais feliz para expectativas é esperançar. E valeu a pena esperançar neste documentário. Cena após cena, fui esquecendo de tudo, de onde estava, de quem eu era, de quem registrou essas cenas para me encantar e me conectar profundamente com as personagens ali apresentadas.

As protagonistas eram as protagonistas, e suas vozes, e suas narrativas, e suas cores. As protagonistas eram as protagonistas. Eram elas, a todo instante, tomando as rédeas dos contares. Pelos seus magnetismos, grandezas, axés, belezas, mistérios, lutas.

O talento deste fazedor de filmes é o de parecer ser irrelevante. Parecer que tudo estava acontecendo e, do nada, em um passe de mistérios, por um acaso, ele estava passando por ali e conseguiu filmar. Por outros acasos aquele material se juntou e ganhou vida, pela força vital das protagonistas e suas histórias. E para conseguir esse resultado tem que ter muita sensibilidade e inteligência.

Destaco aqui outros dois documentários que assisti anos atrás e que também me causaram o mesmo impact: “H. Dobal – Um Homem Particular” e “Alberto da Costa e Silva – O Retorno do Filho”.

Queria poder falar mais sobre algumas cenas, sobre as mulheres que são Esperanças, mas vou me controlar para não falar demais e atrapalhar a experiência de quem não assistiu ainda. Se você estiver lendo este texto a tempo, não perca a oportunidade de assistir às exibições de “A Carta de Esperança Garcia”, nos dias 25 e 26 de novembro, no SESC Cajuína (ou fique de olho nas próximas exibições), e se hipnotizar pelas potências de Zezé Motta, Chitara Sousa, Luiza Miranda, Tina Ribeiro, Catarina Santos, Regina Sousa e Maria Sueli Rodrigues.

Escrito por Noé Filho.
Revisado por Paulo Narley.

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