Outro dia, lendo a coluna de Tati Bernardi no Jornal Folha de S. Paulo –Mulheres bravas –, me deparei com um questionamento interno: serei eu brava ou bravíssima?
No artigo a autora levanta questões sobre a saúde psicológica e emocional das mulheres, bem como a normalidade com que a sociedade lida com o constante uso de medicamentos ansiolíticos e antidepressivos receitados a essa clientela, em muitas ocasiões taxadas de loucas, psicóticas, desequilibradas.
Ocorre que eu também tomo ansiolíticos, antidepressivos e sou taxada de maluca. O que há em comum entre as mulheres que estão na mesma zona que eu?
Refleti bastante a respeito. Das muitas coisas que voltearam a minha mente, posso apontar: uma das coisas que mais me aborrece em uma conversa é quando a outra parte me pede para “relaxar”. Se isso acontece com muita frequência? Sempre. Um dado interessante? 100% das pessoas que me dizem isso são homens.
Ao que parece, os homens que estão à minha volta acham que estou sempre precisando relaxar. Existem variantes da mesma sentença “Calma”, “Fique tranquila”, “Stay fish”, “Relax” e outros sinônimos.
Mais interessante ainda é constatar que, mesmo deixando claro que você não gosta de ser tratada assim, a pessoa ainda te manda relaxar porque, você sabe, as mulheres são estressadas por natureza.
Ainda no mesmo artigo a jornalista aponta seu desejo íntimo de consumir ansiolíticos à moda antiga, daqueles que deixavam a pessoa tão calma que fariam qualquer iceberg ter inveja. “Quero parecer uma múmia […]. Uma zumbi de calma soberana”. Como externar o quanto me identifiquei?
O formato com que a sociedade se consolidou exige que as mulheres sempre tenham que se controlar. Os homens, quando perdem as estribeiras, são másculos, nós somos loucas. Quando eles demonstram inteligência, são intelectuais, nós somos soberbas. Quando eles têm um dia ruim só precisam ter seu espaço preservado, nós ainda precisamos que lidar com piadinhas sobre nossos hormônios.
Penso que muitas mulheres sentem o mesmo que eu, ainda que não saibam nominar ou apontar exatamente o que as incomoda. Eu posso afirmar que, depois dessa reflexão, não quero mais parecer plena, fina nem inabalável. Eu sou mesmo é uma dessas topetudas, birrentas, teimosa e brava. Aliás, brava não, bravíssima.
Tem alguma história para partilhar comigo? Eu vou adorar saber. Sobre qualquer assunto, os felizes e tristes, de famílias, amantes, amigos, festas, morte, paixão ou doença. Tudo vale. Posso garantir uma escuta atenta e forte.
E-mail: deniseverasletras@gmail.com
Instagram: @deniseveras1
Imagem: “Mulher de camiseta cinza”. De utilização gratuita. Disponível em: https://www.pexels.com/pt-br/foto/mulher-de-camiseta-cinza-3812739/