Um dos poetas mais imagéticos e lúcidos em atividade no país, Diego Mendes Sousa (@sousadiegomendes) apresenta as suas novas imaginações líricas e invenções metafísicas na obra “Agulha de coser o espanto” (2023).
Considerado por Nélida Piñon, que assinou o prefácio, como autor de “uma poesia bela, muito poderosa, um fluido de vida. (…) E tem um percurso brilhante, de bela genealogia épica e lírica, com traços da grande prosa (e com traços bíblicos), além do mergulho na origem sentimental das pessoas, de cada existência (…)”, Diego Mendes Sousa é consagrado pela crítica e pelo público leitor, cujo reconhecimento se revela também em prêmios conquistados em uma carreira literária que alcança vinte anos de fecunda produção, ante a juventude e a precocidade de seu autor.
Em “Agulha de coser o espanto”, o poeta piauiense (nascido na Parnaíba de Evandro Lins e Silva e de Assis Brasil) reúne poemas produzidos entre 2020 e 2023. Divididos em três partes, os poemas contemplam a magia do ridículo, do espanto, do tempo e do amor.
“Coração a perder.
Vi ruínas.
Não abandonei o ser.
No mais
as procelas são gritantes
e as vozes do silêncio
ferem-se agudas.
E nada vale nada.”
Diego Mendes Sousa celebra o lançamento da obra que acontecerá num evento no dia 15 de julho, “Agulha de coser o espanto” (Instituto Amostragem, 2023). “Há trinta e três anos, a data de 15 de julho simboliza o meu próprio ritual natalício. Nasci da ressaca das festas juninas, que se iluminam com o Boi de São João, com a celebração dos três Santos populares (Antônio, Pedro e João), com as Quadrilhas (as danças folclóricas), as fogueiras, os fogos, os balões e as comidas típicas, que povoam o meu imaginário de pertencimento”.
“15 de julho reveste-se em tríplice alegria: o meu aniversário, o marco temporal dos meus vinte anos de carreira literária e de experiência poética, e sobretudo, o lançamento do meu décimo segundo livro de poemas, intitulado ‘Agulha de coser o espanto’, que revela a maturidade lírica de um poeta vocacionado desde menino e entregue a sua arte de encantar e de comover”, pontua.
O poeta destaca como foi o processo de criação da obra. “Minha poesia é uma manifestação do inconsciente. Os poemas surgem da necessidade imprescindível e orgânica de expressar sensações existenciais. Nunca tive receio de ser um completo ridículo! A poesia é a minha sensatez, e contraditoriamente, a minha loucura!”.
INSIGHT
O poema é o pomo
do sangramento humano,
um testemunho da vivência,
com segredos, e sobretudo,
com revelações.
A poesia é uma quimera permanente
e uma ficção fidedigna ao anímico.
“Manifesto que o ato criador é um enigma. Aprendi com Lorca e Rilke. Jamais saberei explicar a origem cosida do espanto, porque esse conhecimento se desfaz, vira esquecimento, se torna pura beleza e rastro do instante. A Poesia é a memória do ser oculto, perdida no palheiro da imagem. Fico com Camille Mauclair: ‘quanto mais imagens inventa um poeta mais alto é ele em sua glória’. ‘Agulha de coser o espanto’ é um livro dividido de maneira simbólica em três movimentos, que contempla a magia do ridículo, a força desdenhosa do tempo e os mistérios cabalísticos do amor. São poemas inéditos, escritos entre 2020 e 2023”, disse.
“O livro ‘Agulha de coser o espanto’ terá lançamento nacional e sessão de autógrafos, na noite de 15 de julho de 2023, às 19h, no Auditório Vicente Correia (SENAC), na Parnaíba, meu torrão natal, ao norte do Piauí. Destaco ainda, que o poeta e médico, Luiz Ayrton Santos Junior, da Academia Piauiense de Letras (APL), fará a apresentação da obra. ‘Agulha de coser o espanto’ contém prefácio da grande escritora carioca Nélida Piñon e a quarta-capa assinada pelo extraordinário poeta e ficcionista, Carlos Nejar, ambos da Academia Brasileira de Letras (ABL).”
“Ressalto deslumbrado, a capa e as belíssimas ilustrações compostas por Iri Santiago; e a orelha, com a análise profunda do competente professor e crítico literário, João Carlos de Carvalho”, afirma.
Como um entusiasta da literatura, Diego Mendes Sousa descreve o que a obra ‘Agulha de coser o espanto’ representa a ele, para a arte e literatura piauiense. “A obra, significa para mim, uma dação de linguagem que parte da vivência rumo ao etéreo. Vejo a Poesia como o mais alto substrato da humana condição. Reflete a minha história, e ao mesmo tempo, a história coletiva, feita de abismos e de voos. Costumo dizer que trago nas mãos uma teoria de pássaro (oriunda do coração) e uma teoria de cavalo (natural da alma)”.
“Há uma passagem nesse livro que explica a imagética do meu destino: ‘o poeta / é aquele / ser risível / que opera, / pesa, / sente, / sangra / e galopa insano. (…) e voa / só voa só voa / só voa’. É através desse canto incomum e de certa feita original, que espero encontrar ressonância na Literatura do Piauí, rica de aves raras como Da Costa e Silva, Mário Faustino, Álvaro Pacheco, Everaldo Moreira Véras, Benjamim Santos e Francisco Miguel de Moura, os meus poetas eleitos. E não custa testemunhar que ‘o poeta é o lojista do mundo / também o camponesinho / do humano / e o viajante sem batismo’.”
“Minha poesia está aberta ao mundo nesta viagem imprevisível e conduzida, exclusivamente, pela intuição. Aos leitores, entrego uma avaliação sobre o recôndito dos meus sentimentos, no digno cânone do terral”, conclui.
Confira mais alguns dos belos poemas de Diego Mendes Sousa:
AVE DOÍDA
O poeta
é aquele
ser risível
que opera,
pesa, sente,
sangra
e galopa
insano.
Dói
o espanto
e se
descoisificam
os nomes.
Como dói o espanto?
Como dói o espanto!
Como dói o espanto.
O poeta dói-dói
é essa ave doída
ridícula e ferida
que sonda
o abismo
o tempo
a vida
as ruínas
e voa
só voa só voa
só voa
CERTEZA
Poesia
é o pássaro
afogado
no mar
o peixe alado
sobre a terra
firme
a luz fugidia
na manhã
o diáfano
no deserto
o rosto
sem tempo
a matéria
sangrenta
o vento
estático
da vida
e o segredo
Poesia
é a fé
e a febre
a dor e o amor
o olhar
no silêncio
e o degredo
a mudez do grito
a vela do incêndio
a ausência
do destino
Poesia
é o pensamento
é o sentimento
é o deslumbramento
desse canto
amargo
Antes de tudo
e depois do nada
o fim do começo
e o início do fim
Poesia
é a mãe
do mistério
e a solidão
da sombra
(a casa
íntima
da alma)
Poesia
é a agulha
de coser
o espanto
a vaga lírica
a tristeza da alegria
magra
o encanto
A DEFINIÇÃO DO POETA
O poeta é uma formiga alada e/ou uma cigarra sem asa!
Constrói, destrói e reconstrói com os sentidos.
Canta, decanta e recanta com os sofrimentos.
O poeta é um sensível,
que conhece o céu e o inferno,
a claridade e a escuridão,
sem perder o lume da palavra
e os mistérios da vidência.
O poeta faz da sua atuação verbal
uma transcendência deslumbrante,
que opera o redivivo,
com o objetivo de comover outrem.
DE PROPÓSITO
A poesia está ao par do tempo.
O poeta está a par da vida.
O poema é a pá da alma
e a memória
é o par das horas.
FILOSÓFICA
Envelheci a alma a caminho do tempo,
em busca do abismo,
enquanto os tinteiros doloridos
rasgavam a imaginação colorida
de bronze e de chumbo;
– Minhas tessituras metálicas.
Ficha Técnica
O livro é publicado pelo Instituto Amostragem, com dedicatória a João Batista Mendes Teles.
Quarta-capa escrita por Carlos Nejar, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL).
Orelha composta por: João Carlos Carvalho, estudioso da obra completa de Diego Mendes Sousa.
Capa e Ilustrações: Iri Santiago.
Vocês podem adquirir o livro diretamente com o autor, Diego Mendes Sousa, através do seu Instagram @sousadiegomendes. Quer conhecer mais pessoas que escrevem aqui no Piauí? Leia os diversos perfis que fizemos aqui na Geleia.