Teresinense da gema, nascido no mês de dezembro de 1958, sétimo filho de uma prole de nove. Wellington Soares (@wellingtonsoarespi) foi um menino tímido, retraído, que encontrou na leitura uma importante companhia. Começou a pegar o gosto pela leitura aos poucos, passando pelos gibis e jornais até chegar nos livros. A leitura é uma prática solitária, mas naquele momento construía uma rede de interações que forçava as crianças a sair para comprar e trocar revistas e figurinhas dos álbuns.
Formado em Letras pela UFPI e professor de linguagens no ensino médio. A estreia literária ocorreu em 1991, com Linguagem dos sentidos, reunião de narrativas curtas. Seus livros perpassam o conto e a crônica, entre eles destacam-se Um beijo na bunda, Maçã profanada, O dia em que quase namorei a Xuxa e Cu é lindo & outras histórias.
Vive metido na organização de feiras e saraus literários pelo Estado. Durante dez anos, esteve à frente da maior feira de livros do Piauí, o Salipi. Atualmente é um dos editores da Revista Revestrés e curador da Balada Literária no estado.
Wellington Soares, um autor de feiras literárias
Geleia Total: Uma coisa “simples” para começar. Como surgiu a ideia de montar a Feira de Literatura Piauiense – Felipi?
Wellington Soares: Fui um dos idealizadores do Salipi em 2003, junto com Cineas Santos, Luís Romero, Nilson Ferreira; e de outras feiras literárias espelhadas pelo estado. Nessas feiras, se trabalham autores brasileiros de um modo geral, incluídos aí os piauienses. Então, sentimos a necessidade em 2022 de fazermos uma feira focada única e exclusivamente nos autores piauienses e suas obras.
“Por uma única razão: é preciso que a literatura piauiense tenha mais visibilidade no nosso estado, seja mais valorizada, seja adotada nas escolas. Antigamente se falava que os nossos livros não eram adotados porque nós não produzíamos ou que os livros eram de péssima qualidade literária ou gráfica. Hoje nós não devemos nada à produção do eixo Rio-São Paulo. Temos excelentes obras com excelente qualidade literária e também de impressão.”
“A Felipi surgiu da necessidade de a gente valorizar cada vez mais a literatura piauiense. Ela tem esse objetivo de fazer com a gente se apodere mais da nossa literatura. (…) Quando a gente homenageia – como estamos homenageando este ano [2023] – o Mário Faustino é para deixar claro que queremos nos apoderar do autor. Ele é filho de Teresina, e nós estamos perdendo o Mário Faustino para o Pará, como perdemos lá atrás o Boi para o Maranhão. É preciso que a gente acorde neste sentido.”
O que nos fortalece
GT: Quais foram as maiores dificuldades que vocês encontraram tanto para tirar a ideia do papel quanto nestes dois anos de Felipi?
WS: Quem mexe com cultura no Piauí – não só no Piauí, mas no Brasil de um modo geral –, já sabe que vai ser extremamente difícil. Tem que ter disponibilidade, compromisso, interesse em realizar esses eventos, porque não é nada fácil, mas isso não nos desanima, muito pelo contrário, isso nos fortalece ainda mais até porque o nosso projeto é um projeto grandioso, belo, é um projeto que incentiva a leitura.
“Hoje temos menos de 20 feiras literárias no Piauí, que é um número ainda reduzido diante da quantidade de municípios que nós temos no estado – são 224 –, mas é algo que está sendo tratado, só precisa que haja interesse também dos gestores públicos, dos prefeitos, dos deputados e principalmente de um grupo de pessoas do próprio município interessado em realizar um evento desse tipo, unir a literatura com outras manifestações artísticas.
“Quando nós falamos de feira, quando nós falamos de salão, quando nós falamos em bienal, temos que ter clareza que a literatura está intrinsecamente ligada a outras manifestações artísticas.”
Cultura para sobreviver
GT: O que feiras literárias como a Felipi representam para a cultura piauiense?
WS: O que nós queremos é ocupar o espaço que nossa literatura merece. Ela não teve essa visibilidade ainda. Por exemplo, existe uma lei obrigando as escolas públicas e privadas a adotarem livros de autores piauienses, infelizmente é uma lei esquecida. E nós precisamos reativar isso, se cada escola passasse a adotar livros piauienses passaríamos a ter até mesmo autores que conseguiriam sobreviver de literatura. É uma pena não termos hoje nenhum autor piauiense que sobreviva apenas da literatura, o único era o Assis Brasil.
Quer conhecer mais sobre Wellington Soares? Leia o perfil do autor que fizemos aqui na Geleia. Quer sugerir pautas para a Geleia Total? Manda a sua sugestão para: redacao.geleiatotal@gmail.com