O Bloco do Paçoca já é bastante conhecido em Teresina, pois se trata de um dos blocos tradicionais da cidade que em 2024 completará trinta anos de existência. E esse ano pretende trazer essa memória falando sobre os Grandes Carnavais de Teresina.
Segundo Messias Júnior, a ideia de fundar um Bloco Carnavalesco surgiu quando ele fez parte de um grupo de jovem do movimento estudantil, filiados a UJS (União da Juventude Socialista), nesse período ele ocupava o cargo de secretário geral do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da UFPI e também era morador do bairro Saci.
O grupo fez o resgate de uma brincadeira de jovens “boleiros” da década de 80 que brincavam na segunda-feira de carnaval, eles percorriam a Avenida Principal do Saci montados em carroças de boi e com instrumentos de percussão, além das tradicionais brincadeiras como jogar amido de milho e corante nas pessoas enquanto gritavam: “olha os Paçocas.. Aqui tem paçocada”.
A brincadeira foi crescendo até surgir o primeiro carnaval do Paçoca, que aconteceu no dia 15 de janeiro de 1994, em frente a Quadra 01 do Conjunto Saci, na rua que hoje tem o nome de Messias Andrade – Dedim, uma homenagem ao pai de Messias Júnior, e um dos “paçoqueiros” da década de 80.
A história do grupo aparece expressa no samba-enredo criado pelo ex puxador de Samba da Escola Show Samba, Jorginho Batuqueiro, para homenagear os primeiros músicos do Bloco do Paçoca: Erivelto Batuqueiro (destaque no samba) e Vando do Trombone (destaque no Frevo). Hoje duas grandes referências no Carnaval de Teresina.
Para Messias Júnior, o bloco tem grande importância para a cidade, principalmente por trazer temas autorais de samba enredo, frevo e do carnaval do Paçoca que memoriza fatos a história vivenciada pela comunidade, além de pautar temas associados ao respeito e a diversidade.
“Nós não negamos a origem dos paçoqueiros, que foi com cachaçada e “brincadeiras” que hoje não se faz mais e não são mais recomendadas. O símbolo do Paçoca é o Deus Baco, o Dionísio, Deus do Vinho e da Orgia. Tudo isso tem um simbolismo histórico. As cores do Paçoca são laranja e limão, os dois principais tira-gosto de cachaça. No último Carnaval UM DEDIM DE PAÇOCA NO SACI na Avenida Principal, o tema foi “Por trás da fantasia todo mundo é igual” para mostrar que devemos respeitar as orientações sexuais, religiosas e políticas das pessoas. Precisamos respeitar as mulheres, os negros e ninguém deve ser discriminado. Por isso nosso carnaval é democrático… A alegria é de graça. Acho que a maior contribuição do Bloco do Paçoca com a comunidade é fazer com que os amantes dessa festa popular, o carnaval, sejam realmente cidadão e cidadã. Exercer de fato a sua cidadania”, frisa.
Com 21 anos de existência o Bloco lançou a Revista do Paçoca e agora, oficializando a confraria dos paçoqueiros e paçoqueiras, os organizadores pretendem e fazer o documentário dos 30 anos do Bloco do Paçoca no Carnaval de Teresina. Esse momento é marcado pelo retorno do Ministério da Cultura e a aprovação das leis Aldir Blanc e a Lei Paulo Gustavo, pois são oportunidades que permitirão o custeamento desses projetos para artistas de várias regiões do país.
“O Paçoca é a minha história, é a história do meu bairro, o Saci. É a história da minha família, principalmente a história do meu pai. O Paçoca é encontro e reencontro de amigos e amigas que passam o ano sem se ver e estão juntos no carnaval. O bloco do Paçoca é Alegria, é sonho e é felicidade para muitas pessoas e isso é gratificante.”
O Bloco do Paçoca está presente não só nas festas, mas lutando pelo direito da cultura da capital piauiense, dessa forma no dia do Folclore lançou o movimento #THEcarnaval, além da carta “EM DEFESA DO CARNAVAL E DA CULTURA POPULAR” para pautar a aprovação de uma lei que voltada para o carnaval, uma Comissão Organizadora do Carnaval Permanente e um diálogo do poder publico com a indústria do carnaval por meio de uma audiência pública e o seminário “CARNAVAL EM TERESINA: UMA AGENDA EM CONSTRUÇÃO”.
Essa defesa da cultura para Messias Júnior é resultado de um problema enfrentado pela classe que seria a transferência de responsabilidade da estrutura da festa carnavalesca para os Blocos. Os custos que uma festa de grande porte possui são tão altos que o valor do edital municipal não consegue custear, às vezes nem a metade do que foi investido, por isso Teresina presencia o anúncio do fim de blocos tradicionais como o Sanatório Geral. Apesar das dificuldades o produtor conta que o Paçoca insistirá em continuar brincando, porém de maneira mais restrita, pois para atender grandes públicos é preciso grandes investimentos.
“O ano de 2023 promete ser o ano da reconstrução de nossa cidadania e de nossa cultura. Aposto nisso. Trabalhamos para fazer o melhor carnaval de Teresina, não necessariamente em quantidade, mas em qualidade. No resgate da tradicional festa carnavalesca. Só uma banda musical tocando em cima de palco e tocando música carnavalesca sem um desfile, sem músicas autorais, sem o povo fantasiado não é carnaval. Isso qualquer empresa privada faz.”
Para Messias Júnior, a responsabilidade do poder público é manter a tradição carnavalesca e investir na indústria do carnaval com objetivo de valorizar a cultura e o sentimento de pertencimento da cidade.
E quanto mais valorizarmos e entendermos que a cultura movimenta a economia, interfere em todas as áreas da humanidade, mais fortaleceremos os grupos que constroem a cena artística piauiense. Pois só podemos defender aquilo que conhecemos e que vivenciamos. Por isso, todos estão convidados para conhecer os blocos do carnaval espalhados pela cidade.