Chegaram as eleições. E pronto. Começam as análises. Quem tem mais chances de ganhar. Candidaturas discutindo quais os melhores caminhos. Que abordagens adotar para conquistar mais votos. Quais os desafios para não ser “comido” por nenhuma porca.
Nessas análises, é muito comum tentar identificar quais são os votos críticos. Para a presidência, já ouvi falar, por exemplo, que o “voto evangélico” e o “voto feminino” podem ser os mais decisivos para o cenário atual.
O que isso significa? Que determinados segmentos da sociedade podem, em sua maioria, votar seguindo uma tendência. Então, tentar conquistar esses votos, sabendo das necessidades, interesses e características desse público pode ser a chave para ganhar uma eleição.
Existe o “voto da segurança pública”, o “voto da saúde”, o “voto LGBTQIAPN+”, o “voto do Nordeste” e por aí vai. Então, comecei a me perguntar: “existe o ‘voto da cultura’?” A parcela da sociedade que trabalha com cultura e o público que tem alto engajamento com as pautas culturais votam de acordo com seus interesses, ou seja, em candidaturas que tragam propostas de melhorias para essa área?
E mais uma pergunta pipocou na minha cabeça: certo, considerando que exista esse “voto da cultura”, ele é decisivo para as eleições? A maioria das candidaturas consideraria interessante ter esse voto como um fator decisivo para o resultado final?
Eu sonho muito que um dia as respostas para essas duas perguntas sejam sim. Se as pautas da cultura não são sequer discutidas, mencionadas nas eleições, o que esperar em termos de ações concretas, políticas públicas eficientes nas gestões e atuações das pessoas eleitas?
Assisti a um debate para o governo estadual do Piauí e a palavra “cultura” não foi citada (pelo menos não percebi) nem uma vezinha sequer. Nadica de nada. Neca de pitibiriba. Entendam, não é que o tema não tenha sido abordado com a profundidade que deveria, ele simplesmente não foi nem citado. Nenhuma vez. Nem por candidaturas de esquerda, ou de direita, ou de centro, ou de centrinho, ou de centrão, ou à frente, ou atrás.
Por que isso acontece? A resposta, na minha opinião, é simples: a população não cobra essas propostas e posicionamentos sobre cultura de quem está concorrendo às eleições. E sinto que nem mesmo quem trabalha com cultura exige isso ou vota em quem tem essas pautas como prioridades.
Exemplo disso foi o resultado das eleições municipais de Teresina em 2020. Houve um grande número de candidaturas para a Câmara Municipal que tinham como pauta principal, ou uma das principais, a cultura, e nenhuma delas conseguiu ser vitoriosa ou ter uma votação expressiva.
Já falei em outros textos, mas reitero: na minha opinião, eleições não são apenas para escolher quem vai ser eleito. São oportunidades únicas de se discutir caminhos, possibilidades, amadurecer ideias, refletir sobre o futuro que queremos e como queremos.
Infelizmente, a cultura sempre fica escanteada, sendo que é uma área que tem enorme importância, se relaciona e traz resultados para várias outras áreas, como educação, economia, segurança pública, saúde, turismo.
Sonho muito com o dia em que o “voto da cultura” exista de fato, que esta pauta seja vista como relevante o suficiente para conseguir eleger mais representantes que vão levar ela a sério, que seja comum qualquer eleitor exigir de seus candidatos posições, propostas para a cultura, e que as respostas afetem sua decisão de voto.
No mundo, existem vários exemplos de como a cultura transformou cidades e países radicalmente, de modo muito concreto e prático: gerando renda e emprego. O setor da cultura, vale lembrar, é um setor da economia, da economia criativa. Gera dinheiro, oportunidades, empodera todo um mercado.
E não tem ninguém neste mundo que consiga me convencer de que é possível falar do futuro e do “desenvolvimento” do Piauí sem que a gente se debruce sobre políticas públicas cada vez mais eficientes para a cultura desse Estado.
Escrito por Noé Filho.
Revisado por Paulo Narley.