O garrafeiro, por Graça Vilhena

o garrafeiro era apenas um homem

que sobrava das ruas

também sujo de terra e esquecido

como as garrafas e cacos no quintal

 

suas mãos de cuidado

tangiam aranhas, lagartixas

e vez por outra

um escorpião afiado

 

depois arrumava as garrafas

lado a lado

âmbares, azuis, verdes, transparentes,

num arco-íris pobre

 

“essas são de vinho tinto”

dizia-me ele embriagado de vazios

e as de fundo côncavo serviam

para pescar piabas no Poti

 

o mundo é duro e frágil, eu aprendia

mas nele lições pequenas eternizam

piabas prateadas nas garrafas

como rutilos presos nos cristais

 

Fonte:

Livro: Teresina, um olhar poético.

Sair da versão mobile