Hoje no #MuseusPeloPiauí vamos iniciar uma jornada pela trajetória da humanidade, viajando até o Parque Nacional da Serra da Capivara – região com vestígios do primeiro povoamento humano da América. E, se você possui curiosidade em aprender mais sobre os aspectos da vida humana em tempos passados, a Geleia te convida a conhecer o Museu do Homem Americano, instituição criada em 1990 com exposições sobre as mais de quatro décadas de pesquisas realizadas na localidade.
Niède Guidon e a Missão Franco-brasileira
Para entender sobre a composição do Museu do Homem Americano, devemos retornar à história da arqueóloga franco-brasileira Niède Guidon. Nascida em Jaú, interior de São Paulo, Niède iniciou sua vida acadêmica na Universidade de São Paulo, onde se formou em História Natural, em 1959. De lá, seguiu para a França, onde realizou especialização em Arqueologia Pré-histórica pela Universidade de Sorbonne, em Paris (1961-1962).
O primeiro contato com notícias sobre o Piauí viria logo em seguida. Um ano depois, em uma exposição sobre pinturas rupestres, organizada pela pesquisadora no Museu do Ipiranga, o então prefeito da cidade de Petrolina comentou sobre a semelhança das pinturas expostas com pinturas existentes na região de São Raimundo Nonato. Apesar desse contato, Niède só conseguiu visitar o Piauí em 1973. Impressionada com o que encontrou por aqui, convenceu as instituições de pesquisa francesas sobre a importância do que havia no Piauí, montando a primeira missão científica com destino à Serra da Capivara.
Os resultados da missão são tão positivos e impactantes que, em 1977, a França criou uma missão permanente, como as que já mantinha no Egito, Peru, México e Grécia. Em 1978, criou-se o Projeto Piauí, projeto interdisciplinar, cujo tema de pesquisa definido foi: “A interação Homem-Meio, da Pré-história aos dias atuais, no Sudeste do Piauí”. Os pesquisadores continuaram a descobrir diversos vestígios importantes, solicitando, em 1979, a criação do Parque Nacional Serra da Capivara, que foi efetivada no dia 05 de junho do mesmo ano.
Parque Nacional Serra da Capivara
Criado através do decreto de nº 83.548, emitido pela Presidência da República em 5 de junho de 1979, o Parque Nacional Serra da Capivara ocupa 130 mil ha e está situado no SE do Piauí, na região Nordeste do Brasil. Em 1991, doze anos após sua criação, o Parque foi inscrito pela Unesco na lista de Patrimônio Mundial pela importância dos seus sítios arqueológicos. Até o ano de 2018, foram registrados mais de mil sítios com pinturas e gravuras rupestres pré-históricas, indicando uma das maiores concentrações de sítios pré-históricos do mundo por quilômetro quadrado.
O maior atrativo cultural do Parque são exatamente esses registros pintados ou gravados sobre as paredes e os afloramentos rochosos. Consideradas como formas gráficas de comunicação utilizadas pelos grupos pré-históricos que habitaram a região, abordam uma grande variedade de formas, cores e temas. Segundo as pesquisas, a região foi ocupada de maneira contínua por caçadores-coletores e agricultores-ceramistas até a chegada de colonizadores. Foram registrados abrigos sob rocha pintados com cenas de caça, sexo, guerra e diversos aspectos da vida cotidiana e do universo simbólico dos seus autores.
Além da grande riqueza de sítios arqueológicos, o Parque se configura como um lugar de uma paisagem deslumbrante, composta por características morfoclimáticas da Caatinga e do Cerrado. A vegetação densa convive com canyons gigantescos, ilhas de florestas, morros de mármore cinza e negro, além de lagoas e fontes naturais.
A formação que mais impressiona é a Pedra Furada, uma abertura de 15 metros de diâmetro num paredão com mais de 60 metros de altura, o cartão-postal do Parque. A fauna e a flora são ricas e representativas da região. Jaguatiricas, tatus, mocós, seriemas, onças, gatos-do-mato, serpentes e morcegos convivem com mandacarus, xique-xiques, juazeiros e aroeiras. E, claro, você enquanto turista pode conhecer boa parte dessas belezas naturais por meio das trilhas abertas ao público com visita guiada. São passeios dinâmicos e divertidos dos mais diversos graus de dificuldade para todos os gostos.
Fundação Museu do Homem Americano – FUMDHAM
A Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM) foi criada em 1986 pelos pesquisadores da cooperação científica binacional (França-Brasil), em São Raimundo Nonato. Trata-se de uma entidade científica, filantrópica, sociedade civil, sem fins lucrativos, declarada de utilidade pública estadual e federal e cadastrada no Conselho Nacional de Assistência Social. Uma das principais metas da FUMDHAM era ter um lugar especialmente construído para abrigar os resultados das pesquisas arqueológicas na região do Parque Nacional Serra da Capivara.
No final dos anos 80 foi dado o primeiro passo no processo que levaria à inauguração do Museu do Homem Americano anos depois, em 1998.
A sede do Museu
No final dos anos 80, a FUMDHAM abriu propostas para análise do projeto arquitetônico e, das várias propostas recebidas, a escolhida incluía mais de um prédio. Todos interligados por passarelas que também serviriam de mirantes.
Na época, o Brasil passava por uma grave crise econômica e as verbas necessárias para a construção foram liberadas com atraso. Dessa forma, com os recursos recebidos, só foi possível construir um prédio nos moldes previstos no projeto inicial. Inclusive, as colunas que foram projetadas para sustentar as passarelas desse projeto ainda existem e já fazem parte da imagem do Museu do Homem Americano nos dias atuais.
O prédio foi totalmente finalizado em 1994 e hoje acolhe a exposição permanente.
Acervo do Museu do Homem Americano
Para buscar saber como viviam as civilizações pré-históricas, os arqueólogos estudam os seus vestígios materiais e relacionam as informações obtidas para, pouco a pouco, identificar os contextos culturais. A exposição permanente se inicia com uma visão da evolução dos hominídeos e a apresentação das teorias de povoamento da América, seguida da vida do Homo sapiens na região durante o Pleistoceno e o Holoceno.
Continuando o percurso, o visitante conhece a história da escavação arqueológica do sítio do Boqueirão da Pedra Furada, que demonstrou a presença humana na região desde o Pleistoceno. No mezanino, estão expostos instrumentos pré-históricos, urnas funerárias e esqueletos. Nas últimas salas, são apresentados os ossos, as imagens desenhadas e a descrição da megafauna que viveu na região. A exposição se encerra com amostras da biodiversidade atual.
Pesquisas e projetos desenvolvidos pela FUMDHAM
A Fumdham integra o Instituto de Arqueologia, Paleontologia e Ambiente do Semiárido do Nordeste do Brasil – (INCT/CNPq/Inapas) que desenvolve pesquisas nas áreas de Arqueologia, Registros Rupestres, Bioarqueologia e Paleontologia em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Universidade Regional do Cariri (Urca). A Fumdham conta ainda com o apoio do governo francês, que financia pesquisas arqueológicas na Serra da Capivara por meio da Missão Arqueológica Francesa do Piauí através de missões anuais. Essas pesquisas trazem desenvolvimento para a região e contribuem para a geração de conhecimentos.
Os projetos socioculturais desenvolvidos pela Fumdham buscam a integração da população local com o patrimônio cultural e natural, priorizando a autossustentabilidade com o objetivo de transformar gradualmente a vida das comunidades. O projeto da Oficina de Cerâmica Serra da Capivara é um dos projetos desenvolvidos mais conhecidos.
Funcionamento do Museu
Quarta a domingo: 13h às 19h
Fechamento da bilheteria às 18h
Venda antecipada de ingressos somente na recepção do Museu do Homem Americano
Limitação de 200 visitantes por dia
Valores:
R$20,00 entrada inteira.
R$10,00 meia entrada, mediante apresentação da carteira de estudante
Endereço
R. João Ferreira dos Santos, São Raimundo Nonato – PI
Redes Sociais
https://www.instagram.com/museudohomemamericano/
Fontes: FUMDHAM / IPHAN