Tudo principia na própria pessoa
Vitorino Rodrigues é ator e profissional das letras; no Teatro tem lembranças de um inicial movimento desde a década de 90; com a literatura, as letras e a palavra, registro de uma “institucionalidade” em meados dos anos 80, mas com a filosofia a imaginação e a fantasia, desde que o corpo ainda menino caminhava pelos campos rodeados de verde, na infância quando ainda vivia afastado da cidade.
É sobre esse ponto que nossa conversa inicia, na realidade já iniciada há tempos, é sobre as referências que Vitorino traz da sua infância e que de alguma forma “justifica” a potência e cuidado com o qual faz seu trabalho hoje enquanto ator, seu compromisso com o teatro e com a palavra e sua imensa capacidade imaginativa.
É que na infância, nesse terreno fértil de imagens, com esse corpo que toca e é tocado por qualquer e muita coisa, é possível capturar olhares, sons e movimentos que vão nos guiando e abrindo espaços que se tornam nossos abrigos, mesmo na fase adulta. O corpo é um só ele só vai se preenchendo de mundo.
Vitorino aos 06 anos de idade muda-se para viver com parte da família na capital, Teresina, tem lembranças de sentir o impacto da cidade no corpo, pois a premissa da mudança estava agarrada à ideia de focar unicamente nos seus estudos, neste novo lugar as ruas e as cores ganhavam outras texturas e impressões, nesse período não tinha tanto mais a liberdade que o mato proporcionava, e suas histórias eram criadas para dentro; talvez por essa razão, ao pensar sobre o que lhe mobiliza no teatro, Vitorino indica essa vontade de extravasar, de expurgar os demônios e as santidades das ficções que lhe habitam. Porque o Teatro surge como algo que tinha que acontecer.
Sempre gostou muito de criar histórias, a princípio não na escrita, não na palavra, mas no pensamento.
Tem sempre algo que precede a palavra, a esta coisa, chamamos de imaginação, como imagem em ação mesmo, não à toa, imagem em cena também cabem nesse pensamento; talvez por essa capacidade imaginativa, Vitorino viu seu caminho cruzar com o Teatro quase como se fosse regra, partindo de uma obstinação a principio tímida, mas cheia de vontade. E assim, quando pensa suas histórias para o Teatro já concebia o movimento, o olhar, o cenário, o fantástico.
Como na primeira vez que buscou contato com essa arte, o Teatro, mas antes de falar com aquele que parecia ser a ponte, desistiu, voltou, esperou pra que se achasse tempo melhor.
O tempo melhor veio, seu primeiro trabalho foi em Barrela; Vitorino conta que nas construções para este trabalho, texto de Plinio Marcos e direção de Adalmir Miranda, seu mecanismo era, assim como na infância, caminhar pelas ruas de Teresina e pensar nos trajetos da própria história, no personagem “Portuga”. Caminhava também para trazer a palavra ao corpo, pois precisava chegar numa sinuosidade da fala da personagem, e assim criou-se curvas no texto para organizar ele na boca. Conta também da experiência de insistir neste trabalho que durou 02 anos até sua estreia, pois sentia que aquele era um trabalho importante a ser feito, como um trabalho que fosse lhe parir, lhe confirmar no ofício. Vitorino é um homem do Teatro.
Um de seus mecanismos enquanto ator é deslocar o dizer do lugar, da geografia mesmo, falar palavras que não cabem dentro de espaços, ou que não são comuns por lá, desacostumar o corpo e o lugar da palavra.
Também conta que um de seus motivos ao trabalhar com alguém se dá no desejo quase antropofágico de aprender da pessoa; não à toa relata que uma de suas experiências estéticas mais marcantes na época em que pensava a recepção no lugar de plateia, foi ver um espetáculo também dirigido por Adalmir Miranda, chamado Álvaro de Campos em pessoa; esse trabalho mesclava duas paixões de Vitorino, o Teatro e a poesia. É, Vitorino também é um homem de palavra.
E a Palavra é um grande trunfo também para este ator e professor; é que a palavra para Vitorino, acontece como fundamento, é sempre uma coisa a ser comunicada, falada, jogada no mundo. As histórias que seguiam à medida em que Vitorino adquiria outras vistas, à medida em que ia crescendo, aparentemente, de forma poética foram gravando dentro de si as trilhas dos desejos até que fossem expostas, saíssem de dentro pra fora; “tudo era apenas uma brincadeira, e foi crescendo, crescendo” … assim eram as histórias que Vitorino imaginava quando criança, foram aparecendo nas palavras, se materializando na cena e retornando à ele no corpo dele, que é ator. Tudo principia na própria pessoa e é pra onde tudo volta também.
CRONOLOGIA DOS ESPETÁCULOS
1996: BARRELA
Grupo Corpos Teatro Independente
Texto de Plínio Marcos
Direção de Adalmir Miranda
Função: ator
1998: MARCADAS PELA CULPA
Grupo: OX17
Texto de Isis Baião e adaptação de Adalmir Miranda
Direção de Adalmir Miranda
Função: ator
1998: PROJETO TEATRO PARA VESTIBULAR
Grupo: Alla Teatro e Dança
OBRAS: O tempo consequente, de H. Dobal; A jangada de pedra, de José Saramago; Lírica de Camões, de Luiz Vaz de Camões; Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa; e Ataliba – o vaqueiro, de Francisco Gil Castelo Branco.
Função: adaptação e ator
Direção: Ruidgland Barros
2000: PROJETO TEATRO PARA VESTIBULAR
Grupo: Alla Teatro e Dança
Obra: Um manicaca, de Abdias Neves
Função: adaptação, direção e ator
2001: PROJETO TEATRO PARA VESTIBULAR
Grupo: Alla Teatro e Dança
Obra: O alienista, de Machado de Assis
Função: adaptação
Direção: Ruidgland Barros
2002: DONA BRUXA FAZ A FESTA
Grupo: Alla Teatro e Dança
Texto e direção: Ruidgland Barros
Função: ator e assistente de direção
2005: UM BRASILEIRO NO CÉU
Grupo: Proposta de Teatro
Texto: Carlos B. Filho
Direção: Roger Ribeiro
Função: ator
2005: CIRCO DESMONTADO
Grupo: Personas de Teatro
Texto: Raimundo Dias
Direção: Roger Ribeiro
Função: ator
2008: 17 MINUTOS ANTES DE VOCÊ
Grupo: Truá Cia de Espetáculos
Direção: Eraldo Maia e Elielson Pacheco
Função: ator
2010: A CIDADE SUBSTITUÍDA
Grupo: Indigentes de Teatro
Texto: H. Dobal
Função: Direção
2010: O DIÁRIO DA BRUXA
Grupo: Proposta de Teatro
Direção: Roger Ribeiro
Função: ator e autor
2010: SOL SANGUÍNEO
Grupo: Indigentes de Teatro
Direção: Maneco Nascimento
Função: ator
2012: CIDADE ELÉTRICA e CASA NOTURNA
Grupo: All Street Songs
Direção: Márcio Felipe Gomes e Laura Alexandre
Função: ator
2013: BOA NOITE CINDERELA
Grupo: Cia de Dança e Teatro Conexão Street
Funções: autor, diretor e ator
2014: GELEIA GERAL
Grupo: Cia de Dança e Teatro Conexão Street
Funções: autor, diretor e ator
2015: QUANDO O AMOR É ASSIM E NÃO ASSADO
Grupo: Humanitas de Teatro
Direção: Júnior Marks
Função: operação de luz
2015: ESCOLA DE MONSTROS
Grupo: Cia de Dança e Teatro Conexão Street
Direção: Márcio Felipe Gomes
Função: coautor e ator
2016: AS SETE IRMÃS
Grupo: Humanitas de Teatro
Direção: Júnior Marks
Função: ator
2017: DEPOIS DO FIM
Grupo: Truá Cia de Espetáculos
Direção: Silmara Silva
Função: autor e ator
2018: NOITE NUA DE ESTRELAS
Grupo: Coletivo (In)comum
Direção: Diomar Nascimento
Função: autor
2020: O QUE TE ESCREVO É PURO CORPO INTEIRO (VIRTUAL)
Grupo: Truá Cia de Espetáculos
Direção: Wellington Júnior
Texto: Nathan Sousa
Função: ator
2021: O QUE TE ESCREVO É PURO CORPO INTEIRO (PRESENCIALL)
Grupo: Truá Cia de Espetáculos
Direção: Wellington Júnior
Texto: Nathan Sousa
Função: ator
2021: SEM HORA
Texto, atuação e direção: Lucas Abá
Função: operação de som