Qual a ligação da música experimental com pessoas trans?

Artistas trans desse estilo musical vem chamando a atenção do público por entregar algo diferente nos demais gêneros musicais

A música experimental é uma mistura de instrumentos pouco conhecidos, modificados ou utilizados de maneiras ousadas. Aliás, é difícil conceituar o que é esse estilo por mesclar os diferentes gêneros musicais. O experimental desafia o conceito da sociedade sobre como deveria ser uma música, uma tarefa nada fácil para quem não é habituado a ouvir ruídos ou batuques intensos e deseja apreciar esse estilo, por isso, nomes como Bjork, Grimes, Charli XCX e Shygirl combinam o experimental com pop conseguindo agradar mais seus ouvintes. Quando nos aprofundamos neste universo experimental, existe uma ascensão de artistas trans se destacando no cenário.

Arca, a intitulada “diva experimental”, nascida em Caracas, Venezuela, estudou música na Universidade de Nova Iorque, lançando seu primeiro álbum em 2014, Xen. Posteriormente, fez amizade com Bjork, referência no gênero experimental, o que rendeu várias parcerias. Até que em 2017, produziu o décimo álbum da cantora islandesa, Utopia, o que consolidou a carreira de Alejandra Ghersi (Arca) como produtora musical e trabalhando com outros nomes importantes na música mundial, a de exemplo Kanye West, Frank Ocean, FKA Twigs e Rosalía.

Mas recentemente vem ganhando fama pelo seu trabalho misturando ritmos da música clássica, reggaeton, pop e eletrônica em seus recentes álbuns os “Kick ii; iii; iiii, iiiii”. Mencionando um pouco da vida pessoal de Arca, definiu-se como não-binária em 2018, em seguida acrescentou que também se identifica como uma mulher trans. Assim como toda Diva, é repleta de fãs LGBTQIA + e a artista reconhece o carinho de seus “mutantes”, nome dado a ela mesma aos seus seguidores com páginas de memes relacionados a tudo que remete a Arca.

Sophie foi DJ, cantora e produtora musical, tendo colaborações com Camila Cabello,  Kim Petras, Lady Gaga e Madonna. A artista sempre esteve presente no mundo underground desafiando o meio mainstream musical, foi considerada pioneira do gênero hyperpop, atualmente dominado pela Geração Z. Sua música experimental levou a uma indicação de melhor álbum de dance/eletrônica no  Grammy Awards 2019, “Oil of Every Pearl’s Un-Insides”, considerada a primeira pessoa trans a ter uma indicação na maior premiação da música. “Ser trans é algo que está ganhando força e é para colocar seu corpo mais em linha com sua alma e espírito para que os dois não lutem um contra o outro e lutem para sobreviver”, relata a artista em uma entrevista. Infelizmente, Sophie morreu aos 34 anos em janeiro de 2021 na capital da Grécia onde morava, vítima de uma acidente doméstico.

Dreamcrusher reside no Brooklyn, Nova York, intitulado como “niilista queer revolt musik”. O trabalho delu tem sido discutido em artigos acadêmicos nos campos da musicologia pela ressignificação da sonoridade, causando sensações tormentosas pela batida intensa e agudos inesperados. Suas performances como DJ em casas noturnas dos Estados Unidos, Canadá e Europa dão um mixer de explorações em cada sentido do seu corpo, da euforia até a dor nos ouvidos. Eu me pergunto como que elu ainda possui uma audição intacta após tantas produções musicais e shows. Mas sem dúvidas, todo esse tormento eletrônico é o que diferencia Dreamcrusher dos demais artistas do segmento.

Dorian Electra é cantor e compositor norte-americano, iniciou sua carreira na música em 2012, mas seu reconhecimento artístico só veio após de assumir ser uma pessoa de gênero fluido nos meados de 2016 e 2017. Desde então, Dorian vem reinventando seu estilo musical, o pop, hyperpop até chegar ao experimental. Algumas letras de suas músicas são regadas de questionamento ao gênero social das pessoas, elu traz isso no álbum “My Agenda” de 2020, com clipes e shows rompendo essa barreira da binariedade com looks extravagantes, maquiagem e salto alto enquanto usa um bigode atendendo com pronomes ele/dele/elu/delu.

O gênero experimental não fica apenas fora do país, aqui mesmo no Piauí, Deni A, uma pessoa trans neutre não binárie, natural de Cocal, cidade ao norte do estado, possui 23 anos e 3 de carreira, ela explora esse mundo experimental para descobrir novos sons, acordes e letras. “ Eu posso ir além do que me encaixo, criar arranjos e sonoridades a partir de conversas, sentimentos, sonhos e transformar em algo novo e desafiador, ainda sem parecer mais do mesmo é o que me motiva a expressar as variadas experiências boas e ruins que tenho nessa vida!”, afirma a artista.

Deni A almeja um edital que ajuda artistas independentes a iniciarem seus projetos e conta com a ajuda de bastante divulgação e apoio para seus trabalhos. Ademais, lançará em breve a segunda parte do seu EP 13 noites, com algumas parcerias de nomes já conhecidos na cena artística do Piauí. Para ficar ligade em seus lançamentos siga a artista no youtube.

Falou, falou, falou, mas onde está a ligação da música experimental com pessoas trans?

A questão social da marginalização e espaços mainstreans que são negados a sigla “T” acabam se encontrando em movimentos de contracultura, em outras palavras, o fato do mainstream dispensar grupos minoritários faz com que as pessoas procurem ou criem um estilo que manifeste liberdade em suas expressões sem julgamento. Diante disso, percebe-se um grande número de pessoas LGBTQIA+ ocupando esses espaços experimentais, e principalmente pessoas trans no mundo da produção musical tornando-se referência mundialmente. Nada mais normal que um gênero musical tão diferente acolha a arte que não agrada à perspectiva do público geral. Além disso, ser trans e tentar seguir padrão é um atentado para com a sua própria existência.

 

 

 

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