Nos dias 17, 18 e 19 de Dezembro, aconteceu no Teatro Torquato Neto o Espetáculo Sem Hora, espetáculo dirigido e atuado por Lucas Abá, sim, sou eu.
E peço licença para escrever estas palavras, e estas e mais estas, para compartilhar com vocês que chegaram por aqui, um pouco dos movimentos necessários previamente para que esse acontecimento começasse a se materializar, mas antes de tudo falar sobre pontos que são nossos.
O enredo da Peça ambienta um homem no quintal de sua casa, ele está lá porque há rumores de que o mundo está prestes a acabar de fato, já há data para isso, e ele, talvez por pouca destreza em descobrir qual seu real desejo diante desse dia fatídico, decide esperar o fim do mundo ali no quintal.
Sem Hora faz alusão à uma entidade que pesa sobre nós, o Tempo, percebido no intervalo de nascimentos e mortes, de mocidades e velhices, e também percebido nas coisas do dia-a-dia, nesse movimento espiral divino que nos mobiliza.
Esse Tempo, enquanto uma divindade que nos organiza nesse plano se tornou ponto de interesse para mim, justamente por ser irrealizável, como já dizia Dona Simone, por conter as informações das coisas que nos aconteceram, que nos acontecem e que irão acontecer, e acreditem, tudo isto é num tempo só.
Aos poucos, com a passagem do Tempo, percebi que são nas memórias que acontecemos permanentemente, é como se as memórias fossem algo tão pequeno que coubessem no vazio dos átomos, onde estão todas as coisas e é onde está Deus também, nesse sentido as memórias são uma realidade, elas acontecem.
Estas Memórias, ainda com um pouco mais de caminhada e encontros, fui percebendo, são imagens, e aqui imagens não no sentido do que se vê somente, imagens como coisas de comer, de ouvir, de tocar. As pessoas, quando compartilham memórias, estão compartilhando imagens, estão falando sobre seus Tempos.
E todas estas coisas incidindo nesse espectro, nesse lugar aqui que chamamos de Corpo. É sobre o corpo onde o tempo dança, é no corpo onde as memórias encontram oxigênio e é no corpo que a imagem se realiza.
Dada todas estas provocações a respeito do Tempo, da Memória e da Imagem, juntas pensadas à partir do corpo e seus afetos, é que pensei na composição de “Sem Hora”, com uma dramaturgia que foi possível à partir do contato com memórias que são minhas porque foram transportadas de um olhar para o meu, de um corpo para o meu, mas que eu não necessariamente vivi; digo de memórias do cotidiano, dessas imagens que capturamos assim, numa conversa banal dos dias, com alguém do nosso convívio, ou não.
Pensar quais são as imagens do nosso cotidiano, quais imagens nós compartilhamos por habitarmos no mesmo lugar, vermos e experimentarmos as mesmas paisagens; neste sentido, essa proposta se assenta neste lugar de pensar o Piauí, o Maranhão e suas imagens presentes nas nossas falas, nas cores, nas histórias que contamos e nos movimentos que compartilhamos.
A dramaturgia do Espetáculo aglutina imagens e desejos que geralmente aparecem por que quando as pessoas param para falar das coisas que viveram, elas estão falando de Memória, é claro, e estas memórias tem cheiros, tem texturas e gostos e isso só um Corpo é capaz de apreender.
Para tentar de alguma forma me aproximar num grau poético das realidades que são estas memórias, optei por uma escrita que contemplasse a poesia na sua estrutura, justamente porque a poesia encarna nuances e metáforas que mobilizam nossa atenção para aquilo que acreditamos ser a inteireza das coisas.
Claro que o Teatro agencia todas estas coisas num espaço definido geograficamente e no campo do etéreo também, é onde a poesia se encarna, onde a experiência pode acontecer com hora marcada.
Por perceber o cotidiano tanto na prosa quanto na poesia foi possível povoar a escrita desta Obra com referências que acabam nos atravessando num dia qualquer, seja na travessia de um Rio, seja na observação de um Pé de Manga, seja na feitura e no compartilhamento do café, seja na fumaça de um cigarro que também evapora pela força do tempo.
Sem Hora é esse registro que se configura numa possibilidade de produzir teatro considerando, sua narrativa, sua dramaturgia, sua cenografia e suas imagens, partindo de referências que encontramos nos nossos quintais, à partir dos nossos afetos mais íntimos; Sem Hora é a possibilidade de falar estas palavras, de reavivar uma lembrança de cultuar o Corpo como entidade que nos localiza no mundo e que é carregada ou melhor, encharcadas de imagens, sendo que estas, neste trabalho, não são coisas só de se vê.
Espetáculo Sem Hora
Dias
17 de Dezembro às 20h
18 e 19 às 19h
Teatro Torquato Neto – Complexo Cultural do Clube dos Diários
Compras antecipadas no valor de R$25,00
Compras na bilheteria no valor de R$ 30,00
Mais informações visita lá minha IG @olucasaba
As compras dos ingressos podem ser feitas online, via PIX no número de telefone (86) 9 99287323 e também no Sympla, link a seguir: Ingressos – Sem Hora – Espetáculo Teatral Solo
Ficha Técnica
Concepção, Direção e Atuação – Lucas Abá
Iluminação – Pablo Gomes
Operação de Som – Vitorino Rodrigues
Fotografia – Max Wendell
Programação Visual – Ricardo Caldeira