Death’s Door: Os Ofícios de um Corvo Ceifador

Reprodução: Steam

Apostando no bom humor e no básico, enriquecido pelo carinho dedicado aos mínimos detalhes, Death’s Door é uma experiência interessante.

Revisão: Joana Tainá

Muitas vezes, a simplicidade é incompreendida. Na indústria de jogos, a cultura do “Hype” por jogos cada vez maiores e mais ambiciosos, deixa ao relento algumas experiências menores e menos experimentais de lado. Apesar de não ter um grande escopo, jogos menores têm a vantagem de possuir traços de originalidade, o que fisga os jogadores que os experimenta. É sobre isso que é Death’s Door: um jogo mecanicamente simples, seguindo o abecedário da construção de jogos como os Zeldas e que aposta em uma narrativa bem-humorada, bem desenvolvida e carismática.

Death’s Door é o novo jogo da desenvolvedora inglesa Acid Nerve e publicado pela já renomada publisher de jogos independentes, a Devolver Digital, e nele guiamos um corvo fofinho. Esse corvo se trata de um ceifador de almas, que trabalha em um lugar com aparência extremamente burocrática, saindo diretamente de um episódio de The Office, e que é enviado para ceifar a alma de um monstro que não se deixa levar para a morte. Após fazer isso, um outro corvo, de mais idade e experiência, avisa sobre uma conspiração envolvendo os corvos e o seu serviço. Com isso, ele pede três almas de três monstros que habitam a região, para poder abrir a porta que garante a passagem dos corvos para a execução de seu serviço, a “Death’s Door”.

Ainda que o Design segure na sua mão nesse quesito, o mundo tem seus segredos que incentivam e bonificam a exploração, seja no início, meio ou fim do jogo. É um ótimo balanceamento.

Apesar de, em um primeiro momento, o jogo passar a impressão de que os três monstros, localizados em três lugares distintos, podem ser visitados em qualquer ordem, o jogo traz uma experiência guiada, e não aberta, e põem em ordem qual deve ser visitado primeiro, e assim por diante. Isso não é algo necessariamente ruim: se os objetivos não fossem guiados, o game ganharia uma “liberdade” mas perderia o sentimento de progressão que se faz tão evidente. Ainda que o Design segure na sua mão nesse quesito, o mundo tem seus segredos que incentivam e bonificam a exploração, seja no início, meio ou fim do jogo. É um ótimo balanceamento.

Reprodução: Steam

Vendo isso, Death’s Door é um game que lembra bastante as experiências tidas ao jogar algum Zelda. Mas, além de se influenciar nessa franquia da Nintendo, o game bota o pé bem de leve na região de Dark Souls. Entretanto, a influência não é tão marcante assim quanto dizem. O game inclui em suas mecânicas a esquiva que dá uma invencibilidade momentânea, ou o famoso IFrame, que se tornou conhecida nos jogos da série Souls, e traz também momentos de batalhas rápidas e fervorosas, beneficiadas pelos reflexos do jogador, além de valorizar a morte, uma situação bem recorrente e que possui uma das telas de morte mais legais já feitas. Entretanto, apesar de os bosses serem legais e as lutas divertidas, elas não são necessariamente lutas de Dark Souls.

E, falando em chefões, é preciso deixar claro o quão belos eles são. Existe uma coesão visual belíssima no design de todos os personagens, onde o conceito das portas é enriquecido e que brilha ainda mais nas batalhas principais. Seja ao enfrentar um Castelo que anda e dispara raios lasers, ou um Sapo Gigante ou uma Bruxa Malvada, tudo é muito fofo e lembra até a arte do Studio Ghibli. As lutas podem ser complicadas, mas nada que cobre muito tempo.

Reprodução: Steam

O que é mais enriquecedor no game é a exploração, conseguir novas habilidades que permitam o jogador ir a lugares que antes não podia, descobrir entradas secretas que facilitem visitas em regiões, explorar a dungeon do chefão da região e dar voltas e voltas, e toda essa diversidade de gameplay se torna mais interessante do que as lutas principais, principalmente o último dos três chefões. Ao mais tardar e o fim do game, o jogo liga a motor e coloca alguns chefões complicados, mas apesar de serem divertidos, acaba realçando uma diferença significativa entre eles e os três bosses das regiões.

A simplicidade da história permite que ela seja contada sem rodeios, o design dos personagens tem traços muito carismáticos e os detalhes feitos com evidente carinho pelos desenvolvedores só enriquece ainda mais a experiência.

Rico em exploração e com uma narrativa bem construída, a única ambição de Death’s Door é te fazer sorrir ou te fazer surtar, e é só isso que ele precisa. A simplicidade da história permite que ela seja contada sem rodeios, o design dos personagens tem traços muito carismáticos e os detalhes feitos com evidente carinho pelos desenvolvedores só enriquece ainda mais a experiência. Explorar e lutar contra os monstros, seguido de uma belíssima e marcante trilha sonora, é algo delicioso. Esse é um jogo que sabe o que quer, sabe como prender o jogador e entende que não apenas “menos é mais”, mas também que o carinho nas pequenas coisas, as engrandece.

Reprodução: Steam
PRÓS CONTRAS
Riqueza visual Apostando na narrativa e nos personagens, perde um pouco em mecânicas.
Ótimo trabalho musical e sonoro
Exploração divertida
Narrativa engraçada e personagens carismáticos
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