O fotógrafo João Guimarães é natural de Teresina-PI, um amante de qualquer expressão artística que consiga o tocar e que o faça pensar ou repensar os seus próprios conceitos, a sua existência e o seu lugar dentro do mundo. E isso é essencial para compreender a arte desse fotografo atravessado por diversas referências artísticas. Ele já fez de tudo um pouco, inclusive já cursou Psicologia, só que sua paixão pela fotografia falou mais alto.
“Coleciono algumas histórias e tenho um apreço atípico em enxergar as pessoas do jeito que elas são de verdade. Sou dono de uma criatividade que se manifesta de um jeito troncho, mas que eu amo, isso me faz sentir criança de novo. Tatuado, com cara de mau, porém, todavia, entretanto o coração é de princesa”, brinca. Embora se divirta com as suas próprias criações, as fotografias do artista encantam o público e demonstram o seu cuidado com a representação e as memórias.
“A fotografia é minha missão de vida, é algo que eu tenho a dizer e que só é possível através dela… Eu não tenho certeza de quase nada nessa vida por que é tudo muito efêmero, mas a fotografia é uma dessas certezas, trago ela dentro do coração junto de um punhado de outras pessoas e sigo…” João Guimarães
Nome Completo: João Guimarães
Descrição: Fotógrafo
Data de Nascimento: 28/07/1991
Local de Nascimento: Teresina
Escrito por: Alisson Carvalho
Revisado por: Paulo Narley
A arte brota quando menos se espera
A espontaneidade de João Guimarães vem desde o berço, por isso a sua relação com as artes foi acontecendo sem nenhuma programação. Filho de pai militar e mãe dona de casa, criado sob proteção de uma família conservadora, ele não teve muito incentivo artístico dentro de casa. E, ainda na infância, ele descreve que vivenciou um período sem nenhum fomento às artes na sua escola, contudo tinha um estranho hábito de prestar atenção às aulas enquanto desenhava, mas o método particular foi podado por um professor insensível à particularidade do aluno. O próprio João Guimarães conta que não sabia que se tratava de um método de aprendizado chamado aprendizado sinestésico, mas que hoje compreende o quando aquilo era importante para ele. Posteriormente João conhece o teatro e a música, então a sua adolescência começa a ser recheada pelas atividades que marcariam completamente a sua vida e nesse período ele conta que arriscou cantar e explorar sutilmente o campo da fotografia.
“Quando criança era sempre o menino que gostava de mexer nas câmera e ficar vendo negativos de foto. Já mais velho gostava de fazer auto retratos e elaborava alguns conceitos sem nenhum norte técnico nem nada, mas só fui realmente levar tudo isso a sério na fase a adulta.” João Guimarães
Descobrindo a fotografia
João Guimarães já estava imerso no ambiente das artes antes mesmo de ter enveredado de vez pelos caminhos da fotografia. Segundo o artista, até os dezoito anos a sua ligação mais forte era com o teatro e música. E nesse período ele chegou a participar de um coletivo artístico no teatro João Paulo II no grande Dirceu. Além disso, João fez parte de uma banda voltada para a música autoral com mais 3 amigos. Então, em 2010, a vida de João tem uma mudança drástica: “Eu tive câncer (uma leucemia mieloide aguda) consegui fazer o tratamento e um transplante autólogo no mesmo ano e desde então minha aproximação com criações artísticas foi enfraquecendo. Tive que passar alguns anos me abstendo de atividades que envolviam grandes aglomerações (a imunidade de alguém que passa por um transplante de medula nunca mais é a mesma) e isso incluía estudar, encontrar amigos em algum lugar público, ficar em ambientes fechados e enfim, a vida precisou dar um break, ainda me atrevia a ir encontrar meus amigos de banda pra trocar um som, mas definitivamente não consegui manter essa aproximação por muito tempo.” Posteriormente, João Guimarães faz um curso de vigilante, mas ao começar trabalhar na área não se identifica com a atividade e decide ingressar no curso de Psicologia. E nessa rotina entre a graduação e o emprego, João descobriu a paixão pela fotografia e decidiu abraçar a paixão para fazer dela o seu ofício.
A sinceridade na imagem
Depois de tantas reviravoltas João Guimarães usa a rescisão do emprego para comprar a sua câmera e com o tempo ele foi aprimorando sua técnico, mas foi quando começou a trabalhar fotografando em eventos e a ser pago pelos serviços que começou ele começou a se sentir no caminho da profissionalização. Ele frisa que a profissão tem os desafios que toda profissão sem regulamentação enfrenta, pois monetizar um trabalho artístico ainda é uma ação complicada quando não há uma compreensão da importância da valorização da profissão. Além disso, como João é um fotógrafo conceitual, ele mesmo já se pegou diante do dilema de entregar um produto mais comercial ou preservar a sua identidade. Porém, a sua identidade artística pesou mais e desde então ele passou a assumir trabalhos que seguem na sua mesma linha estética. Para João Guimarães, o trabalho tem que imprimir essa verdade para que a sua criação consiga tocar outros olhares.
“Eu sou holístico! não me fragmento de minhas vivências, tudo que que vivi, de bom e de ruim, sou eu hoje.” João Guimarães
Uma busca constante pelo aperfeiçoamento
A trajetória de João Guimarães é marcada por muitos eventos, dentre eles a classificação na Copa Mundial de Fotografia na categoria Retratos. Esse evento foi um dos marcos que ajudou o fotógrafo a legitimar o próprio trabalho, pois foi um momento no qual ele competiu com artistas de vários lugares, inclusive no mesmo concurso que grandes retratistas conhecidos a nível nacional como o fotógrafo Junior Luz. Para João, ter conseguido esse concurso tem um sabor bem especial, pois foi quando seu trabalho foi avaliado junto com o trabalho de outros profissionais de outros países. Contudo ele frisa que a busca pelo aperfeiçoamento é constante e vai acompanhá-lo pelo resto da vida. “A minha experiência atual com auto retratos tem me dado um retorno muito gratificante, as pessoas tem me mostrado o quanto eu evoluí a nível narrativo e técnico, mas estou bem longe de estar pelo menos perto de onde eu quero.”
A criatividade caótica nas imagens
João Guimarães tem um processo criativo bem espontâneo e, segundo o fotógrafo, é algo sem coesão. Ele prefere ir deixando a sua inspiração ir guiando e, dessa forma, o processo é que vai definindo como será o trabalho final. João acaba falando também sobre a leitura do público que muitas vezes se distancia da sua proposta e isso engrandece a obra de arte, pois permitem múltiplas interpretações. Com isso, diante da apropriação do espectador, ele prefere que a obra saia em forma de catarse. “Eu amo muito essa criatividade caos, ela me faz sentir quando eu era um menino que brincava sem preocupação com nada na vida, sem cobranças e sem peso.” Atualmente, durante a pandemia, o fotógrafo conta que resolveu tirar da gaveta os seus trabalhos autorais, mas que modificou as suas ideias, pois eram pensadas para serem construídas com modelos, entretanto ele só podia contar com ele mesmo e assim saiu a sua última série. João Guimarães transforma muitos dos seus próprios traumas na sua arte, outras vezes ele tenta mexer nessas feridas alheias, além de tentar materializar por meio das fotografias muitas músicas que pairam em sua mente, transformando essas canções em releituras visuais.
“Descobri que não posso deixar de mostrar como eu sou de verdade pros outros, eu sempre fui muito ouvinte e a fotografia tem me dado voz pra ser interlocutor agora e me fascina ter uma conversa ao pé d’ouvido com muita gente ao mesmo tempo sem eu precisar dar um piu, hahaha.” João Guimarães
Um artista em constante transformação
João Guimarães fez da fotografia uma missão de vida e diante de um mundo cujas certezas se esvaem, ele resolveu tratar esse universo como um lugar cujas certezas se concretizam e que vão aos poucos se construindo. Por enquanto João segue sem se preocupar muito em responder algumas dessas perguntas, mas transformando esse campo dúbio em material para também extrair a sua arte. Ele vai tirando todas as inspirações das coisas eu consome como os filmes, arte clássica, série, livros, viagens, andar sem rumo no meio do mundo, os dias de chuva, alguns fotógrafos, afetos, questões sociais, traumas, conquistas, o cheiro do café e o próprio nada se torna fonte para divagações que alimentarão a sua criatividade. João Guimarães demonstra em tons azulados um ser holístico e ele frisa que não é fragmentos, mas uma complexidade de elementos costurado pelo próprio tempo.
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Fotos
Última atualização: 06/07/2020
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