Artigo escrito por Akemi Morais
RELEASE “Quarto e crise”, 2019. Akemi Morais.
Essa obra transformou-se na terceira parte de uma série de representações do meu quarto, em conjunto com “Quarto em Teresina #2” e “A morte de Akemi”. Não foi planejado mas acabou virando uma narrativa, entretanto não a limito com um começo, um meio e um fim. Assim como essas obras anteriores “Quarto e crise” retrata um momento do meu ser e do ambiente palco de todas essas nuances de mim. Dessa vez não quero me ater aos detalhes da pintura, quero deixar essa narrativa acidental à novas possibilidades de interpretação e desfechos ou ramificações.
RELEASE “QUARTO EM TERESINA #2”, 2018. Akemi Morais.
Como inspiração para a construção de minha obra escolhi o pintor Vincent Van Gogh (1853-1890), por admiração e certo fascínio que sinto há anos por todo o seu trabalho e sensibilidade à sua trajetória de vida. Fiz uma releitura da obra “Quarto em Arles” (1888-1889) e trouxe para minha realidade, a ambientação da obra de Vincent é o seu quarto em Arles no sul da França, na minha pintura intitulada “Quarto em Teresina #2” retrato o meu quarto no pequeno apartamento onde vivo na cidade de Teresina. Tentei uma pintura que lembrasse a forma como Vincent pintava suas obras, com pinceladas fortes, uma paleta de cores que o azul e o amarelo quase sempre estavam presentes, e um contorno colorido em elementos da composição. Tive inspiração em outro quadro, “Noite estrelada” (1889), me utilizei das ondulações e adaptando também à minha realidade, retratei o calor, o sol e o dia da cidade onde vivo. O elemento que se olha no espelho e parece não existir, pois apenas o reflexo aparece, é algo mais intimista, que até intitulei de “the dead me”, onde procuro expressar alguns sentimentos que me recorrem. Outros elementos de minha composição que remetem o calor da cidade de Teresina são o ventilador e a rede e a janela aberta. A pintura “Quarto em Teresina #2” é a segunda que faço com a mesma temática e ambientação.
RELEASE “A morte de Akemi”, 2018. Akemi Morais.
Com inspirações nos quadros “A morte de Marat”, de Jacques-Louis David e “Quarto em Arles” de Vincent Van Gogh, me aproprio e trago para minha realidade a ideia de ambientação do quarto e uma figura humana morta com um escrito em mãos que parece importante. Na obra “A morte de Akemi” retrato o ápice da minha exaustão enquanto um ser existente no palco de todo o meu cansaço, solidão e tristeza, meu quarto. O gatilho para esta produção se deu quando percebi que minha vida acadêmica estava matando a arte em mim e desesperadamente anulei essa morte representando-a numa pintura. A figura “meu eu morto” aparece novamente, dessa vez, na janela observando o que acontece no quarto. A garrafa de vinho a derramar no chão representa o escape que encontrei para adormecer o sofrimento da minha mente, mas esse anestésico nunca tem efeito permanente, então, a figura que me representa aparece plena, deitada na rede, depois de tanta exaustão aquela figura encontra paz.
Obras expostas na “Exposição Narrativas” que aconteceu em 2019 na Galeria Louvre Tattoo.