A poética da periferia na voz do Narcoliricista

Foto: Korina (@korinarodrs)

João Victor Carvalho é artista, rapper e pessoalmente envolvido com a militância negra. Ele é natural de  Teresina/PI, nasceu e cresceu na R21 (Zona Sul da capital) onde acumulou muitas vivências e desde cedo se envolveu com o Hip Hop. Depois de atuar na Narco Rap por 4 anos, o último trabalho intitulado OMUP – Oscilações Mentais de um Preto, consolidou sua carreira solo surpreendendo na produção musical da QuilomboLoucoBeats e na qualidade da música, aliada à art/capa e Animação de artistas piauienses. Participa do coletivo NarcoCrew que também já vem fazendo vários projetos na quebrada como: Hip Hop Salva, Vandal Art, no qual a proposta é aproximar as quebradas, as periferias, da vontade de se envolver com arte, com a cultura hip hop em si, seja no graffiti, breaking, MC ou DJ. Atualmente Slammer, sendo vencedor do 3° Slam Biqueira – Sesc Caixeiral, lecionou oficina de Slam em 2019 e foi jurado na edição do ano seguinte. Entre os sucessos do OMUP destaca-se a música Intro(Ruptura) que chegou até a final do 25° Chapadão.

Foto: Korina / Arte: Herick Felipe

“A música é uma válvula de escape, é uma ponte.” João Victor

Nome Completo: João Victor Carvalho

Descrição: MC, produtor e compositor

Data de Nascimento: 05/08/2000

Local de Nascimento: Teresina-PI

Escrito por: Alisson Carvalho
Revisado por: Paulo Narley 

Foto: Korina / Arte: Herick Felipe

Uma paixão que veio do berço

João Victor, mais conhecido como Jão, conheceu o hip hop bem cedo e por influência familiar, pois ele assistiu muitas vezes aos shows dos cantores de hip hop norte americanos por influência da sua tia, mas sem tem ainda compreensão do universo audiovisual que era exposto por meio dos vídeos. Fora isso o seu pai também participou de uma banda. Além disso, João conta que e existia uma identificação com aqueles artistas até na própria cor da pele, mas todo esse encantamento ficou adormecido. No berço familiar ele também sempre que podia consumia as músicas do reggae por influência materna e todas essas referências foram guiando João para o ambiente das artes. Com o tempo o artista conheceu uma galera que era envolvida com o grupo de dança da igreja que dançava Break foi a partir disso que João Victor entrou em contato com a Cultura Hip Hop.

Foto: Korina / Arte: Herick Felipe

Mais que música, um movimento

Desde a vivência escolar João Victor já demonstrava a sua aptidão para a percussão, além de sempre produzir poesias e dançar break. Ele teve como uma das grandes incentivadoras nesse período uma professora que, inclusive, acompanhou esse processo de desenvolvimento da escrita do aluno. Não tardou muito para João enveredar para a música e foi quando ele começou a se envolver de forma mais orgânica com a Cultura Hip Hop, pois teve contato com a Casa Hip Hop graças a crew de break que integrava. Lá ele foi entendendo, por meio das mensagens e da arte, a importância de valorizar as raízes e a ancestralidade. João foi se envolvendo e percebendo que a Cultura Hip Hop é alicerçada em quatro elementos que são o break, grafite , o Dj e o MC, ou seja, lá ele percebeu que o movimento era maior que passos e rimas, era uma luta que precedia a sua própria geração e ele estava dando continuidade para essa história. “Foi lá na Casa Hip Hop que eu me senti em casa”, diz. A Casa de hip Hop é o Centro de Referência da Cultura HIP HOP em Teresina e nasceu da  necessidade da Associação Piauiense de Hip Hop ter um local para desenvolver os seus projetos, o local se tornou a primeira casa de hip hop das regiões Norte e Nordeste e um centro de referência para a Cultura Hip Hop no país.

Foto: Korina / Arte: Herick Felipe

A trajetória no rap

João Victor foi o idealizador do projeto intitulado Narco Rap, ele fez parceria com o Ícaro, mas que posteriormente teve que se afastar do grupo.“Com o Narco Rap eu consegui ser reconhecido, consegui mostrar um pouco do que eu precisava falar e cantar”, diz. Depois desse afastamento do integrante o MC passa a fazer apresentações solo até que convida convida Nicolas e Jênio para se integrarem ao grupo, eles apresentam por pouco tempo e João volta a carreira solo. Após essas vivências, João se integra ao Narco Crew que é um grupo diversificado contando com a participação também de um grafiteiro, um b-boy, um beatmaker. Posteriormente João começa a lapidar as suas criações e fazer um trabalho de investigação e pesquisa, paralelamente firmando cada vez mais o seu trabalho como Narcoliricista graças também aos diálogos e parcerias , até que começa a surgir o seu primeiro CD solo. Segundo João Victor, graças ao trabalho ele começou a se aproximar mais ainda do DJ PTK que foi quem apoiou e deu força desde o início.

“Eu observei e vivi; o que eu vivi eu precisei ver para poder falar; preciso colocar em prática tudo aquilo que eu falo,  tudo o que eu prego. Eu canto para os meus manos sair do crime e eu ainda preciso ver de que forma eu estou contribuindo com a minha quebrada.” Narcoliricista

Foto: Korina / Arte: Herick Felipe

Por dentro das oscilações mentais de um preto

OMUP – Oscilações Mentais de um Preto é o nome do primeiro disco do Narcoliricista que foi publicado e divulgado amplamente nas plataformas de streaming, o disco autoral teve gravação, mixagem e masterização feita pelo @quilomboloucobeats; arte e capa de Malcom; finalização de @wg.corjacrew; animação de  Ambrósio Pentú; fotografia de Malcom, Phillip Marinho e Gilson  Deni. Houve um diálogo amplo entre ele e o PTK de tal forma que o trabalho fluiu e foi na construção desse disco que João percebeu as variações sentimentais que alimentava também o seu processo, dessas oscilações surgiu o nome do disco. João conta que primeiro escreveu a música “Ruptura”, depois veio “Preto Pobre Pixo” e que as músicas desse álbum são bem especiais para ele como artista, pois foi o momento que ele percebeu a força da sua arte, até onde ele podia chegar com a sua criação e a partir dali ele passou a respirar melhor. “Eu tentei abordar o quanto a gente oscila na sociedade. Na intro eu já faço menção ao poder Preto e a gente precisa disso na prática. Dia e noite a gente está rompendo barreira, quebrando estatística”, pontua.

Foto: Korina / Arte: Herick Felipe

O verbo que ecoa na quebrada

“A música é uma válvula de escape, é uma ponte” diz João Victor. Para o artista foi por meio da música que ele criou uma rede de diálogos e se fortaleceu. Por isso ele destaca referências como o DJ PTK, o Preto Kedé, W.G., Laura, Bomber Crew, Afro Soul Crew, entre outros. Um dos marcos da sua carreira foi a produção do disco OMUP que recebeu ajuda de vários parceiros, além disso o disco permitiu participar de alguns festivais como Mulera Sun, Piaga Festival, entre outros.

Segundo o artista a sua inspiração vem da sua vivência, para ele tudo que é produzido tem que ser verdadeiro, tem que ter sido sentido, é um processo íntimo e empírico. Por isso, os seus versos falam da luta de classes, da luta racial, da realidade da sua quebrada e de questionamentos ainda oscilando na sua mente que só serão traduzidos por meio da escrita. Para o Narcoliricista é muito importante estar conectado a sua ancestralidade, se reconectar com as suas raízes. “Eu preciso me reconhecer e me encontrar como um homem negro dentro da sociedade.” Toda a crítica social do poeta aparece nas suas criações, então as suas composições são também uma denúncia da desigualdade, são uma forma de salvaguardar quem está próximo, mostrar que existem possibilidades. Para João Victor, é possível ressignificar a violência sentida na pele. Por isso nasceu o nome Narco-Liricista, que surge como uma aglutinação de nomes cujo sentido é colocar o rap como uma mensagem que muitos não se dispõem a transmitir, é como o tráfico (narco) da literatura (liricista). “Eu observei e vivi; o que eu vivi eu precisei ver para poder falar; preciso colocar em prática tudo aquilo que eu falo,  tudo o que eu prego. Eu canto para os meus manos sair do crime e eu ainda preciso ver de que forma eu estou contribuindo com a minha quebrada.” 

Foto: Korina / Arte: Herick Felipe

Ocupando os espaços

O palco para o Narcoliricista é o momento de interação com o público. Suas músicas costumam contar sobre as suas vivências por meio das rimas, trazendo a tona a luta diária do povo da periferia, a luta que há tempos tem sido maquiada e fazendo ponte com toda essa galera, até mesmo como forma de fortalecimento. “Estar no palco é uma forma de me sentir bem, é uma troca.” No palco, o Narcoliricista consegue sentir a pulsação do público e perceber o processo de identificação transmitido pelo olhar é uma das sensações que mais o nutre como artista. Narcoliricista vem ocupando os espaços e mostrando essa voz que ecoa e que muitas vezes a sociedade não quer enxergar. Seus versos são marcantes, vivos, latejam e revelam todas as facetas do sistema. Por isso, o Narcoliricista tem inspirado outros artistas e ele promete que vem muito mais poesia pela frente.

Contatos

Youtube.com/Narcoliricista

Facebook.com/joaovictorcarvalho

Instagram.com/narcoliricista/

Fotos

Vídeo

Discografia

OMUP – Oscilações Mentais de um Preto (2019);

Pra Dar e Vender (2020).

Outras fontes

Entrecultura.com.br/2019/07/22/oscilacoes-mentais-de-um-preto-conheca-o-rap-de-real-narco-liricista/

Geleiatotal.com.br/2020/04/06/lancamento-do-ep-pra-dar-e-vender/

 

Última atualização: 06/05/2020

 

Caso queria sugerir alguma edição ou correção, envie e-mail para geleiatotal@gmail.com.

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