Cada um de nós tem um fardo que já era pesado muito antes de toda essa bomba virulenta explodir nos nossos colos e, agora, além desse fardo, temos um inimigo. Todos os dias se parecem iguais, mesmo que você tenha que trabalhar ou não, e é muito complicado produzir alguma coisa nesse período. Metade da minha cabeça diz “aproveite esse tempo ocioso, inscreva um trabalho nessa convocatória, leia esse livro”, enquanto a outra metade não me diz nada e só quer ficar olhando pela janela pegando o sol refletido no telhado do apartamento vizinho.
São dias complexos de viver.
O fato é que não estamos preparados para viver um período em que ficamos 100% do tempo apenas com a gente mesmo. Suportar o confronto conosco beira a uma luta que não tem final. Já faz algumas semanas (talvez 5 ou 6) que o mundo parou. Lá fora, existe uma mistura de silêncio, medo e pouca esperança. Nos últimos 4 dias, busquei fazer o que acredito que seria uma forma de saber quem eu sou. Usando meus trabalhos e pesquisas em fotografia, pensei que talvez seria uma boa me usar como modelo e espaço físico da minha arte. Fiz algumas fotos, mas elas refletem a mesma sensação de silêncio do mundo lá fora. Todos os dias se parecem realmente iguais. Fotografar a vida pela janela do quarto e buscar detalhes nessa rotina estranha é uma forma de tentar ver a vida andando a passos lentos.
Talvez esse seja o meu pequeno manual para atravessar os dias mortos e é muito possível que ele não sirva pra mais ninguém.
Dia x da quarentena: hoje escrevi um texto, quem sabe amanhã eu crie uma grande obra de arte… Ou não.