A resistência de Júlio Romão

O escritor, jornalista, etnógrafo e teatrólogo Júlio Romão da Silva nasceu no dia 22 de maio de 1917 em Teresina-PI e faleceu no dia 09 de março de 2013. Bacharel em Letras, Geografia e História pela Faculdade de Filosofia do Rio de Janeiro. Autor das obras “Os Escravos: dramatização de Vozes d’África”, “O Golpe Conjurado”, “O Golpe Conjurado”, “A Parábola da Ovelha”, “José, o Vidente”, “A Mensagem do Salmo”, “Zumbo Zumbo”, “A Epopéia Brasileira” (1972), “O Monólogo dos Gestos” (1968), entre outras. Júlio Romão ocupava a cadeira número 31 da Academia Piauiense de Letras. O escritor foi um dos fundadores do Teatro Experimental do Negro, do Teatro Popular e da Orquestra Afro-Brasileira. Além de ter sido Livre Docente de Ciências Humanas e Sociais (versado em linguística e etnologia aborígine) no Curso de Altos Estudos Amazônicos do Instituto Rondon, vinculado ao IBGE, conveniado com a Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra e a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 1960 Júlio Romão recebeu o título de Cidadão Carioca Honorário e, mais tarde, ao completar 50 anos a ele é homenageado pela Assembleia Legislativa do Estado da Guanabara que dá o seu nome a um logradouro no bairro Méier, da cidade do Rio de Janeiro.

“Nessa vida o que importa é seguir as coisas boas.” Júlio Romão

Nome Completo: Júlio Romão da Silva

Descrição: Escritor, jornalista, etnógrafo e teatrólogo

Data de Nascimento: 22/05/1917

Local de Nascimento: Teresina-PI

Data de Falecimento: 09/03/2013

Local de Falecimento: Teresina-PI

Escrito por: Alisson Carvalho
Revisado por: Paulo Narley

A infância do escritor

Júlio Romão passou a infância percorrendo o centro de Teresina, brincando nos rios da cidade. Sua origem é humilde, filho de um operário, Luís Quirino da Silva, com Joana Quirino, que trabalhava como serviçal na casa do Dr. Miguel Borges (pertenceu à Academia Piauiense de Letras). Júlio ficou órfão de pai com quatro anos de idade, seu pai faleceu depois de cair do teto da Igreja São Benedito enquanto trabalhava como caiador (CAMPELO, Ací. 2017). A mãe do escritor não pôde amamentar o filho, por isso, ele teve que ser amamentado pela avó materna, Sátira Dias. Além disso, sua mãe teve dois outros casamentos e no último se instalou em São Luís-MA. Lá, tornou-se dona de pensão e só retornou à Teresina quando estava doente, onde morreu de um fibroma. Foi por causa do seu irmão, Manuel, que ficou sob sua proteção, que Júlio mudou-se da casa da Tia, localizada na Rua do Amparo, para a casa da avó, Mônica Maria da Conceição, localizada na antiga Rua da Glória. O escritor estudou no Colégio Demóstenes Avelino que foi transformado na Biblioteca Pública Estadual Desembargador Cromwell de Carvalho, localizada na Praça do Fripisa, onde conheceu Manuel da Costa Araújo que se tornaria o coronel do exército e comandante do 25 Batalhão de Caçadores e Raimundo Veras, dono do Bar Carvalho localizado na Praça Rio Branco.

Deixando a terra natal

Júlio Romão tem uma trajetória com muitas reviravoltas, pois fez de tudo um pouco para sobreviver. Ele conheceu bem cedo o cinema e já na adolescência saiu de Teresina rumo à antiga cidade de Flores, atual Timon, e continuou seguindo estrada pegando carona até chegar à São Luís–MA, onde conseguiu empregar-se como marceneiro trabalhando como conservador de móveis do Palácio dos Leões, que é a sede do governo do Maranhão. Não tardou muito para Júlio Romão embarcar, clandestinamente, no porão do cargueiro da Costela Santos junto com alguns retirantes atingidos pela seca do Ceará, estes seguindo rumo à São Paulo e aquele rumo ao Rio de Janeiro em uma viagem nada amistosa almejando a prosperidade.

Os percalços em terras cariocas

Depois da viagem dificultosa e dos percalços do caminho, passando por inúmeros portos, Júlio Romão desembarca no Rio de Janeiro em 1937. Levando consigo uma maletinha, alguns tostões e dois livros velhos, o escritor aportou no Rio, onde ficou encantado e surpreso com a dimensão da cidade grande. Lá, ele dormiu nas ruas junto com os mendigos, trabalhou como engraxate, limpador de chão, contínuo de escritório até trabalhar no Jornal “A Noite”. Júlio Romão conheceu muitos nomes de destaque nacional como Monteiro Lobato, Jorge Amado, Carlos Drummond, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Guimarães Rosa, Aurélio Buarque de Holanda, entre outros. O escritor e jornalista rompeu com as fronteiras impostas aos negros e se destacou também no estudo da cultura indígena.

Rompendo com as expectativas

Segundo Alcebíades Costa Filho, Júlio Romão supera todas as expectativas da época conseguindo se sobressair mesmo sem nenhuma condição de subsistência, ele se aproxima dos segmentos sociais negros do Rio de Janeiro e seu nome está ligado à formação da “Orquestra Afro-brasileira”, do músico Abigail Moura, e do “Teatro Experimental do Negro”, de Abdias Nascimento. Além disso, o pesquisador escreve que o escritor assinou a Declaração de Princípios do Comitê Democrático Afro-Brasileiro, que era a associação que lutava pela inserção da população afro-brasileira durante a redemocratização. Ele não só lutou contra a desigualdade racial como vivenciou, estudou e escreveu sobre isso. Foi um admirador de Luís Gama e Teodoro Sampaio, pois eles tinham uma trajetória de vida semelhante à sua.

A saga na dramaturgia

Júlio Romão começou a enveredar pelo teatro quando morou no Maranhão. Junto com seu grupo, circulava no trem Maria Fumaça pelos municípios até Caxias–MA. Suas estadias não demoravam, e as apresentações aconteciam em qualquer lugar, chegando a se apresentar até para somente um espectador. Segundo Ací Campelo, Júlio Romão foi um dos nomes que renovou o teatro negro brasileiro, o qual carecia de ressignificação, além de ter lapidado mais a dramaturgia religiosa e de ter adicionado um teor mais politizado ao gênero. Como exemplo, o dramaturgo cita a obra “A mensagem do Salmo”, que foi apresentado no Rio de Janeiro pelo grupo Teatro Experimental do Negro (TEN). De acordo com Júlio, “Em todo o meu teatro, eu sou também personagem. Não importa o tema, ambiente ou a época da ação. O essencial é que estejamos nele. Ainda que na simples personificação de um sentimento reduzido a síntese filosófica…” (apud CAMPELO, 2017, p. 7).

A contribuição do escritor e jornalista

Com uma vasta produção na literatura, o escritor Júlio Romão acabou contribuindo para muitas áreas inclusive com um estudo dos povos indígenas que resultou na obra “Denominações Indígenas na Toponímia Carioca” (1966), que trouxe alguns dos termos indígenas usados nas terras cariocas e mostrando a etimologia dessas palavras. O autor foi um pesquisador preocupado não só com a cultura negra, mas também com a cultura indígena. Ele é um dos nomes de grande destaque fora do Piauí. Alcebíades Costa Filho escreve que os seus trabalhos com o IBGE e a Geografia têm forte influência no trabalho do escritor. Em cada evento que o autor participava, provocava a feitura de textos e, além de todo esse conteúdo, o autor também teve uma atuação ímpar na imprensa carioca, publicando em diários, como o “Diário Carioca” (1928-1965) e “Jornal do Comércio” e também as revistas “O Malho” (1902-1954) e “Revista da Semana” (1900-1961). Uma forte referência para as gerações contemporâneas e que ainda carecem de conhecer a literatura desse grande nome.

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Obras

Os escravos: dramatização de Vozes d’África  (1947);

O golpe conjurado  (1950);

Memória histórica sobre a transferência da capital do Piauí  (1952);

Luís Gama e suas poesias satíricas (1954);

Vida e obra de Teodoro Sampai o(1955);

A maçonaria, os destinos políticos do Brasil e a atualidade brasileira (1958);

Santa Catarina: geografia, demografia, economia (1960);

Geonomásticos cariocas de procedência indígena (1962);

A parábola da ovelha (1963);

Evolução do estudo das línguas indígenas do Brasil (1965);

Denominações indígenas no toponbímica carioca (1966);

A mensagem do salmo (1967);

A família etnolinguística Bororo (1968);

O monólogo dos gestos (1968);

Zumbo-Zumbo (1969);

A epopéia brasileira (1972);

Solano Trindade (1974);;

Cera de carnaúba e cacau (1974);

Cultura humanística em Portugal e arte biográfica (1975);

Louvado seja Castro Alves (1975);

José, o vidente (1975);

Os índios Bororos: família etnolinguística (1980).

Fonte de pesquisa

CAMPELO, Ací. Júlio Romão da Silva, do Amparo à Glória. 2017.

Documentário: Júlio Romão O piauiense do século.

FILHO, Alcebíades Costa. Para escrever uma biografia de Júlio Romão da Silva. 2017.

Outras fontes

http://www.letras.ufmg.br/literafro/autores/612-julio-romao-da-silva

http://nepa.uespi.br/upload/anais/NDAw.pdf?041750

http://www.letras.ufmg.br/literafro/autores/28-critica-de-autores-masculinos/611-o-resgate-de-uma-obra-julio-romao-da-silva-entre-o-formao-a-pena-e-a-flecha-marina-luiza-horta

http://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/2013/03/escritor-piauiense-julio-romao-morre-aos-95-anos-em-teresina.html

https://www.academiapiauiensedeletras.org.br/tag/julio-romao/

http://poetaelmar.blogspot.com/2013/03/julio-romao-da-silva.html

https://www.meionorte.com/blogs/josefortes/academico-julio-romao-com-mais-de-90-anos-merece-ser-lembrado-200704

http://www.procampus.com.br/vestibular/resumos/uespi2009/A%20MENSAGEM%20DO%20SALMO.pdf

https://cidadeverde.com/noticias/66008/escritor-julio-romao-recebe-titulo-da-ufpi-de-doutor-honoris-causa

http://poetaelmar.blogspot.com/2013/03/academico-julio-romao-morre-aos-95-anos.html

https://www.meionorte.com/blogs/josefortes/academico-julio-romao-com-mais-de-90-anos-merece-ser-lembrado-200704

http://manekonascimento.blogspot.com/2017/05/evoe-julio-romao.html

https://cidadeverde.com/noticias/211076/noticia-da-manha-mostra-ensaio-do-sambao-escola-homenageia-julio-romao

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=138732

 Última atualização: 12/11/2019

Caso queria sugerir alguma edição ou correção, envie e-mail para geleiatotal@gmail.com.

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