Exposto ao dia, à noite, à beíra da lagoa,
Onde se miram, rindo, as boninas do prado,
Vive um velho bambu, velho, curso e delgado,
A escutar a canção que o triste vento entoa …
Jamais os leves pés de um trovador alado,
Desses que pela mata andam cantando à toa,
Pousara-lhe num ramo! Apenas o povoa
Alta noite, agourento, um corujão rajado …
E vive, — arcaico monge a gemer solitário,—
A sua dor sem fim, o seu viver mortuário,
Tristonho a refletir no fundo azul das águas …
Como bambu da mata, exposto ao sol e ao vento,
Do deserto sem fim de meu padecimento,
Triste nos olhos teus reflito as minhas mágoas!. ..
Da obra “Alexandrinos” (1912).