Rose Gomez nasceu em 9 de setembro de 1993, em Teresina-PI. É estudante de Filosofia na Universidade Federal do Piauí, mas Rose sonha mesmo em estudar e trilhar o caminho da Moda. Não é à toa que Rose tem um estilo único e arrebatador, que transforma um simples passeio em um acontecimento. Mulher forte, empoderada e com uma voz suave e encantadora, às vezes ainda se arrisca pelo universo do canto e da música. Além disso, Rose é redatora na Geleia Total e organiza o conteúdo referente à programação cultural no Piauí.
Entre os dons da Rose Gomez, ela se destaca na poesia e tem obras suas publicadas na Antologia Poética, além de publicar de maneira avulsa nas redes sociais e em sites de literatura ou áreas afins. Resolvemos conversar com essa poeta que é pura intensidade. Confira:
- Quando você começou a escrever poesias?
Sobre quando comecei a escrever… ja nem lembro mais, no começo da minha adolescência mais ou menos, escrever era uma forma de desabafo, eu não era uma garota de muitas amizades, logo eu socializava com a escrita, sobre a paixão que não deu certo, sobre a falta de companhia… claro que com o passar do tempo as coisas mudaram. Mas ainda escrevo sobre o amor, amor sempre será o motivo dos meus versos, seja erótico, recíproco, preto, de libertação. O amor me move, principalmente o próprio.
- Quais as suas Inspirações?
Sobre algumas das minhas inspirações, tenho a Elisa Lucinda, Hilda Hilst, Rupi Kaur, Ana Cristina César, Carolina de Jesus, mas sei que ainda tenho muito o que conhecer, aprender e desfrutar da literatura brasileira.
- Fale um pouco sobre a Antologia e o concurso literário.
A antologia foi o resultado final do Premio Absutos de Poesia, que foi um concurso literário promovido pela Absurtos Editora. “Poesia libertadora” foi o tema proposto para os inscritos.
O concurso chegou ao meu conhecimento através de um amigo também escritor, ele me mandou o edital e pediu que eu participasse, até então eu nunca havia participado de um concurso, nem regional nem nacional que foi o caso desse. E me fiz a pergunta “por que não?”, fiz a inscrição e aguardei o resultado.
- Como foi receber a notícia de que foi selecionada para compor a obra?
Foram selecionados 100 poemas para compor a Antologia e o meu estava entre eles. Eu soube da notícia depois que fui verificar no site da editora o resultado final, além disso também recebi um e-mail da mesma, fiquei sem acreditar, fiquei muito feliz, nunca imaginei que logo o meu poema dentre tantos outros de todo o Brasil seria escolhido. Não sei bem como dizer o que senti naquele momento, lembro-me de ficar parada com o celular na mão olhando o e-mail, foi uma notícia maravilhosa e muito importante, comecei a acreditar em mim como escritora.
- Do que se trata o seu poema?
O tema proposto pelo concurso foi ” Poesia libertadora” que também é o título do livro, da antologia. Confesso que fiquei um tempo pensando, tentando entender o tema, pois na minha percepção era amplo e com inúmeras possibilidades de falar sobre. Enfim, sempre escrevia sobre amor e desamor, relações fracassadas… e como projetamos no outro a felicidade que só depende da gente, as expectativas criadas e as decepções como consequência. E o meu poema selecionado não fugiu disso, “Aborto” fala de alguém foi tanto pro outro, que foi tudo para outra pessoa que acabou esquecendo de si mesma, e quando ela se viu nesse lugar tentando suprir as vontades desse outro sem reciprocidade, ela sentiu a necessidade de interromper, abordar esse outro da sua vida, apesar da dor, que apesar da falta era o melhor a ser feita, era necessário livrar-se deste amor que passou a ser o seu mal. Logo vi neste poema a liberdade de voltar a ser, ou liberdade de se reencontrar, ele para mim foi então uma poesia libertadora.
- Qual a importância de ser uma das únicas representantes do Piauí em uma antologia com escritores de todo o Brasil?
Fico pensando sobre a necessidade de outras mulheres negras da periferia saberem que podem, que devem, que aqui também é lugar delas, que sua existência já é uma poesia, que somos o poder, somos mais que capazes. Carolina de Jesus é um grande exemplo disso… Entre outras mulheres negras que ainda não conhecemos, mas, que ainda vamos conhecer.
Poesias
Já caí em ilusões de palavras bonitas
Na promessa de uma manhã de sol
sobre a pele
De um café fresco em uma tarde de domingo.
Já fui de vários corpos vazios
Já fui…já busquei
e hoje já não sei quem sou
Essa ausência que preencher meu ser,
me tortura.
Me perco em caminhos certos
e abro a porta de uma casa banhada por fel
e lá eu me deito, lá eu durmo
e me perco mais e mais.
Despedida
As palavras já não diziam nada
que possam te fazer ficar
Seus lábios tinham gosto de despedida
e meu corpo que pulsava
pela tua pele já fria de desejo, se esmoreceu.
Teu olhar já não olhava em meus
olhos na hora do “prazer”
Já não sentir o calor
da tua vontade em mim.
Teu fogo se apagou
em meus lençóis
Foi aí que percebi que aquele
aperto demorado na despedida
de uma tarde qualquer
foi o último abraço de nós dois.
Tons de preto
Me derreto na cor da tua pele
Eita preto!
Esse teu tom de café
é um delírio
que me leva a lucidez.
Teu cheiro homem, da cor da noite
mora em meus pulmões
E o mistério que tens no olhar
me faz querer-te mais.
Quero banhar-me com teu suor
adormecer com tua risada
E depois de uma longa noite
misturando nossos tons de preto
ter a certeza da tua morada.
Quebra NÃO!
Vaso ruim não quebra.
Não! Quebra não.
Vaso ruim fica escondido
no canto da sala porque
não combina com a decoração.
Vaso ruim não quebra
E por isso sofre opressão
Nascido do artesão da favela
como presente da nação.
Seus traços rústicos
sem estética, sem aprovação
da alta população.
Vaso ruim não quer quebrar,
ele resiste a difamação.
Apontam o dedo, dizem que é feio
e que não seguem um padrão,
Vaso ruim não quebra
Não! Quebra não.
SADO
Olho no espelho e digo:
Quero beber tua vida
Tirar tua pele
Rasgar tuas entranhas
Quero contar tuas veias
Sentir o gosto das tuas lágrimas
Quero ouvir o lindo som dos teus gritos
Pedindo pra eu parar
Quero abrir teu peito
E ver teu coração bater
Quero ver teu olhar suplicando
Piedade, piedade… piedade?
Quero comer-te como se fosse meu jantar
Quero matar minha sede
Vendo a última gota do teu sangue
Se perdendo no meu prazer de te ver sofrer
E pra te mostrar o quanto eu te amo
Segurarei teu coração na mão
Como se fosse um troféu que ganhei
Por ter vencido esse medo de ti.
Aborto
Sim, fui tua! Do sono até a insônia, fui tua.
Das pontas do meu cabelo ressecado
até a carne morta debaixo da unha, fui tua.
Meu suor, minhas lágrimas, meu sossego.
Minha febre, que de tanto arder, ferveu.
Meus olhos negros.
Minha ânsia, meu vômito,
minha alegria, desespero e agonia.
Até o meu sorriso amarelo, minha euforia.
Tudo de concreto e surreal que há em mim, foi teu.
E hoje estou abortando você de mim em versos.
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