A representação do nordeste no olhar de Nonato Oliveira

Foto José Ailson Nascimento

O pintor, escultor e desenhista Raimundo Nonato de Oliveira, mais conhecido como Nonato Oliveira, nasceu em 1949 em São Miguel do Tapuio, município piauiense. Já expôs em muitos lugares pelo Brasil afora, como no Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Santa Catarina, Minas Gerais e Brasília. Além disso, expôs fora do país em exposições coletivas (como nos Estados Unidos) e exposições individuais (na França, Portugal, Itália, Inglaterra e Noruega). Seus murais fazem parte do cenário artístico de muitas cidades, compondo a arquitetura de escolas, hotéis, entre outros estabelecimentos. Nonato Oliveira já estudou Direito, Economia, Técnico em Edificações, Matemática e Eletrônica, mas só concluiu o curso de Eletrônica na Escola Técnica Federal do Piauí. Nonato Oliveira é o criador da obra “Cabeça de Cuia e as Sete Marias Virgens”, um dos cartões postais do estado que está exposta no encontro dos rios Poti e Parnaíba. O artista também chegou a ser diretor do Museu do Piauí Odilon Nunes.

Foto: José Ailson Nascimento

“Quando eu vim para Teresina, foi que eu conheci as cores, vi uma parede toda colorida de uma casa aí foi quando eu aprendi o que era cor.” Nonato Oliveira

Nome Completo: Raimundo Nonato de Oliveira

Descrição: Pintor, escultor e desenhista

Data de Nascimento: 11/12/1949

Local de Nascimento: São Miguel do Tapuio-PI

Escrito por: Alisson Carvalho
Revisado por: Paulo Narley

Criando cores

O casal Sabino Policarpo de Oliveira e Emília da Rocha Soares Oliveira criaram o filho, Nonato Oliveira, no interior do Piauí, no município São Miguel do Tapuio. Foi lá o lugar que o nutriu desde cedo com imagens sobre a simbologia nordestina com os seus mistérios, tristezas, alegrias e encantos. O artista autodidata, ou seja, que aprendeu o seu ofício sozinho, sem a mediação de um professor, aproveitava as sobras dos materiais da construção deixadas pelo pai, que era pedreiro, para construir as suas obras e pintar com os restos de tinta. Foi nesse período que ele também improvisou para fabricar as suas próprias tintas, as suas próprias cores, usando urucum, tabatinga, nogueira ou casca de angico. Nonato Oliveira rememora que naquelas terras ele ganhou e perdeu o seu primeiro jumento adquirido aos dez anos de idade. Depois disso, o seu pai vendeu as terras e todos se aventuraram rumo à Teresina.

Foto: Regis Falcão

Ampliando o espectro cromático

Quando chegou em Teresina, em 1955, Nonato Oliveira se deparou com outra realidade, foi na capital piauiense que ele conta ter visto o seu primeiro automóvel aos doze anos de idade. Somente com quatorze anos de idade foi que Nonato começou a utilizar a variação de cores, pois anteriormente ele tinha que explorar o corante natural das plantas achadas na cidade natal. O artista começou a pintar registrando as suas memórias e abordando assuntos como a seca. “Meu pai, além de vaqueiro, era pedreiro e estava fazendo o reboco da casa. Eu peguei uma fatia do cimento do reboco e fui desenhar as pessoas, os animais, os passarinhos e as aves que tinham no interior. Eu não conhecia cor nenhuma, fazia tinta com o material que tinha na região. Quando eu vim para Teresina foi que eu ganhei uma caixa de tinta e conheci as cores, antes eu não tinha tinta nenhuma”, relembra Nonato Oliveira. Segundo o artista, ele aprendeu escultura com o seu tio, mestre Dezinho, que também ensinou o mestre Expedito. Além disso, conheceu, no grupo de escoteiros que participou, o mestre bonequeiro Afonso Miguel. No artesanato, Nonato Oliveira chegou a trabalhar com couro, pneu, entre outros materiais usados para a criação de diversos artigos como sandálias.

 

Rompendo as fronteiras geográfica

Nonato Oliveira criou uma série composta por dezessete quadros sobre a Guerra dos Canudos, na qual retratava cenas como a polícia agredindo e matando os cangaceiros, além de episódios como a população enterrando os seus mortos em redes. Essas obras ganharam destaque em 1972, principalmente depois que um curioso viu as obras e levou para serem expostas na Maison de France, no Rio de Janeiro, ocasião que faz com que Nonato receba uma bolsa para financiar os seus estudos de pesquisa e aperfeiçoamento na França. “Morei dez anos em Paris, foi lá que fiquei amigo de Picasso, ia na casa dele todo dia”, frisa. Nonato foi de Teresina para a Europa e a experiência revelou-se um desafio, pois ele não conhecia o francês e teve que enfrentar as adversidades do novo país para conseguir sobreviver. Trabalhou fazendo quadrinhos para jornais, artesanato, cerâmica, tapeçaria, entre outras atividades que tinham como objetivo custear o retorno para Teresina. A experiência impactou e engrandeceu bastante o artista, que conheceu grandes nomes das artes como o pintor Pablo Picasso.

“Morei dez anos em Paris, foi lá que fiquei amigo de Picasso, ia na casa dele todo dia.” Nonato Oliveira

As cenas da boca da noite

Nonato Oliveira tem murais espalhados por todo o mundo (Fortaleza, São Luís, Belém, Goiânia, Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Madri e Lisboa). Teresina já incorporou o artista no seu cotidiano há muito tempo, afinal, ele está presente em muitos lugares da capital. E não é atoa que as obras de Nonato estão expostas, faz parte da característica do artista. Segundo ele, as suas obras são feitas para o povo, pois fala do povo e é para o povo que ela deve estar direcionada. Os murais embelezam os mais variados lugares, estão em motéis, nas igrejas, sede de órgãos públicos, empresas privadas e até residências. Nonato Oliveira também construiu muitas esculturas e monumentos, ele destaca os painéis construídos na agência central dos Correios em Teresina, um feito com pintura sobre a madeira e o outro com soldagem em ferro. E a outra obra é um monumento em estilo surrealista às margens do rio Araguaia, no sul do Pará. O artista, que saiu do interior do Piauí, já expôs em Teresina, Rio de Janeiro, Fortaleza, São Paulo, na Itália,  nos Estados Unidos em Coral Gables (USA) e em Miami Beach, onde fez vários cursos de pintura e tapeçaria, lá ele vendeu todas as obras expostas.

Foto: Luis Mota

As tonalidades das telas

Nonato Oliveira, atualmente, além de pintar, costuma trabalhar ensinando crianças e ajudando na formação e primeiro contato com as artes. O artista conta com orgulho e muita alegria como a sua neta e os seus alunos desenvolvem as suas primeiras pinturas. Segundo o artista, o motivo de pintar as pessoas em tons amarelados e com os olhos semiabertos deve-se ao fato das suas lembranças e a crença de que quem “ficasse de olho baixo” fora acometido pela ,tuberculose. Além disso, suas obras, embora coloridas, demonstram seriedade devido ao sofrimento e dificuldade vivenciados pelos moradores dessas regiões. E a tonalidade azulada dos olhos é presente nas suas criações porque tanto os seus olhos como os dos seus pais eram azuis. “Quando eu vim para Teresina, foi que eu conheci as cores, vi uma parede toda colorida de uma casa aí foi quando eu aprendi o que era cor”, diz o artista. Uma das alegrias de Nonato foi ver as suas obras ornamentando o figurino da quadrilha Luar do São João, que conquistou o primeiro lugar no Festival de Quadrilhas Juninas de 2019, organizado pela Rede Globo Nordeste.

Foto: José Ailson Nascimento

Um nordeste narrado em cores

A pintura, segundo Nonato Oliveira, o ensinou a conviver com o ser humano e a gostar do folclore e da cultura popular. Para ele, mais do que o calor de Teresina, é o calor humano do piauiense, ou seja, a generosidade e carisma, que são as características que mais o deixam inspirado. Dono de uma inteligência e uma sensibilidade invejável, o artista consagrado desde os primeiros trabalhos já chamou a atenção da crítica nas primeiras exposições, com destaque para Francisco Bitencourt e Francisco Miguel Moura que destacaram a profundidade e riqueza contidas nas criações do artista piauiense. As obras de Nonato se destacam não só pelas cores intensas, pelo teor pictórico, mas pela simplicidade que vai revelando o cotidiano do nordestino. As suas obras demonstram tudo que somos, com as variações de sentimentos, com a riqueza cultural e as adversidades enfrentadas na vida, mas com o olhar tingido pela criatividade de um artista que se apaixonou pelas cores. O artista, que cresceu com toda a simplicidade do campo, à luz das lamparinas, pegando água com cabaça no rio, nunca deixou de retratar esse lado do povo piauiense.

Contatos

Facebook.com/nonatooliveirapintor

Telefone: (86) 9 9983-6223

Fotos

Vídeo

Exposições

 INDIVIDUAIS:

1973 – Galeria da Biblioteca Pública (Teresina-PI)

1974 – Museu da Cidade (Rio de Janeiro-RJ) e Aliança Francesa (Rio de Janeiro-RJ)

1975 – Luxor Hotel (Teresina-PI)

1976 – Galeria Encetur (Fortaleza-CE) e Museu do Ipiranga (São Paulo-SP)

1977 – Ministério da Fazenda (Teresina-PI) e Galeria Eney Santana (São Luís-MA)

1979 – Galeria Um D’Arte (Teresina-PI)

1982 – Encontro de Turismo (Miami – USA)

1983 – Ministério da Fazenda (Teresina-PI)

1985 – Galeria Atelier (Brasília-DF)

1987 – Paraíba Jockey Center (Teresina-PI), Galeria Karandash (Maceió-AL), Ludus Artis Galeria (Aracaju-SE) e Galeria M de Artes (Recife-PE)

1988 – Hotel Vila Rica (São Luís-MA), Galeria ECT (Brasília-DF)

e Galeria Marina Sul (Natal-RN)

1989 – Galeria Attelier (Brasília-DF)

1990 – Galeria Sépia (Braga – Portugal) e Galeria Trindade (Lisboa – Portugal)

1991 – Anual de Mochiano (Itália)

1992 – A.M. Galeria (Brasília-DF)

1993 – Palácio da Aclamação (Salvador-BA)

1999 – Fortaleza (CE), Teresina (PI), Brasília (DF) e Coral Gables (USA)

2000 – Shopping Riverside (Teresina-PI) e São Luís (MA)

2004 – Sala do Artista Popular (Curitiba-PR)

2012 – Casa Pub (Teresina-PI)

2013 – Galeria de Arte do Salão Nobre da Câmara dos Deputados (Brasília-DF)

2015 – Projeto Música para Todos (Teresina-PI)

2017 – Mercado Central de Teresina (Teresina-PI)

2018 – O Guarany Café (Teresina – PI)

COLETIVAS:

1972 – I Jornada Universitária (Teresina-PI)

1973 – Expo Cívica (Teresina-PI)

1974 – Biblioteca Pública (Teresina-PI)

1975 – Coletiva Curtison (Teresina-PI)

1976 – Salão de Arte Religiosa (Salvador-BA)

1978 – Atelier Marcus Villa (Recife-PE), I Salão Nacional de Artes Plásticas (Rio de Janeiro-RJ) e Cesar Parque Hotel (Rio de Janeiro-RJ)

1979 – Salão Nacional de Artes Plásticas (Florianópolis-SC)

1980 – I Salão Nacional de Montes Claros – Arte Boi (MG)

1984 – Galeria Eney Santana (São Luís-MA)

1987 – Marina Barra Club (Rio de Janeiro-RJ) e Noites de Arte – Embaixada Americana (Brasília-DF)

1988 – Natal Brasileiro – Museu de Arte Sacra (São Paulo-SP) e Coletiva de Natal – Galeria Attelier (Brasília-DF)

1989 – Salão Carioca de Humor (Rio de Janeiro-RJ)

1990 – Bazar Diplomático (Lisboa – Portugal) e Coletiva de Miniaturas – A.M. Galeria (Brasília-DF)

1991 – Casa da Imprensa (Lisboa – Portugal), Coletiva de Moschiano (Itália), Bazar Diplomático (Lisboa – Portugal) e Coletiva da Caixa (Fortaleza-CE)

1992 – Galeria Moviarte (Rio de Janeiro-RJ)

1993 – Bazar Diplomático (Lisboa – Portugal), Museu da Universidade (Fortaleza-CE), Coletiva de Moschiano (Itália), Galeria Sebrae (Brasília-DF)

e Painel Sebrae – Museu de Arte Brasileira (São Paulo-SP)

1993 – Galeria Banco do Brasil (Campo Grande-MS)

2000 – Moschiano (Itália)

2001 – Teresina (PI), Maceió (AL) e Salvador (BA)

2004 – Semana de Arte e Cultura Nação Piauí (Brasília-DF)

2010 – Exposição Conexões – Sesc/Senac (Teresina-PI)

2012 – Festival Artes de Março do Teresina Shopping (Teresina-PI)

Outras fontes

http://montmartreteresina.com/nonato-oliveira-realiza-belissima-exposicao-em-teresina/

http://g1.globo.com/pi/piaui/bom-dia-piaui/videos/v/galeria-de-arte-recebe-nome-do-artista-piauiense-nonato-oliveira/4901316/

http://g1.globo.com/pi/piaui/bom-dia-piaui/videos/v/artista-plastico-nonato-oliveira-completa-50-anos-de-carreira/4627218/

Última atualização: 06/01/2020

 

Caso queria sugerir alguma edição ou correção, envie e-mail para geleiatotal@gmail.com.

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