De todos os possíveis e impossíveis instrumentos do fazer artístico, o uso do corpo sempre me fascinou. Porém, nunca quis explorar as várias possibilidades que ele pode nos oferecer. Talvez por medo, mas principalmente por vergonha do meu corpo. Assim como o nosso corpo, tudo muda (ainda bem que muda) e no dia 4 de novembro de 2019, eu me permiti sair completamente da minha zona de conforto: me inscrevi e fui selecionado na última residência Demolition Incorporada realizada no espaço Campo (última no espaço pois o mesmo será demolido no início do ano de 2020). Além de mim, outras 39 pessoas entraram nessa residência e muitas delas (creio que quase todas) já estudavam o uso do corpo na arte. Dentro de 5 dias de imersão total, exploramos, estudamos, construímos, tocamos e criamos uma proposição artística intitulada Barricada, desenvolvendo a mesma a partir de discussões propostas por Marcelo Evelin.
Foi difícil pra mim no início: explorar meu corpo e, principalmente o corpo de outras pessoas era algo que achei que nunca faria. A vergonha de tocar e ser tocado me acompanhou nos momentos iniciais da residência, mas a todo instante me propus a deixar todas as construções que eu trouxe e me demoli. A cada estudo, fui me permitindo entender e ser entendido, fui tocado e toquei artistas de várias lugares que me deixaram ecos que irão ressoar por um longo tempo (que na verdade será pra sempre). Ecos italianos, alemães, paulistas, gaúchos, mato-grossenses, cariocas, teresinenses, uruguaios, mineiros, pernambucanos que hoje se espalham pelo meu corpo, constituindo uma nova pessoa. Nossos jogos de negociações nos ajudaram a desenvolver algo que só a gente vai entender o que viveu. Existem pessoas que me tocaram de uma forma tão complexa que não consigo descrever, era como se nos conhecêssemos a anos ou que tivéssemos uma relação íntima de cuidado e afeto. Gostaria imensamente de agradecer a todos que se deixaram levar pela correnteza dessa barricada de corpos e que se permitiram desenvolver algo que, por mais exaustivo que fosse, nos trazia uma avalanche de sentimentos e sensações maravilhosos.
Hoje posso dizer que sou um artista. Essa barricada construiu algo que precisa ser explorado e estudado. Por vocês e por essa experiência. Aonde estiverem, sintam – se com um pedaço meu em vocês. Obrigado Alan, Aline, Ana, Atma, Avessa, Bárbara, Bibi, Bruno, Bruno, Camila, Carlos, Carolina, Clotilde, Danton, Dário, Eleonora, Felipe, Gui, Guilherme, Jacob, João, Jordana, Karystom, Kelyel, Laís, Laura, Mallu, Márcia, Marcelo, Marina, Marion, Monise, Nina, Otávio, Samuel, Vanessa, Zé.
Aquele corpo estagnado que levei no primeiro dia já começou a dar seus primeiros passos.