Ela correu desesperada, Filomena ficou encurralada. Não havia mero rastro de passado na grama, apenas um punhado dalgumas lembranças. Algumas tão lúcidas, outras insanas. Quem a via sabia tão logo da cria, fora pega noutra ninhada pra ser cuidada na casa farta. Filó, só pros íntimos, era o orgulho do terreiro e fez amigos até entre os ancestrais guerreiros. Ainda pequena demonstrou seus dons, ela era uma companheira mesmo com os muitos afãs. Amava a simplicidade, ainda assim tinha as suas vaidades. Filó, “Lomena, o pedaço é só pros mais próximos”, completava com o seu idioma primitivo que só era traduzível pros amigos.
Ela era a próxima oferenda, mas de tanto amor que despertou livrou-se do ritual, deixaram a porta do terreiro entreaberta e ela fugiu proutro quintal. Foi alguma visagem, ninguém sabe, o que importa é que Filó surgiu na margem. Observou o terreno e decretou sem muita enrolação que dali em diante aquele seria seu novo lar, tratou então de o explorar.
Vó, tem uma pata no quintal.
Chispa sem demora o animal, ela vai destruir as roseiras e vai lambuzar o resto do jardim.
Vó, ela até gostou de mim.
Dá-me aqui essa pata. Olha aqui, vai-te embora pros teus cantos… Mas num é que ela tem até seus próprios encantos?
Ela gostou de ti!
A pata esfregou-se na família e ganhou um lugar no lar, construiu uns ninhos como quem sabe as cria criar. Foi tão astuta que ganhou inté um nome e livrou-se dos gulosos olhos dos orixás. Seus olhar profundo, entende de tudo, mas só não sabe é falar.
Filó ciscou cuidadosamente aquele terreno e encontrou os diamantes da vida entre o matagal rasteiro. Descobriu que o melhor do mundo está no seu quintal, já que com seus mimos se tornou a rainha daqueles carnavais, dona do milharal e gestora do arrozal.