No Parnaíba
eu que venho da Parnaíba
eu que morei com os caranguejos
eu que me fiz íntimo dos siris
eu que vaguei em velas
sob o vulto de uma dor exótica
eu que cantei as xananas
eu que revivi na imensidade
dos cajueiros das amendoeiras das mangueiras
eu que morrerei de mim mesmo um dia…
onde o avejão faz labirinto
onde cavalos-marinhos dançam o amor
sem conhecer dos presságios e dos sonhos
onde tartarugas escapam pelas marés
e pelo infinito
e nunca mais retornam
porque se esquecem das ondas
de volta
como também eu não volto
aos lances noturnos da minha alma
marca negra ao longo da praia
minha cidade é uma claridade
minha cidade é uma poeta
minha cidade é um sino
minha cidade é um hino
minha cidade é um girassol
e eu giro no sol das praias
no sal das dunas
que ardem desde
a minha infância