“Amar, viver, escrever” e outros encontros, por Marciléia Ribeiro

Era dia nacional do livro, coincidência providenciada. Dia de trocar uma ideia intensa sobre a obra “Amar, viver, escrever”; dia de conhecer Maria das Graças Targino. Que dia! O Clube de Leitura da Geleia Total pensou nessa troca – entre leitor e autor – com o objetivo de estreitar essa relação que às vezes é inconcebível e cria uma larga distância entre essas partes. Algumas circunstâncias, intencionais ou não, criam uma muralha instransponível entre o escritor e o seu público. O nosso Clube de Leitura desfaz esse nó e constrói esse laço.

Vale ressaltar, claro, que admiro e respeito a reclusão, muitas vezes necessária, por trás do escudo da solitude e do intermúndio como um caminho para a reflexão e para o reabastecimento da alma que hoje, principalmente, se contrai diante do caos e das dores do mundo. Mas nunca acreditei no escritor como um local despovoado, ou em cima de um pedestal o qual o seu leitor não o alcance.

E foi assim, sentada no chão, perto das pessoas, que conheci a grande escritora e pessoa que é a Maria das Graças Targino, e o quanto a sua obra “Amar, viver, escrever” dialoga com o seu discurso de vida e com a sua postura de ser humano. Ela possui, literalmente, “um olhar singular sobre as coisas do mundo”. Graça, que tem muita graça e dinamicidade no coração, exala amor e coragem quando se dispõe a fazer algo, seja para si mesma ou para o outro. Seja na lida ou na escrita.

As crônicas que compõem a obra “Amar, viver, escrever” são textos que abrangem de uma maneira muito intensa a visão da autora acerca de seu cotidiano. São diversas temáticas, em suas mais variadas circunstâncias, atemporais ou não, que permitem o leitor a apreender de maneira clara e lúdica a opinião de alguém que observa o mundo com muito cuidado. “Amor”, “saúde pública”, “mudanças sociais”, “imigração”, “envelhecer”, “violência urbana e doméstica”, “ser mulher” são alguns dos inúmeros temas reconstruídos nas palavras de Graça Targino. Fica o convite para a leitura e para a recepção de uma obra que é tão cativante.

“Há muito mais por trás da leitura, até porque, tal como se dá com o ato de escrever, a leitura pode se transmutar em aventura genuína que nos conduz a novos rumos e, principalmente, a reflexões em torno dos caminhos que percorremos.” (Da crônica Livro atrás das grades, p. 48)

Poderia citar aqui vários outros trechos ou belíssimos aforismos de Graça Targino, mas deixo com você, leitor, a curiosidade de conhecer a escrita de alguém que realmente entendeu a literatura como ela é, e que compreendeu o quanto o sublime ato de escrever está ligado a um fio que conduz à alma.

“Eu tenho compulsão por escrever”, disse Graça, ao olhar para algumas pessoas que tentavam descobrir atentas a cor das estrelas que enfeitavam seus olhos. Escrever! Escrever. Quem sente sabe o quanto é sagrado apalpar com a alma essa entrega doce e genuína àquilo que realmente importa em nossa vida. A obra de Graça Targino nos revela essa entrega e nos chama: “vamos lá se tiver coragem!”

Escrever é pura mágica, e essa grandiosa mulher sabe muito bem como usar suas porções. Apreciem!

Por Marciléia Ribeiro

 

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