José de Arimatéa: o representante do pontilhismo piauiense

O artista visual José de Arimatéa, também conhecido como Guimarães Júnior, é natural de Pedro II e é formado pela Universidade Federal do Piauí em Artes Visuais. Atualmente, o artista se dedica tanto à pintura como à docência, na cidade natal. É autor de obras como “O Gato da Bruxa” (2011) e “Pipa e Vento no Rosto” (2012), que fizeram parte da exposição “Devaneio Erótico”. Participou também das exposições coletivas “2ª Mostra Bienal Caixa de Novos Artistas” (2017), na Galeria Caixa Cultural no Rio de Janeiro; “Arte Alternativa Piauiense” (2017), na Casa da Cultura de Teresina; e “Piauhy Surreal Group” (2019), na Galeria do Mercado Velho de Teresina. José de Arimatéa é o representante do surrealismo piauiense e suas obras encantam pela riqueza de detalhes.

“Arte é a mais nobre de todas as linguagem e que aproxima as pessoas. Com ela não existe a fronteira do idioma. Através de uma imagem você consegue transmitir a sua mensagem para qualquer canto do mundo.” José de Arimatéa

Nome Completo: José de Arimatéa Guimarães Júnior

Descrição: Artista Visual

Data de Nascimento: 01/10/1990

Local de Nascimento: Pedro II

Escrito por: Alisson Carvalho
Revisado por: Paulo Narley

Os primeiros rascunhos

José de Arimatéa cresceu imerso em um ambiente que emanava arte, por isso ele já explorava o desenho desde os seis anos de idade, fosse rabiscando ou brincando com a massa de modelar. A sua primeira referência nas artes foi o seu pai, um artista autodidata que apresentou o desenho para o filho como uma prática diária. José de Arimatéa aproveitava para alterar e rabiscar os desenhos do pai já demonstrando certa paixão pelo retrato e ao mesmo tempo uma ânsia pela criação. Posteriormente, por volta dos dez anos de idade, José Arimatéa começa a estudar desenho com o artista Jackson Cristiano e desde esse período o artista passou a experimentar o desenho realista, técnica e estilo que o acompanhou durante muitos anos. Nesses primeiros anos o artista explora inúmeras possibilidades, indo do retrato aos quadrinhos. “O desenho sempre atraiu as pessoas. O desenho tem aquela coisa, você senta com a prancheta para desenhar e as pessoas começam a se juntar ao seu redor.”

Impressora humana

José de Arimatéa cresceu com a crença de que a formação em Artes Visuais era um caminho longínquo, restrito aos grandes centros urbanos do Brasil e na preparação para o vestibular o artista conheceu a graduação no campus de Teresina por intermédio de uma das suas professoras que deu suporte ao aluno para que ele prestasse o vestibular. Afeiçoado ao desenho realista, o artista manteve durante muitos anos a reprodução como uma prática orgânica nas suas criações, por isso foi defensor desse estilo de arte. O foco no realismo só começou a ser desviado quando José de Arimatéa ingressou na universidade, lá ele brinca que ganhou o apelido ferino de “impressora humana” justamente pela habilidade. Com o contato com novas técnicas e possibilidades, além das teorias e dos diálogos criados com outros profissionais foi que o artista começou a experimentar, transcendendo os próprios limites e se permitindo conhecer outras formas de expressão da arte, foi nesse momento que ele ousou criar. “A importância da academia na minha formação foi encurtar o caminho”, diz José de Arimatéa. Segundo o artista, a graduação promove a troca de ideias que permite um amadurecimento mais rápido ao artista, pois há o encontro de profissionais de diferentes áreas e estilos interagindo.

Explorando o erotismo

“O artista não muda o mundo. Ele estimula, provoca as pessoas a, a través de mudanças pessoais transformarem o mundo.

Meu trabalho aproxima territórios aparentemente opostos. Em minhas proposições abordo as vivências das fantasias sexuais, os desejos do corpo libidinoso, fazendo uma reflexão sobre o erótico e o pornográfico em contraste com um trabalho visualmente belo, rebuscado, finamente polido e que chama atenção por sua beleza milimétrica e, no meio de uma cidade pequena como Pedro II, em um estado pequeno como o Piauí, onde a sociedade ainda nutre raízes de sua cultura conservadora e de sexualmente reprimida, causa espanto pela temática.

Levantando temas como o mito, o profano, o sagrado, os ritos sexuais, a besta selvagem interior, os desenhos causam até constrangimento em pessoas de nossa época atual onde o sexo é um assunto tão aclamado e discutido, mas que ainda assim fica na sombra do “imoral”.

Envolta por concepções históricas, sociais e religiosos que muitas vezes conciliam possíveis julgamentos morais condenatórios de forças que historicamente animam a existência humana, a sexualidade, em especial a feminina, é vista como algo proibido, sujo, obsceno, pecaminoso e que deve ser reprimido e escondido.

Percebo nas pessoas que observam meus desenhos um choque de reações. A princípio se sentem maravilhadas com o primeiro vislumbre da técnica aplicada (pontilhismo), e a composição áurea com personagens que poderiam fazer parte de uma alegoria divina, mas logo que atentam para os detalhes das genitálias explícitas e de interações que sugerem uma relação sexual que está por vir ou disfarçadamente já acontecendo o espectador recua. Um instinto de defesa natural, eu imagino. Uma vez que não somos educados a falar abertamente de sexo e muito menos ver. Ouso então comentários do tipo “Está lindo, mas não gostei do tema”, “Isso não está meio obsceno?”, “Você poderia ter coberto as partes íntimas”. Como se sexualidade, erotismo e pornografia não fossem assuntos diretamente ligados a nossa condição humana e, portanto necessários de se discutir abertamente em todos os âmbitos da educação. E assim nos deixamos levar por tabus e sensos comuns.

Na série EROTIKKA ilustro o paradoxo entre o sagrado e o profano, o mito e as ânsias, a sutileza e um tema que choca as pessoas, que levanta questões sobre o conceito do próprio corpo e sexualidade em contraponto a julgamentos do que é moral ou imoral acerca de um dos instintos mais naturas do ser humano, o prazer sexual.

Animais, bestas mitológicas e quimeras habitam os desenhos personificando nossos instintos naturais, o (a) homem/ mulher animal, ser vivo, pulsante. Ao mesmo tempo encarnam o culto ao vigor sexual e as transformações forças no próprio corpo para alcançar estes padrões.” (Texto de José de Arimatéa)

“Foi através do pontilhismo que eu me descobri como artista.” José de Arimatéa

Composição onírica

Seguindo José de Arimatéa tem uma prática de desenhar em qualquer lugar e ele confessa que é um apaixonado por desenhar nos cadernos de esboço. O trabalho do artista costuma ser bem trabalhado e necessita de aproximadamente dois dias para concluir uma obra, contudo nesse período ele também continua criando outros trabalhos por isso é tão importante ter um caderno para registrar as ideias, já que a inspiração é algo inconstante. José de Arimatéa conta que no seu trabalho geralmente ele pensa primeiramente nos títulos e em um tema para só então começar a refletir em como será o seu desenho. Além disso ele explora as texturas que serão usadas na obra, material que atualmente também se transformou em obra de arte intitulada de “Árvore de Texturas”. O trabalho de José de Arimatéa também é construído pensando em série temáticas. “O pontilhismo foi a técnica que eu me identifiquei e que acabou me identificando, pra mim o pontilhismo hoje me representa”, pontua. José de Arimatéa utiliza o antropozoomorfismo para expressar a animalidade humana, o lado instintivo do ser. E ele constrói as suas obras tentando provocar uma composição onírica, fazendo com que o espectador tenha a sensação de estar vivenciando um sonho erótico.

A vivência nas artes

José de Arimatéa já conquistou dois prêmios no “Salão de Artes Plásticas de Teresina” (2011 e 2012), além disso participou do “Sesc Confluências – Arte em Intercâmbio” (2015 e 2016) que culminou na exposição “Desejo Dissoluto” (2016) e apresentou tanto obras de José quanto do Rogério Narciso sob curadoria de Ana Cecília Soares e Júnior Pimenta. O artista também participou da “2ª Mostra Bienal Caixa de Novos Artistas” (2017 e 2018).  Todas essas experiências despertaram o sentimento de legitimação do seu trabalho como artista. Apesar disso, o artista conta que sempre manteve uma postura de seriedade com o seu próprio processo criativo, por isso ele sempre se colocou na posição de aprendiz. Para ele a participação nesses eventos tem como resultado maior criar um diálogo com outros artistas. E sentir isso teve um peso importante para José de Arimatéa que escolheu seguir uma temática por prazer pessoal e não para se adequar à demanda do mercado. Para o artista, os artistas devem aproveitar essas oportunidades para compartilhar trabalhos, técnicas e experiências. “Na arte  você aprende não apenas estudando, aprende também experimentando ou apreciando outros trabalhos, pois isso faz o artista tentar decifrar ou imaginar o caminho percorrido para a gestação da obra. Isso é treinar a sensibilidade e o artista, mais do que coordenação motora ou ter a técnica, tem que ser um observador”, pontua José de Arimatéa. O artista que tem como inspiração artistas como Hieronymus Bosch, que trabalhou com paisagens e personagens oníricos, e, a sua grande referência, Darcílio Lima, que traz nas suas obras o surrealismo com o erotismo e o misticismo.

O realismo fantástico

A paixão de José de Arimatéa pela biologia e a natureza estão impressas na sua obra, que além de ter o rigor técnico de um artista que cresceu e se desenvolveu estudando o desenho mostra a fluidez e dinamicidade dentro da proposta escolhida. O hibridismo presente na obra do artista nunca passa despercebido, sempre causando emoções variadas, porém intensas. José de Arimatéa flutua entre o erotismo e a pornografia, o sagrado e o profano, tudo apresentado de forma fantástica e com uma riqueza de detalhes que atrai qualquer olhar. Como um dos representantes do surrealismo no Piauí, o artista tornou-se referência não só do movimento artístico como da técnica e escola pontilhismo, e vem diariamente conquistando novos admiradores do seu trabalho por todos os cantos. “Arte é a mais nobre de todas as linguagem e que aproxima as pessoas. Com ela não existe a fronteira do idioma. Através de uma imagem você consegue transmitir a sua mensagem para qualquer canto do mundo”, frisa.

Contatos

Facebook.com/guimaraes.junior.18

Instagram.com/josedearimateaartwork

Fotos

Exposições

“Desejo Dissoluto” (2016);

“2ª Mostra Bienal Caixa de Novos Artistas” (2017);

“Arte Alternativa Piauiense” (2017);

“Piauhy Surreal Group” (2019).

Outras fontes

https://www.diarioinduscom.com/bienal-de-novos-artistas-vem-a-curitiba/

https://www.humanasaude.com.br/doses-de-cultura/estreia-da-exposicao-de-arte-alternativa-piauiense-casa-da-cultura,47479

http://www.ideafixa.com/posts/devaneio-erotico

https://www.sescpe.org.br/2019/08/12/projetos-de-artes-do-sesc-apresentam-duas-exposicoes-em-garanhuns/

https://www.diarioinduscom.com/bienal-de-novos-artistas-vem-a-curitiba/

Última atualização: 02/09/2019

 

Caso queria sugerir alguma edição ou correção, envie e-mail para geleiatotal@gmail.com.

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