Zé Reis: um pesquisador investigando o movimento

Zé Reis dedica-se à investigação em dança contemporânea e teatro. É graduado em Artes Cênicas, pela Universidade de Brasília, e pós-graduando, pela USP. Integrou o Coletivo de Documentação e Pesquisa em Dança da UnB e colabora em projetos artísticos com o Instituto Dom Barreto/PI. Suas últimas obras são “Frango”, “O Corpo Poderia Se Chamar Aqui” e “Fracasso Coreográfico”. Encontra-se em processo criativo com o artista Alexandre Américo/RN, na obra “Trago olhos cansados e ossos cheios de esperança”. Estudou dança contemporânea no Corpo Escola de Dança, em Belo Horizonte/MG. Na Argentina, participou do projeto Campos Resonantes, fez parte da formação FACE – Formación de Artistas Contemporáneos para la Escena – e residiu na Compañía Nacional de Danza Contemporánea de Buenos Aires. No Chile, foi selecionado para a residência-obra Aprender un Cuerpo, sob a direção de Silvio Lang. Trabalhou com o coreógrafo Marcelo Evelin nas obras “Arrow in the Heart”, “Batucada” e nas residências “Open Space” e “Borrão”. Integrou o Grupo Experimental de Dança do Corpo Cidadão (Grupo Corpo), sob a direção de Danielle Pavam. Idealizou as oficinas Corpo Desobediente (Brasília/2018), Esponja Criativa (Teresina/2018), Intérprete Mínimo (Teresina/2016), Mergulho Cênico (Teresina/2015), O Ator Sensível (Recife/2014), O intérprete em processo (Teresina/2013), Teatro e Sensibilidade (Teresina/2013).

Foto: José Ailson Nascimento

“A dança é como tomar água, eu não consigo fazer outra coisa. As artes cênicas são a minha profissão.” Zé Reis

Nome Completo: José Reis Neto

Descrição: Ator, performer e diretor de Teresina

Data de Nascimento: 09/05/1992

Local de Nascimento: Teresina/PI

Escrito por: Alisson Carvalho
Revisado por: Paulo Narley

Uma memória sonora

O ator, performer e diretor Zé Reis é natural de Teresina, mais especificamente do Centro de Teresina, fato que é essencial para entender as suas conexões e ter ciência do seu processo criativo. Zé Reis cresceu abastecido pelo repertório musical do pai, que era fã de Rock’n Roll, morando no centro comercial e isso significa que ele sempre esteve envolvido com os sons da urbanidade. Toda essa dinâmica sonora e agitação fizeram parte da sua infância e juventude. Junto com os barulhos, o artista também consumiu muita música popular, que ecoava das ruas. Por isso, o forró é um elemento presente nas suas criações autorais. Além do ambiente familiar, a escola teve uma importante contribuição na construção e sedimentação da paixão pelas artes. A sua formação foi atravessada pela sensibilidade do professor Marcílio Rangel, que fazia questão de levar turmas grandes para apreciar as peças teatrais. Dessa forma, a primeira atuação de Zé Reis aconteceu aos seis anos de idade, interpretando uma obra musical de Oswaldo Montenegro que se chama “Vale Encantado”, espetáculo que durou aproximadamente três horas e que tinha as falas gravadas. Mesmo assim, isso não o impediu de decorar todas as falas.

As primeiras vivências nas artes cênicas

Embora não tivesse feito um curso de teatro, Zé Reis continuou se apresentando no ambiente escolar, até que, quando ele tinha doze anos de idade, a sua escola convidou o diretor Arimatan Martins para dirigir uma peça de teatro chamada “As Profecias de Cassandra”. Posteriormente, ele conheceu o diretor Wanden Lima, que apresentou uma outra possibilidade de se comunicar no teatro, até então desconhecida. Segundo Zé Reis, Wanden tinha um processo bem rigoroso que o fez entender a importância da investigação, além de extrair o melhor de cada artista no material para a montagem. Fora isso, foi a partir dessa experiência que ele entendeu o poder da coletividade, pois o diretor dirimiu o papel do protagonista, dando a possibilidade de experimentar novos espaços, aprender de outra forma, sem hierarquia entre atores e aproveitando, ao mesmo tempo, as particularidades de cada um. Nesse período, Zé Reis chegou a se apresentar na peça “O Santo Inquérito” e sob proteção da nova direção os alunos começaram a apresentar fora da escola, para outros públicos. “Isso do Wanden levar o grupo para fora foi algo que abriu os olhos para a profissionalização”, comenta.

Uma formação vasta e multidisciplinar

A primeira peça teatral profissional apresentada por Zé Reis se chamava “Mais uma dose para consumir em alguma noite de insônia”, uma adaptação da obra “Os sofrimentos do jovem Werther”, de Goethe, que foi quando o jovem ator de dezoito anos se envolveu em um projeto financiado pela FUNARTE. A obra, dirigida por Ernani Sanchez, montada em 45 dias, em ensaios que duravam oito horas diariamente, tinha no elenco, além de Zé Reis, as atrizes Ana Nero e Mariza Bogg. Posteriormente, Zé Reis ingressa no curso que, segundo o artista, foi a sua base no teatro. A experiência de quinhentas e cinquentas horas de vivência durante um ano com a professora Adriana deu as bases para a leitura dramática, interpretação, estudo do corpo, produção, método de trabalho, entre outros conhecimentos. Foi nesse momento, ele comenta, que o artista entendeu que cada ator pode criar o seu próprio modo de fazer teatral, sem necessitar de texto e outros elementos que até então pareciam essenciais. E as inúmeras experiências não param, pois o artista sempre procurou conhecer um pouco de cada área. Ao longo da sua trajetória como artista, Zé Reis destaca alguns de seus e suas formadores/as: Dudude Herrmann, Denise Stutz, Marcelo Evelin, Simone Reis Mott, Daniele Pavam, Giselle Rodrigues, Marcia Duarte, Cacá Carvalho (Brasil); Pablo Rotemberg, Inés Armas, Victoria Viberti, Silvio Lang, Vivi Iasparra e Lucas Condro (Argentina).

“O teatro e a dança entram na minha formação de maneira muito atravessada. Eu não estou tão interessado em definir a linguagem, estou mais interessado no que vem antes.” Zé Reis

Foto: Nityama Macrini

Frango e a fragilidade reprimida no corpo

“A dança é um rito fúnebre, ela já nasce fadada à morte. Ela desaparece no momento da criação”. A primeira obra propriamente autoral de Zé Reis se chama “Frango”, que é resultado de alguns questionamentos. Segundo o performer, antes de montá-la, ele trabalhou um tempo na produção do festival internacional de dança de Brasília Cena Contemporânea, onde conheceu o diretor argentino que conseguiu uma bolsa para o programa FACE – Formación de Artistas Contemporáneos para la Escena. Depois dessa experiência, Zé Reis retorna para Argentina em 2015 para estagiar na Compañía Nacional de Danza Contemporánea de Buenos Aires e frisa o quanto essas experiências foram importantes na sua formação em Dança. “Frango” começa a ser pensado em 2015, em Teresina, quando o artista começa a se questionar sobre o próprio corpo e a sua relação com o público. Para isso, Zé Reis começa a revisitar lugares, memórias da infância e a sua relação com a cidade para entender esse corpo atravessado por discursos que bloqueiam e castram. Desse processo de pesquisa de campo aos laboratórios e reflexões, nasce a obra que estreia em 2016. “O frango surgia como uma metáfora para falar de heternormatividade, de um corpo pré-fabricado para estar na norma, um corpo que se molda socialmente para manter o poder onde ele já está”, pontua.

Uma pausa no mundo da pressa

“As palavras abrem um outro campo de percepção. Eu começo muitos trabalhos pelo título.” Segundo o performer Zé Reis, os temas que recheiam a sua obra acompanham os seus momentos sentimentais e vivenciais, ou seja, têm a ver com o que o artista acredita e quer ver no momento. Nesse sentido, a nudez atravessou o seu trabalho quando ele conheceu Marcelo Evelin, em 2014, na sua primeira residência artística (Open Space), que aconteceu em São Luís. “A nudez é muito próxima da morte. Ou seja, é no corpo a corpo que a gente vence todos os medos. É só quando o corpo encontra o outro que a gente supera os preconceitos e os medos desse estranho que é sempre o corpo do outro, que é um território de fronteira. Então, entender e perceber isso me levou a refletir sobre a subjetividade do corpo”, relembra uma das frases ditas por Marcelo Evelin na residência. O seu novo trabalho, intitulado “Trago olhos cansados e ossos cheios de esperança”, fala desse novo momento do artista cuja parceria com Alexandre Américo propõe criar uma zona de suavidade, uma obra que trabalha com a harmonia no meio de tantas situações caóticas. Segundo os artistas, parir um trabalho é algo tão hercúleo atualmente, que ver a obra no mundo é motivo de festejo. Por isso, esse é o momento dos artistas se unirem.

Foto: José Ailson Nascimento

Paciência, teimosia e paixão

“Ser um profissional das artes é possível tendo paciência, teimosia e paixão”, frisa Zé Reis. Zé Reis é antes de tudo um artista honesto com o seu trabalho e engajado na árdua tarefa da sua formação. Com uma vasta experiência nas artes o jovem artista investe pesado na sua carreira e demonstra que criar é muito mais que paixão, é um método para construir um caminho profissional, desenvolvendo estratégias para a sua própria sustentabilidade nas artes. É necessário não apenas insistir na empiria, mas adicionar informações e nutrir inclusive financeiramente as artes, pois somente com esse equilíbrio em diversas frentes é que a arte pode dar suporte ao artista. Isso significa dizer que o artista não sobrevive do mínimo, mas é um trabalhador como qualquer outro e que precisa ser bem recompensado pelo que cria, pelo que propõe. Zé Reis, mesmo rompendo as fronteiras citadinas, sempre manteve o vínculo com a cidade forte, suas obras falam da sua cultura, da sua formação e da relação com a cidade.

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Trabalhos

Teatro/Dança

  Cinema

Como preparador de elenco

Como ator

 Oficinas ministradas

Outras fontes

Última atualização: 05/08/2019

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