Joames e a literatura de cordel que ilumina as mentes

O escritor, poeta, professor de Literatura de Cordel e repentista amador Joaquim Mendes Sobrinho, mais conhecido como Joames, nasceu em Pedro II-PI e é radicado em Teresina desde 1968. Joames faz parte da União Brasileira de Escritores, exercendo a função de diretor para assuntos relacionados ao Cordel (1977 – 1999), além de fazer parte da Associação dos Violeiros e Poetas Populares do Piauí e da Associação dos Poetas Populares de Timon e Região dos Cocais, sediada em Timon-MA. É autor das obras “As proezas de Konaré”, “Ajuricaba”, “Como fazer versos” e organizador da “Antologia dos cantadores e poetas populares do Piauí”. Organizou também, em parceria com Messias Freitas, a revista “As dez (10) piores drogas do mundo”. Além disso, Joames escreveu dezenas de cordéis e poesias avulsas.

“O principal objetivo da literatura de cordel é fazer com que as pessoas pensem.” Joames

Nome Completo: Joaquim Mendes Sobrinho

Descrição: Escritor, poeta, professor de Literatura de Cordel e repentista amador

Data de Nascimento: 05/06/1951

Local de Nascimento: Pedro II-PI

Escrito por: Alisson Carvalho
Revisado por: Paulo Narley

Educado pelo cordel

Imerso no cenário devastado pela seca de 1932, que se tornou inspiração para o conto “Tinta e Dois”, de Fontes Ibiapina, cuja obra mostra um pouco dos horrores desse evento, Simão Silvino, pai de Joames, saiu de Canindé-CE, sua terra natal, para abrigar-se em Pedro II, como fizeram tantos outros retirantes. Na cidade adotada, teve seus filhos que cresceram com essa ligação entre Piauí e Ceará. Segundo Joames, essa ligação era bem forte e, como na cultura cearense o cordel é muito atuante, sempre que a família do artista recebia um cordelista, eles compravam um ou outro cordel. Nesse período, Joames conta que não era muito comum ser alfabetizado, e, como ele aprendeu a ler por causa dos cordéis, a vizinhança sempre aparecia para escutar a leitura. Na época, a região ainda não era abastecida por energia elétrica, fato que fez com que essas leituras se tornassem um entretenimento para todos. “Raramente, alguém sabia ler no interior. Quem sabia, lia na luz da lamparina. A diversão era ler cordel”, relembra. O filho de repentista, que se radicou na cidade piauiense, apaixonou-se pela literatura de cordel e pelo repente. Sempre que seu pai e os amigos se juntavam, acabava em festa iluminada pela fogueira e pela cantoria dos artistas da região ou os repentistas nômades que passavam pela residência paterna.

Estudando o cordel

Joames, sempre apegado à Literatura de Cordel, sai da sua cidade natal e vem morar em Teresina, no ano de 1968. Porém, quando chegou na capital piauiense, passou, aproximadamente, três anos afastado do Cordel. Foi nesse período que o artista conheceu o professor, jornalista, repentista e poeta Pedro Mendes Ribeiro, que fundou a associação dos violeiros e começou a coordenar o Festival de Violeiros Norte e Nordeste que acontecia no Teatro de Arena de Teresina, segundo Joames. Essa aproximação motivou o artista a também escrever suas próprias poesias, que ainda não possuíam uma identidade e careciam de estrutura. Por isso, o artista começou a investigar e pesquisar sobre o Cordel e, posteriormente, sobre poesia de forma mais ampla. Justamente por não conseguir encontrar livros e manuais específicos para o que queria, Joames construiu o seu próprio manual e, com as regras aprendidas, publicou a obra “Como fazer versos”, que, atualmente, é uma das mais consumidas pelas escolas e interessados de várias regiões do Nordeste. O artista frisa que suas obras são encomendadas para diversas regiões, tanto do Piauí como Ceará, Pernambuco e, principalmente, Paraíba, que tem a Literatura de Cordel como tema obrigatório no currículo da Educação Básica.

A literatura de cordel

Segundo Joames, no Nordeste brasileiro, podemos encontrar uma vastidão de poetas populares que se destacam pela qualidade da escrita e que têm como principal característica a agilidade e a beleza da composição. Os cantadores são exímios manipuladores da palavra. Na obra “Como fazer versos”, Joames discorre sobre a transformação da poesia ao longo da história, além de demonstrar a estrutura do cordel de forma didática. Segundo o autor, foi na segunda metade do século XX que os escritores de poesia popular deram as caras no Brasil. Aqui, no Piauí, ele destaca os poetas Hermínio Castelo Branco e Firmino Teixeira do Amaral. Nesse período, as xilogravuras começaram a ser utilizadas para ilustrar as capas dos folhetos de cordel. E, embora o rádio e a televisão tenham suplantado a poesia popular, em 1971, no Piauí, surge um movimento que tentou defender essa expressão artística, idealizado por Pedro Mendes Ribeiro e que ajudou a revelar tantos outros talentos.

“A literatura de cordel já foi um veículo de comunicação para as massas e agora sobrevive como cultura. ” Joames

Processo criativo rigoroso

Joames conta que o seu processo criativo é bem rigoroso, pois ele é muito cuidadoso com o que publica, dessa forma a sua poesia passa por um intenso processo de autocrítica. Para Joames a inspiração é um dom que é espontâneo e aleatório. Depois que a inspiração surge tudo flui com naturalidade. Apaixonado por leitura, ele conta que um escritor antes de tudo tem que ser um leitor assíduo e relembra com orgulho que sua biblioteca pessoal já possuiu seiscentos livros, hoje possui metade do acervo, pois a outra metade foi doada para uma escola do bairro Grande Dirceu em Teresina. Para o escritor e cordelista a obra tem mais valor circulando do que ociosa nas prateleiras. “Eu não sei ficar em casa sem estar estudando. Eu sou um leitor compulsivo e agora com internet eu tenho muitas fontes de pesquisa”, afirma.

Herói do cordel

Joames tem uma história de vida com os cordéis, desenvolvendo um trabalho árduo em prol da Literatura de Cordel. Já foi vencedor do Concurso de Literatura de Cordel da Casa do Cantador (1995), com o título “O cordel e o repente por caminhos diferentes”, no qual expôs os frutos de suas investigações e leituras sobre o assunto. Atualmente, Joames tenta desenvolver trabalhos mais voltados para a educação básica, tanto para informar e despertar o interesse pela poesia popular quanto por acreditar que isso gerará emprego para os diversos cordelistas e repentistas da cidade. “A poesia popular é uma forma de poesia que usa uma linguagem simples, sem palavras rebuscadas, mas uma linguagem correta”, frisa. A poesia popular é, segundo o escritor, uma forma de descrever o mundo, informar, que aproxima a linguagem dita ou escrita com o dia a dia das pessoas, independente de classe social ou escolaridade. Os cordéis tratam de assuntos densos, complexos, como é o caso do livro “As proezas de Konaré”, escrito por Joames, cuja essência é provocar a sociedade e questionar o preconceito racial e econômico. “Nesse cordel, eu consegui criar um personagem que ninguém sabe quando ele nasceu e ele nunca morrerá, enquanto existir humanidade ele existirá”, provoca Joames.

Pensando o cordel na Cultura

“O principal objetivo da literatura de cordel é fazer com que as pessoas pensem”, pontua Joames, que foi transformando a paixão pelo cordel no seu ofício, o qual desempenha com tanto rigor e devoção. Para o escritor e cordelista, o cordel foi resistindo às transformações e sendo ressignificado nesse trajeto, ocupando um espaço muito importante atualmente, que é o de patrimônio cultural, já que deixou de ser um meio de comunicação para se tornar uma expressão da cultura popular. O artista se tornou uma das referências do cordel piauiense e trabalha no sentido de democratizar cada vez mais a poesia popular, pois acredita que é só por meio da informação e conhecimento que as novas gerações podem conhecer e se apropriar dessas manifestações culturais e artísticas. “A mente, como qualquer membro do corpo, precisa ser exercitada. Se eu não penso na cultura, eu nunca vou desenvolver a cultura”, diz.

Contatos

Tel: 86 9 9566-2042/ 9 8804-6199

E-mail: poetajoames5@gmail.com

Fotos

Obras

“As proezas de Konaré”;

“Ajuricaba”;

“Como fazer versos”;

“Cordel e o Repente por caminhos diferentes;

“Antologia dos cantadores e poetas populares do Piauí”;

“Revista: As dez (10) piores drogas do mundo”.

Outras fontes

https://www.webartigos.com/artigos/o-resgate-da-literatura-de-cordel/62629/

http://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/2014/12/piaui-cria-primeira-academia-de-cordel-do-brasil.html

Última atualização: 08/07/2019

Caso queria sugerir alguma edição ou correção, envie e-mail para geleiatotal@gmail.com.

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