Gosto do desafio, acho interessante estar do lado menos abastecido por recursos, isso me permite avaliar a situação no estado de risco. Não tenho talento para a escrita, não tenho talento para o desenho, não tenho talento para a pintura, não tenho talento para o teatro, não tenho talento para nada. Não nascer com talento foi interessante, provocou uma sensação que admiro muito em mim: a curiosidade.
Comecei a garimpar informações sobre as coisas, tudo bem que de maneira bem tímida, mas ainda assim fui tentando romper as camadas rochosas da ignorância. Sempre fico angustiado com o quão burro sou, fico extremamente decepcionado com meu desempenho em tudo que escrevo, pinto, desenho e produzo. Talvez a única coisa que tenha me agradado levemente foi o conto “Café de velório” avaliado num dos concursos que participei por um dos contistas que mais admiro e que infelizmente já faleceu, o escritor Airton Sampaio.
Talvez só por isso eu ainda não consegui reler o tal conto (embora já tenha feito isso inúmeras vezes antes de saber sobre a fatídica notícia da morte do escritor que admirava) e nunca tenha escrito nada que supere aquela criação. Não sei. Só sei que essa angústia em nunca me sentir satisfeito com o que eu faço, embora seja torturante, me faz pensar neste lado, nessa perspectiva de alguém que nunca produz nada interessante.
Geralmente culpariam as tintas, os pincéis, a caneta ou a falta de algum recurso básico, eu não, sou bem realista, sei que a falha parte do manipulador do instrumento chamado criação e diante disso tento encontrar alguns caminhos, alternativas para modificar a ineficiência da minha performance.
Sempre que constato a falência do esforço, retomo o caminho – garimpo no que já foi produzido por outros tentando encontrar algum indício ou dado que explique a minha derrocada. Retomo a leitura (no singular mesmo).