O contista e poeta JL Rocha do Nascimento lança seu primeiro livro individual de contos “Um Clarão dentro da Noite”, pela Scortecci Editora. Com contos publicados desde meados da década de 1970, esse é o primeiro vôo solo do autor que concilia a atividade de escritor com a de Juiz do Trabalho e o magistério de ensino superior.
Uma das inovações da obra é a ausência de índice. Segundo o autor, o livro segue um roteiro composto de abertura, parte I, interlúdio, parte II e epílogo e demonstra a influência do cinema no trabalho do contista. “Essa estrutura proporciona uma conversa entre a literatura e a sétima arte. É como uma linha do tempo no enredo de um filme ou uma série”, diz JL.
O conto que intitula a obra abre alas e anuncia o que vem depois, em seguida a primeira parte é apresentada com 10 contos de temática comum, com um permanente diálogo entre eles. Depois temos um interlúdio com um conto que separa as duas partes, uma espécie de “parada para trocar o rolo” que ocorria nas antigas sessões nas salas de cinema. Entra em cena então a segunda parte do livro com mais 10 contos que dialogam entre si. Aqui, as narrativas são mais densas na perspectiva da construção e da psicologia das personagens. O Epílogo que fecha a cadeira narrativa é uma das chaves de leitura do livro. Como um “metaconto”, é a história das agruras de um contista se sentindo um estranho no ninho dos poetas.
Sobre os contos
Cruel por natureza, o conto moderno nem sempre vai direto ao ponto, mas geralmente põe o dedo na ferida. Além de ser levado texto adentro para conviver com personagens, rotas, cenários e subjetividades dilaceradas, o leitor defronta-se com uma linguagem inquietante, compatível com o que o autor quer (ou ameaça) narrar. Isso pode aumentar o desespero, mas uma coisa é certa: o leitor não sairá incólume das narrativas. É possível que estas lhe causem o estranhamento necessário nestes tempos toscos, para ajudar a entender para que serve a realidade, que a arte imita de forma reinventada e, no caso de Um clarão dentro da noite, de J. L. Rocha do Nascimento, também saborosa, apesar de crudelíssima, em boa parte dos contos.
O autor que não tem receios de penetrar em territórios difíceis, até porque sem estes não há literatura. Na maioria de seus contos, o autor mergulha nos desvãos da cidade, para criar personagens psicologicamente densos, apesar do caos onde estão mergulhadas. O absurdo de alguns contos é, ao mesmo tempo, chave de leitura e instaurador de outra realidade.
Em sua linguagem, o tratamento conferido pelo autor torna os contos modernos. Intertextualidade, fragmentação, justaposição e cortes semelhantes aos usados na linguagem cinematográfica são recursos conscientemente manejados por J. L. Rocha do Nascimento para construir este livro instigante, que pede a cumplicidade do leitor para partilhar da busca de sentido humano, que parece ser tarefa de toda literatura.
Sobre o autor
Piauiense de Oeiras, nascido em 16 de maio de 1959, J(oão) L(uiz) Rocha do Nascimento é contista e poeta, além de juiz do Trabalho e professor universitário. Começa a escrever ainda estudante aos 17 anos de idade em meados da década de 1970 e tem seus primeiros contos publicados a partir de 1977, entre coletâneas e concursos nacionais. Membro do grupo Confraria Tarântula de Contistas, com o qual assina Um dedo de prova, Os vencidos e Dei pra mal dizer e mantém a página confrariatarantula.blogspot.
Serviço:
Lançamento do livro “Um Clarão dentro da Noite”, de JL Rocha do Nascimento, sexta-feira, 31 de maio, a partir das 18h30 na Livraria Anchieta, avenida Nossa Senhora de Fátima, 1557.