O poeta francês Guillaume Apollinaire inventou a palavra surrealismo. Em duas oportunidades no ano de 1917 ele utilizou o termo para caracterizar duas proposições artísticas. Em uma dessas oportunidades ele usou o termo para falar sobre o balé Ballets Russes de Serguei Diaguilev, no qual disse as seguintes palavras “une sorte de sur-réalisme” onde, em uma tradução seria uma espécie de surrealismo, algo “além do realismo”.
No final dos os de 1923, um jovem artista se encontrava desiludido com o movimento artístico o qual ele fazia parte. Esse jovem era André Breton , um poeta francês que estava fortemente influenciado pelas ideias do psicanalista Sigmund Freud, em especial pelas pesquisas relacionadas ao papel desempenhado pelo inconsciente no comportamento humano. Tendo isso tudo a cabeça, Breton olhou para o passado, mais precisamente para o ano de 1917 para batizar o novo movimento artístico que ele havia criado. Assim, Breton criava o Surrealismo.
Salvador Dali fez parte desse movimento.
Frida Khalo também.
Você, caro leitor deve está se perguntando “e eu com isso, chegado? O que eu tenho a ver com esse tal de surrealismo?”
Bem, talvez muita coisa. Talvez você seja uma pessoa que se interessa por livros ou filmes com historias fantasiosas – sim, eu sei que você, assim como todo mundo, gostou de Edward Mãos de Tesoura e assistiu ele na Sessão da Tarde. Ou você é aquele tipo de pessoa que acorda de manhã depois de sonhar com algo e busca na internet sites que mostrem os possíveis significados desse sonho.
Esse movimento artístico trouxe a tona a discussão de algo que todos nos um dia já paramos para analisar (ou pelos menos tentar): os sonhos. Buscar o significado para o que a gente não conhece.
O movimento Surrealista tem netas e netos morando aqui em Teresina. Esses herdeiros do movimento europeu resolveram se juntar e criar uma exposição/coletivo chamada Piauhy Surreal Group, que está sendo exposta lá no Mercado Velho (sim, aquele mercado que fica perto da praça da Bandeira, perto do Museu do Piau, do Shopping da Cidade, Troca-Troca…) desde do dia 27 de abril. Eu poderia usar esse texto para dizer as características de cada artista dessa exposição , mostrando a aproximação deles com o pessoal da Europa de 1923…mas não, não irei fazer isso. Ao contrário, irei convidar você para ir lá e perceber o que vou dizer agora. As raízes dessa exposição se prendem ao que a arte do hoje vem fazendo: buscando no passado formas de entender o presente. Observa com atenção o nome da exposição, remetendo o nome Piauhy!! É ou não é um resgate de um passado do nosso estado?
Quando eu adentrei a galeria do Mercado Velho, no dia da abertura da exposição, observei, logo de cara, uma estatua do artista Braga Tepi. Aquela peça, um enorme braço de ferro fundido, feita de varias peças, colocada bem na entrada da exposição me puxou para dentro do mundo surrealista daqueles artistas. Era como se o espírito de Breton me pegasse pelo braço e dissesse “vem cá ver as minhas crias” e me levasse pra dentro de um mundo que transita entre sonhos, medos, monstros, crises e tudo que a gente sabe que sente mas não sabe explicar. Era como se cada um dos artistas que estão ali, convidassem quem via a exposição pra vivenciar o coisas “além do realismo”, como disse Apollinaire.
E preciso que a gente faça o que esses artistas estão fazendo: olhar “além do realismo”. Foi fazendo isso que essa galera mostrou pra gente que todas as nossas dúvidas podem ser respondidas com coisas que pulsam dentro de nós. Coisas que no fundo são pequenas partes que fazem a gente ser real.
Mas, o que é ser real?