E junho veio enfim, e como ele a moagem,
o ruído do engenho e as cheirosas tachadas.
E junho veio enfim, concedendo a hospedagem
aos que costumam vir brindar as vaquejadas.
Convidam-se ao redor, os vizinhos amigos,
e os vaqueiros que vêm testar a valentia.
Agregados se dão ao preparo de abrigos
Que vão dar cobertura aos heróis da porfia…
Entrega-se à alegria o povo da Fazenda.
Há latidos de cães no paio da morada
e os homens conversando, enquanto armam a tenda,
põem-se a rememorar casos de vaquejada.
Adiante, esfolam bois para fazer tassalhos
e o machado golpeia, enquanto o facão talha.
Na cozinha, onde alguém resmuninha entre ralhos,
rude não de pilão, sobre a paçoca, malha.
E do forno de barro, arrastam cinza e brasa
para enfiar ali, muitas flandres de bolo:
cariri, caridade, e os sequilhos de casa,
pamonha, manauê, a peta, o engana-tolo.
Visitas da cidade os carros vêm trazer.
Chega o compadre branco e também chega o preto,
que as honras têm iguais no trato a receber,
e a carne vai servir aos dois no mesmo espeto.
Feliz o fazendeiro, exige na festança
tudo que há de melhor, fartura sem rival,
porque sempre viveu e vive na abastança,
que tributar desvelo é dom patriarcal.
E junho se derrama, alegrando as Fazenda
como o dinheiro do gado após a apartação,
transportando o Divino, a colher oferendas,
trazendo o boi-bumbá na festa de São João.
Alvina Gameiro, obra “Chico Vaqueiro no meu Piauí” (Poesia cordel 1971)