O que morre, Francisco Miguel de Moura

Casa e caminhos morrem desamados,

esquecidos, na solidão do Além.

Os segredos falecem de guardados,

e amores morrem quando morre alguém.

O porto morre. A onda se esvazia.

E o sonho esvai-se quando acorrentado.

A treva nasce do morrer do dia.

Morre o rico, o feliz e o desgraçado.

Nada é imortal, pois o que nasce vibra

somente um instante para a queda enorme,

eis que essa lei fatal tudo equilibra.

Morrem lembranças, fruto do passado,

e o presente e o futuro quando dorme

o homem sem fé, sem luz, abandonado.

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