A piauiense Milena Andrade da Rocha nasceu em Santa Cruz dos Milagres, zona rural do Piauí, e é radicada em Teresina desde 2013. Ela é Técnica em Administração, pelo Instituto Federal do Piauí; formada em Jornalismo, pela Universidade Federal do Piauí; e radialista. Desenvolveu alguns trabalhos na área do jornalismo, fez produção audiovisual de três documentários (“Só com a Ajuda do Santo”, “Vidas em Rota” e “O pranto do Artista”) do coletivo LabCine, compôs a equipe de Som Direto do documentário “Afinado a Fogo”, financiado pela Ancine. Fez assessoria de imprensa e social mídia do Circuito Alternativo de Jazz, Blues, Artesanato e Ecoturismo, dentro do Festival de Inverno de Pedro II, além de outros trabalhos. Fez mobilidade acadêmica internacional por meio do programa BRACOL, Brasil/Colômbia, onde estudou audiovisual e participou do Festival Internacional de Cine de Cartagena de Índias (FICCI), no Caribe colombiano. Em 2018, Milena Rocha foi contemplada com o edital de mostra por meio da Parada de Cinema, com o documentário “Mulheres de Visão”.
“O audiovisual é uma forma de impactar com mais empatia.” Milena Rocha
Nome Completo: Milena Rocha
Descrição: Cineasta
Local de Nascimento: Santa Cruz dos Milagres
Escrito por: Alisson Carvalho
Revisado por: Paulo Narley
Infância em Santa Cruz dos Milagres
Milena Rocha cresceu rodeada de pessoas, acompanhando as procissões e o movimento religioso de Santa Cruz dos Milagres. Ela era coroinha da igreja e recolhia os objetos das promessas deixados pelos devotos e isso aguçou a sua curiosidade pelas possíveis histórias por trás de cada objeto. Além disso, Milena sempre gostou muito de ler, escrever e fotografar. Ainda na infância, ela já fotografava com a máquina fotográfica do seu pai. Na adolescência, teve contato com a palhaçaria. Por isso, desde pequena, Milena Rocha cultivou o hábito de se encantar por histórias, pois aprendeu o valor da memória oral que compunha o imaginário popular. Esse contato com o universo sacro foi materializado pelas encenações organizadas por ela e pelos seus colegas que percorriam a cidade apresentando diversas histórias, como a que deu origem à cidade.
Redescobrindo a cidade
A participação em diversas pastorais da igreja fez com que Milena Rocha cultivasse o hábito de viajar. Além disso, as suas vivências na cidade natal foram aproximando-a da futura profissão, tanto pelos projetos sociais dos quais fez parte quanto pela articulação como futura comunicadora, pois desde cedo ela já se apresentava nos programas das rádios comunitárias. A busca pela formação acadêmica fez com que ela deixasse o lar para estudar em Picos e, posteriormente, se mudasse para Teresina, objetivando cursar o Técnico em Administração pelo IFPI. Milena rememora como foi a transição de cidades e conta como foi readaptar-se e construir a sensação de pertencimento em outro município. Essa sensação de pertencimento só foi construída à medida que ela começou a trabalhar no Instituto Comradio, no projeto Um Olhar para a Cidadania, que acontecia na Associação dos Cegos do Piauí (ACEP). A experiência na ACEP fez com que Milena Rocha dilatasse ainda mais a sua própria percepção artística, pois lá ela precisou trabalhar com oficinas que aperfeiçoassem outros sentidos além da visão. Milena Rocha aprendeu a enxergar o mundo por meio da vivência na ACEP.
A imersão no audiovisual
Em 2014, Milena Rocha ingressou no curso de Jornalismo, na UFPI, e não tardou muito para que ela começasse a participar dos encontros estudantis. Logo no seu primeiro evento acadêmico, Milena conheceu a Comunicação Social Alternativa, área que mais condizia com os seus anseios, por tratar de hegemonia, mídia, poder, comunicação pública, comunicação comunitária. E foi a experiência acadêmica que aglutinou o grupo de estudantes interessados em audiovisual. Segundo Milena Rocha, sua primeira vivência com o audiovisual aconteceu com o convite para participar de uma intervenção organizada pela pastoral da terra, em Bom Jesus, para a gravação de um documentário sobre posseiros e grileiros de terras.
Na universidade, ela e outros estudantes decidiram criar uma revista para abordar diversas pautas a partir da comida, assim, organizaram a revista De Comer e a partir disso começaram a gravar vídeos. Durante esse período, a relação de Milena com o audiovisual era algo mais institucional, até que, em 2017, ela se inscreveu em uma bolsa para ir à Colômbia, onde cursaria algumas disciplinas de publicidade, fotografia e produção audiovisual. Posteriormente, quando retornou ao Brasil, Milena começou a produzir, com outros estudantes, alguns trabalhos de conclusão de curso e dessa assistência dada aos concluintes surgiu a ideia de produzir o documentário “O pranto do Artista”. Depois disso, foram surgindo outras oportunidades de produção cuja construção geralmente envolvia um mergulho, uma imersão, um trabalho etnográfico. A partir desse esforço estudantil, e de forma bem espontânea, surgiu o coletivo LabCine.
“A gente precisa ter mulheres pensando em todos os espaços de produção. Eu acho que a gente vive esse momento de rediscutir esse lugar”. Milena Rocha
Mulheres de Visão
A experiência com a Associação dos Cegos do Piauí (ACEP) aproximou Milena Rocha desse universo, despertando a preocupação pela acessibilidade no audiovisual, como a audiodescrição. Segundo Milena, as mulheres do grupo da ACEP queriam debater temas específico sobre mulheres, então, criaram o grupo de mulheres cegas e mulheres de baixa visão. O grupo começou a crescer, incluindo mulheres de outros municípios e, posteriormente, de várias regiões do Brasil. Então, as próprias participantes sentiram a necessidade de marcar um encontro e pediram a assistência de Milena como mediadora da reunião, que se tornou o Primeiro Encontro de Mulheres Cegas do Brasil, sediado em Teresina. No evento, que durou três dias, discutiu-se afetividade, sexualidade, tecnologia e etc. A partir dos podcasts gravados, surgiu a ideia de gravar um documentário, que só se concretizou com a feitura da monografia de Milena Rocha. Por sugestão da orientadora, Ana Regina Rego, a ideia foi transformada em projeto, até que surgiu o edital da Parada de Cinema que serviu como gatilho para acelerar a produção. O documentário ganhou o prêmio de Melhor Direção, na Parada de Cinema, entre outros prêmios contemplados em outros festivais brasileiros. Além disso, o documentário destaca-se pelo pioneirismo em termos de acessibilidade, pois é totalmente acessível, contendo tecnologias assistivas como LIBRAS, audiodescrição, Closed Caption e legenda em inglês.
Memórias de palha e barro
Inspirada nas histórias do cotidiano e com referências do coletivo “Caboré” e outros grupos nordestinos, Milena Rocha foi se nutrindo com o audiovisual e conta que o Jornalismo fez com que ela enveredasse mais para esse campo, embora todos tenham certa ligação com a imagem e o cinema. A LabCine também é resultado dessa vontade de produzir no audiovisual em um lugar que não tem formação na área, por isso, tudo acontece muito pelo esforço de quem está na área. Dessa forma, o cenário acabou favorecendo para a produção do audiovisual alternativo, embebecido pelo Jornalismo. Segundo a cineasta, a universidade era um espaço de experimentação. Atualmente, o seu processo de criação é atrelado à própria exigência de produzir um material que envolve também um amadurecimento no método de produção. “A gente tem uma estética alternativa e pertence a essa estética por falta de equipamentos, mas eu acho que, até se a gente tivesse esses equipamentos, nós trabalharíamos da forma como trabalhamos”, comenta Milena Rocha.
A etnografia da criação
Milena Rocha faz do audiovisual a possibilidade para rever as próprias crenças. Sempre imersa no trabalho que comporá a obra, ela se debruça sobre o ambiente, as vivências e os sujeitos filmados. Nessa etnografia, busca compreender as sutilezas do universo filmado para também envolver a identidade das personagens dentro da produção. No decorrer desse processo autorreflexivo, as próprias personagens se tornam partícipes e integram-se à produção. “O processo todo é fazer com, e não sobre”, frisa Milena Rocha. A cineasta, que nunca deixou de criar e se movimentar, demonstra essa inquietação no processo de criação e consegue apreender, com muita sensibilidade, particularidades das suas personagens. Milena Rocha aprendeu a trabalhar com os recursos disponíveis e sempre exigindo de si o seu melhor. A cineasta, que é uma das poucas profissionais do estado, frisa a importância de ocupar espaços, tanto no audiovisual como nas outras áreas: “A gente precisa ter mulheres pensando em todos os espaços de produção. Eu acho que a gente vive esse momento de rediscutir esse lugar”.
Contatos
Facebook.com/milenaandradedarocha
E-mail: mandapramilena@gmail.com
Fotos
Vídeo
Experiência Profissional
2013 à 2017| Assessoria | Coordenação de Projetos na Comunicação, Juventude, Acessibilidade e Sustentabilidade, no Instituto Comradio
2015 | Planejamento | Organização e Assessoria do Intercâmbio América latina e Brücke Le pont. [Suíça, Brasil, Bolívia, El Salvador e Honduras]
2015| Assessoria de Imprensa do Encontro Brasileiro de Mulheres Cegas e com baixa Visão.
2015 | Comissão Organizadora do I SEMINÁRIO REGIONAL NORTE NORDESTE (Convergências Midiáticas): “O futuro das rádios comunitárias em tempos digitais”, Teresina. Piauí.
2016 | Oficineira de produção de conteúdos no Encontro Baiano de Mídia Livre, Salvador Bahia.
2016 | Repórter no Projeto de Extensão em Jornalismo Ambiental. (BIAMA/UFPI)
2016 | Oficina de Divulgação Científica no Seminário Convergência Midiática e o Futuro das Rádios Comunitárias. Organizado pela Associação Mundial de Rádios Comunitárias. Campinas, São Paulo.
2017 | Oficineira de Produção de conteúdos para internet no Encontro de Educação e Software Libre, Uneb, Campus Conceição do Coité | Bahia.
2017 | Produção audiovisual (entrevistas, produção, câmera e montagem) de Três documentários com o coletivo LabCine, Teresina. Piauí.
2018| Equipe de Som Direto do Documentário “Afinado a Fogo”, financiado pela Ancine.
2018 | Assessoria de Imprensa e Social Mídia do Circuito Alternativo Jazz , Blues, Artesanato e Ecoturismo dentro do Festival de Inverno de Pedro II.
2018| Assessoria de Imprensa, Mídias Sociais, Fotografia e Propaganda Eleitoral da Campanha Política da Candidata a Deputada Federal Fabíola Lemos.
2018 | Oficina uso das mídias sociais para engajamento comunitário, para jovens rurais do Projeto Viva Semiárido financiado pelo, Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola, na cidade de Jacobina do Piauí.
2018 | Oficinas de produção Audiovisual para Jovens do Semiárido. Projeto coordenado pelo Instituto Comradio. Floriano. Piauí.
2018 | Vídeo Institucional sobre o curso de Juristas Populares, coordenado pela Comissão Pastoral da Terra, na região afetada pela Transnordetina, Parque Eólico e Mineração. Fronteira Piauí, Pernambuco.
Outras fontes
Última atualização: 15/01/2019
Caso queria sugerir alguma edição ou correção, envie e-mail para geleiatotal@gmail.com.