Demetrio Albuquerque: esculpindo vidas

Demetrio Albuquerque Silva Filho é natural de Teresina, radicado em Pernambuco (onde se formou em Arquitetura pela UFPE). Escultor autodidata, frequentou cursos e ateliers em Teresina e Recife. Em 1988, fez parte da equipe vencedora do concurso para o “Monumento Tortura Nunca Mais”, finalmente construído em 1993, sendo o primeiro monumento do tipo no país. Em 1989, muda-se para Curitiba (onde permanece por dois anos) e faz o curso profissionalizante de escultura, do Centro de Criatividade do Parque São Lourenço, com especialização em fundição de bronze. Ganha o “Prêmio João Turim”, em 1991, no 1º Salão do Museu João Turim, em Curitiba, com as esculturas Migrante e Andaluz. Posteriormente, em 1993, muda-se para o Japão, onde faz curso de cerâmica (Yakimono) e realiza a exposição Karada, em 1995, em Ashikaga-shi. Em 1996, retorna a Pernambuco e funda o atelier Demetrio Esculturas, em Olinda, onde passa a realizar projetos, principalmente de esculturas para exterior, tais como: “A Pedra” (2002), “Caboclo de Lança” (2003), “Circuito da Poesia do Recife” (2005/2006, atualmente, com dezessete estátuas representando poetas e músicos de Pernambuco), “Burle Marx” (2006), “Dom Hélder Câmara” (2007), “Mestre Vitalino” (2007), “Monumento a Augusto dos Anjos” (2008), “Caminho da Pedra” (2015), “Caminho da Pedra – Circulação” (2018) e “Queima” (2018). “Eu continuo devoto do desenho, eu acho que o desenho é o início de tudo”, pontua Demetrio Albuquerque.

Nome Completo: Demetrio Albuquerque Silva Filho

Descrição: Escultor

Data de Nascimento: 07/11/1961

Local de Nascimento: Teresina

Escrito por: Alisson Carvalho
Revisado por: Paulo Narley

 

A infância em Teresina

Demetrio Albuquerque nasceu e cresceu no Bairro Centro, Rua Lisandro Nogueira, em Teresina, e passou a infância perambulando de bicicleta pelos bairros da cidade, banhando nos rios. O escultor sempre esteve ligado ao desenho e esse gosto foi alimentado e fortalecido pela família. Ainda na infância, Demetrio apaixonou-se pelo desenho quando descobriu as técnicas para reproduzir os desenhos da Walt Disney, pois foi na reprodução dos personagens conhecidos que ele percebeu-se capaz de investir no talento. “Eu ficava fascinado porque eu também conseguia fazer aqueles desenhos. Você decide mesmo é quando você olha e reconhece. Aristóteles fala que a gente reconhece a verdade eterna, a beleza eterna e a justiça eterna quando encontra ela na Terra, ou, pelo menos, algo similar a ela”, diz Demetrio. O HQ era a principal fonte de inspiração para o artista na infância e uma das suas tias, Socorro Franco, diretora de uma escola que valorizava as artes e conhecimentos holísticos, percebeu o dom do sobrinho e o presenteou com materiais de pintura como telas, tintas, bisnagas de óleo, quando ele tinha apenas seis anos de idade.

Conhecendo a escultura

Ainda em Teresina, Demetrio Albuquerque chegou a assistir à construção das esculturas do Mestre Dezinho na Igreja Nossa Senhora de Lourdes, mais conhecida como a Igreja da Vermelha. Posteriormente, Demetrio presta ingressa na Universidade Federal de Pernambuco e passa a cursar Arquitetura, oportunidade que permitiu o artista conhecer a cidade e se enveredar de vez para a escultura. Demetrio apaixonou-se pelas obras expostas na cidade e frisa a importância da lei sugerida por Abelardo da Hora, que obriga a existência de obras de arte em alguns tipos de edificações, segundo o artista, por isso a cidade de Recife se tornou um centro de exposição aberto, ao ar livre. O despertar da paixão pela escultura fez com que Demetrio começasse a frequentar os ateliês conhecidos na cidade para aprender os métodos de composição das esculturas, o artista foi aprendendo com outros artistas e se se integrou aos artistas dos ateliês coletivos, nesse período ele conheceu a técnica de usar o cimento, mais usadas para esculturas ao ar livre.

Monumento Tortura Nunca Mais

Depois que concluiu a graduação, Demetrio Albuquerque participou como escultor do concurso público no qual a prefeitura de Recife-PE previa a construção do monumento e revitalização do local que receberia a obra. O concurso aconteceu em 1988 e foi tanto a primeira obra da carreira do escultor como o primeiro monumento que homenageou as vítimas do Regime Militar no Brasil, sejam eles mortos ou desaparecidos políticos. O Monumento Tortura Nunca Mais mostra o corpo de um homem despido, em posição da tortura de pau de arara e foi concebido depois das pesquisas e entrevistas feitas pelo artista com famílias e pessoas torturadas. “Eu me surpreendi, pois não eram relatos de derrota, eram relatos de vitória. Havia uma força muito grande, então, eu não quis torturar mais um. Por isso, eu não fiz uma figura lascada, toda torturada para poder denunciar isso. Eu vou fazer uma figura forte, ela estaria numa posição vexatória, mas por dentro estaria inteira, pois o grande objetivo da tortura é te destruir por dentro”, frisa Demetrio Albuquerque. A obra, que foi inaugurada em 27 de agosto de 1993, inspira até hoje as novas gerações de artistas. Além de promover debate em torno do tema das violações dos direitos humanos, é um importante ponto turístico de Recife.

Caminho da Pedra

Em 2015 Demétrio Albuquerque propõe a exposição “Caminho da Pedra” que segundo Raul Córdula: Todas essas esculturas possuem um sentido alegórico que se manifesta em quase toda sua obra. Essa mostra intitulada Caminho da Pedra é uma alegoria ao reino mineral. E se aprofunda dizendo: “Caminho da pedra é a instalação que Demetrio entrega para os olhos do público. Ele faz uma viagem simbólica a partir da movimentação dos minerais – desde a rocha bruta até a argila de aluvião, isto é, a pedra, concentração dos minérios que fundamentam a existência desde o bing bang -, representada pela obra ígnea, em que se vê o rosto de uma figura humana integrada com a própria pedra como uma só coisa. Em seguida, apresenta a “erosão”, a dissolução pela água, ela mesma um mineral, e pelo vento, reação da própria dinâmica que torna possível a matéria. A escultura representa uma figura humana nascendo ou se enterrando na pedra. Depois, a instalação da mostra se funde com pedras espalhadas pelo terreno, e, entre elas, está a escultura Pétreo, uma figura montada numa pedra que nos lembra de que a civilização existe a partir da pedra.
O segundo movimento desta mostra nos leva ao artista, que experimentou suas primeiras vivências com a argila na comunidade japonesa de ceramista de Ashikaga-shi. Nesse ponto, vemos suas ligações sociais no conjunto Emboladas, no qual retrata manifestações da arte popular como o maracatu e o Carnaval, ou em Ciranda, em que estão representadas cabeças de gente do povo. Continuamos diante de grupos alegóricos que são como projetos para monumentos e percebemos a marca do escultores de Recife, como Abelardo da Hora, Corbiniano Lins, Brennand e Jobson Figueiredo, por exemplo – artistas que se confundem com o Recife. Pode-se dizer que Demetrio é um sucessor dessa forma de fazer arte, sendo ele o mais jovem do grupo tradicional dos escultores que têm a cidade como suporte para sua arte.”

O desenho como expressão do pensamento

Outro projeto de destaque de Demetrio Albuquerque é o “Circuito da Poesia do Recife” (2005/2006), composto atualmente por dezessete estátuas representando poetas e músicos de Pernambuco. Segundo Demetrio, a tradição desse tipo de escultura começou com o escultor Abelardo, que teve a ideia de baratear as técnicas artísticas. Além disso, ele fez um centro de educação popular como Secretário e foi responsável por aproximar as camadas populares à arte, já que a escultura era algo mais elitista. Demetrio é descendente dessa política de interação com o público. O projeto Circuito de Poesia começou singelo, com a construção de poucos bustos dos poetas, mas o artista propôs a criação de uma arquitetura contendo um circuito temático focando nos poetas. Atualmente, Demetrio usa mais a cerâmica e conta que trabalhar com esse material é como compor o repente, pois tem um mote, um tema, mas o resultado final é algo quase impreciso. “A argila tem uma destilação de energias da natureza. E ela é uma coisa líquida ou mole que você queima e volta a se transformar em pedra”, diz Demetrio. O escultor transitou pela pintura e chegou a ser contemplado em concurso no MASP. Além disso, já trabalhou também como cenógrafo em teatro e programas de televisão, a experiência exigia dele o cruzamento da sua experiencia como pintor, arquiteto e escultor.

O esmero com a arte

“Não basta você só fazer arte, você tem que colocá-la bem, mostrá-la”, crava Demetrio Albuquerque. O artista foi colhendo, com o tempo, o material teórico e prático para desenvolver a sua arte e encontrou sua identidade artística nessa trajetória que envolve diálogos, prática e muita pesquisa. Demetrio, que já foi aluno de Ariano Suassuna na disciplina de Estética, do curso de Arquitetura, percebeu, por meio do educador, que uma das características mais marcantes dos artistas é o senso de independência. “A aula dele era um espetáculo, muito teatral e, além de ser muito engraçado, ele tinha muito conhecimento. E ele falava da independência cultural”, relembra o escultor. Demetrio Albuquerque é um artista inspirado que tem um profundo respeito pela profissão e pela arte, absorveu da filosofia oriental a dedicação com a obra, sempre empregando um profundo esmero e cuidado nos materiais do seu ofício.

Contatos

instagram.com/demetrioesculturas/

facebook.com/demetrioalbuquerque61

demetrioalbuquerque@gmail.com

Fotos

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Vídeo

Exposições

“Caminho da Pedra” (2015).

Outras fontes

https://visit.recife.br/o-que-fazer/atracoes/monumento-tortura-nunca-mais

https://www.youtube.com/channel/UCaKbNzMoTylsE4cubp2atjQ

https://www.youtube.com/watch?v=2i71-HWDs5U

Última atualização: 11/02/2019

Caso queria sugerir alguma edição ou correção, envie e-mail para geleiatotal@gmail.com.

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