Toda tradição secular começou do zero algum dia, por Noé Filho

Nós herdamos uma série de tradições históricas que dizem muito sobre nossa origem, nossa cultura e nossa terra. É lindo poder celebrá-las e é fundamental que possamos compreender e transmitir essas tradições adiante. E elas não são tradições por acaso. Sobrevivem ao tempo por sua importância para a população e por conseguirem mobilizar pessoas em torno de sentimentos e símbolos embebecidos de verdade.

Mas cada vez mais acredito que cada um de nós pode, a qualquer momento, criar uma nova tradição cultural que possa sobreviver a nós mesmos. Cultura não é estática. Mesmo as tradições que já existem podem ganhar novos contornos, novas cores, novos signos. E tudo bem. À medida que novas pessoas vão vivenciando as tradições, é natural que elas coloquem um pouco de si, da sua realidade e do seu tempo.

Afinal, toda tradição secular começou do zero algum dia. Alguém (ou alguéns) decidiu, pensou, experimentou, tentou algo novo. Algo que foi abraçado por tantas outras pessoas. E esse laço estabelecido foi tão forte que até hoje podemos experimentar do mesmo sentimento. E assim nos conectamos com o passado, com o presente e com o futuro. Logo, hoje, agora, eu ou você podemos criar novas tradições e novas manifestações culturais que podem ser celebradas por anos, décadas, milênios. Não só podemos, como devemos.

Em Teresina, eu destaco duas iniciativas recentes, que, a meu ver, já se firmaram como tradições importantíssimas para a cidade e que seria lindo se pudessem ser transmitidas para outras gerações.

A primeira é a Procissão das Sanfonas, idealizada por Wilson Seraine, um dos mestres que detêm grande conhecimento sobre a cultura popular nordestina e piauiense, procissão que já completou 10 anos de história. Uma celebração anual ao Rei do Baião, à sanfona e à cultura nordestina. Uma procissão mágica pelo centro da cidade, que reúne amantes da cultura nordestina e une gerações de artistas, sanfoneiros e cidadãos.

A segunda é A Hora do Ângelus, idealizada por Adriano Abreu, diretor do Coletivo Piauhy Estúdio das Artes, que promove anualmente temporadas de leituras, às 18h, nas janelas do secular Theatro 4 de Setembro para os transeuntes da praça Pedro II. É de uma beleza emocionante, desperta a curiosidade de quem vive a P2, levando a literatura, a música e o teatro para o centro da cidade e aos nossos corações.

Teresina? Que cidade é essa? É a cidade da Procissão das Sanfonas. É a cidade d’A Hora do Ângelus. É a minha cidade. É a nossa cidade. É a cidade das tradições que já vivemos e das tradições que iremos dar vida.

Por Noé Filho.

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