Este piano, que vês, abandonado agora,
Sem carteias gentis de uns dedos delicados,
Docemente vibrando os límpidos teclados,
Como de alguém se ouviu divinamente outrora.
Este piano que vês, onde a tristeza mora,
Erguendo-se a florir dos tempos apagados,
Recorda o meu amor, os sonhos torturados,
Nesta angústia cruel que os corações devora.
Calado, assim, traduz uns olhos rasos dágua
E uma saudade, enfim, que chora e os céus não ouvem,
A sofrer na mudez suprema desta mágoa!
Este piano martírio fala às coisas mais secretas!
Este silêncio vibra um trecho de Beethoven,
Interpretando, assim, as almas dos poetas!