Factus Est, de H. Dobal

h dobal

O que fez o verão também fez

esta água parada água de mal viver.

Fez o dia de cacto e macambira, o dia de sono e sol

sobre a sombra dos pequizeiros. Fez a luz nos olhos

das onças pretas. Os bichos bravos

pisando macio nas folhas secas. As passadas fundas

na areia das trilhas

onde os comboios de jumentos

levaram suas cargas

de carne-seca, farinha e rapadura.

O que fez da vida a selva escondida nos troncos

sob o sol. Fez os olhos da pedra

que vence os verões. Fez as palhas da carnaúba

e as águas cortadas

águas mornas

água de barro

água de cacimba

que a sede não refuga.

O que parou as águas fez irreal este silêncio

dos chapadões. Fez os bichos obstinados

de sol e de poeira: as cabras as formigas

os cupins o homem sóbrio

e os seus dias de mal viver.

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