O que fez o verão também fez
esta água parada água de mal viver.
Fez o dia de cacto e macambira, o dia de sono e sol
sobre a sombra dos pequizeiros. Fez a luz nos olhos
das onças pretas. Os bichos bravos
pisando macio nas folhas secas. As passadas fundas
na areia das trilhas
onde os comboios de jumentos
levaram suas cargas
de carne-seca, farinha e rapadura.
O que fez da vida a selva escondida nos troncos
sob o sol. Fez os olhos da pedra
que vence os verões. Fez as palhas da carnaúba
e as águas cortadas
águas mornas
água de barro
água de cacimba
que a sede não refuga.
O que parou as águas fez irreal este silêncio
dos chapadões. Fez os bichos obstinados
de sol e de poeira: as cabras as formigas
os cupins o homem sóbrio
e os seus dias de mal viver.