Símbolo d’arte, de Félix Pacheco

Se o meu verso não fora o agonizar de um lírio,

E o suave funeral de um crisântemo roxo,

Diluindo-se, murchando, à vaga luz de um círio,

Entre o planger de um sino e o gargalhar de um mocho;

Se, essas flores do mal, em pleno desabrocho,

Eu não sentira em mim, num êxtase e em delírio,

Meu orgulho de rei julgara vesgo e frouxo,

Pois a glória de um sol não vale esse martírio.

Se, na terra que piso, algum prêmio ambiciono,

É o deserto, a cabala, o claustro, a esfinge, o outono,

O calmo encanto da noite e a augusta paz da morte…

E o meu símbolo d’arte, o ideal que me fascina,

É a tristeza a florir a graça feminina,

Como um farol pressago a iluminar o norte!

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