A arte é transformadora, tem o poder de modificar, de maneira brusca e sutil, tudo ao seu redor, consegue agregar novos tons à rua ou à alma e até aos espaços (sejam eles internos ou externos). A arte é ar, respiração e pele, mas também é sangue, ou seja, vai desde a superfície até o pensamento, parafraseando Da Costa e Silva. A teresinense Renata Flávia é esse atravessamento de versos e muita criatividade. A artista é graduada em História e especialista em História Cultural, pela Universidade Estadual do Piauí e mestra em Educação, pela UNINOVE. Além disso, é uma pesquisadora de assuntos relacionados à sua formação, tais como: história, educação e literatura. É servidora pública federal e exerce o cargo de Auxiliar de Biblioteca, no Instituto Federal do Piauí. É escritora, autora da obra “Mar Grave” (2018) e escreve no blog Lustre de Carne. “A literatura é a forma de me conhecer e de existir. Existir quando eu escrevo e quando eu leio, porque é quando a gente se encontra e se perde também”, afirma Renata Flávia.
“A literatura é a forma de me conhecer e de existir. Existir quando eu escrevo e quando eu leio, porque é quando a gente se encontra e se perde também.” Renata Flávia
Nome Completo: Renata Flávia de Oliveira Sousa
Descrição: Escritora
Data de Nascimento: 12/08/1989
Local de Nascimento: Teresina-PI
Escrito por: Alisson Carvalho
Revisado por: Paulo Narley
Incursões ao mundo das artes
Renata Flávia cresceu em um ambiente com muitas referências artísticas, começando pela paixão por música do pai, Paulo Sérgio, que compunha e tocava músicas diversas. “A música foi essencial para eu descobrir quem eu sou”, rememora Renata Flávia. A escritora conta que a sua vivência com a música aconteceu de forma orgânica, uma relação de identificação com as bandas e estilos. A criação sempre acompanhou a artista, que está o tempo todo descobrindo alguma forma de materializar toda a sua criatividade. E a curiosidade pela poesia começou quando ela soube de um concurso de poesia escolar. Nessa época, ela tinha sete anos de idade, morava em Parnaíba-PI e, mesmo sem saber o que era poesia, insistiu dizendo que queria participar do tal concurso. Posteriormente, essa primeira curiosidade vivaria rotina da aspirante a escritora.
Os cadernos de “proesias”
A escrita sempre foi algo presente na vida de Renata Flávia. Desde os doze anos, a menina escrevia compulsivamente nos seus cadernos poéticos, era uma escrita que já trazia a verve da poesia. Apesar de parecer, ela conta que não eram diários, e sim uma escrita mais livre e sem dar tanta atenção para a estrutura do texto. Posteriormente, ela começa a conhecer outros ciclos sociais, interessar-se pela leitura e feitura de zines. Os zines serviram também para Renata compartilhar e conhecer outros escritores, chegando a produzir edições pequenas como o “Crua”, que foi entregue apenas para alguns conhecidos. Em 2008, Renata Flávia conhece Rodrigo Leite e Mário Eugênio. Depois disso, o grupo começou a dialogar e discutir assuntos relacionados à poesia. Em 2012, eles lançam o zine “Tara”, composto por poesias de Kilito Trindade, Mário Eugênio, Renata Flávia, Rodrigo Leite e Luiz Valadares, com o design de Thiago Ramos e ilustrações de Joniel Veras, o lançamento aconteceu no espaço Canteiro de Obras. Foi nesse período que a escritora transferiu a atividade corriqueira de escrever nos cadernos para o ambiente virtual do blog, que é uma página web na qual se publica textos, artigos e diversos temas. Até então, Renata Flávia escrevia como desabafo, sem uma grande atenção à estética do texto, mas com a divulgação das suas obras, ela começa a exercitar a brincadeira com a linguagem e pensar mais na sua escrita.
O lustre de carne
Renata Flávia criou o blog “Lustre de Carne”, em 2007, no mesmo período em que ingressou no curso de História. A partir disso, ela começou a dialogar e ter um feedback com outras pessoas; até então, tudo que ela escrevia ficava restrito aos cadernos confessionais. Renata conta que ela escrevia em um quarto onde ficava tudo que ela gostava: o computador, os livros e o aparelho de som. Nesse cômodo, tinha um lustre muito estranho com uma estrutura que parecia uma lança e foi ali, observando o artefato, que ela teve a ideia de metaforizar esse lustre que ilumina a carne, o que há de mais profundo no ser, algo que de tão visceral chega a ser doloroso e machuca. A escritora conta que o blog funcionava como um exercício de escrita, de exorcismo, e é nessa troca que está a beleza da literatura e da poesia, pois é quando aquelas palavras ajudam, modificam ou até sensibilizam outras pessoas. O blog ficou dez anos em vigência, quando a plataforma encerrou as atividades e fechou o serviço. Com isso, a escritora conta que perdeu grande parte das suas “proesias”. Atualmente, ela retomou o Lustre de Carne, mas em outra plataforma.
“O livro me modifica quando ele atinge o outro. E essa resposta é que faz eu sentir que ele está vivo.” Renata Flávia
O Mar Grave
“O livro me modifica quando ele atinge o outro. E essa resposta é que faz eu sentir que ele está vivo”, pontua Renata Flávia. Em 2018, a escritora lança a obra “Mar Grave”, pela Editora Moinhos, na série intitulada “Pontes Poéticas” que já tem a tradição de publicar obras dos novos autores e autoras. Para compor os textos que seriam colocados na obra, a autora fez uma seleção por temas. Renata Flávia sentiu a necessidade de mostrar a mudança na sua escrita criando esses minilivros dentro de um livro no qual expõe inquietações antigas e atuais, que são contadas por três vozes, três características. A obra, portanto, é como uma coletânea e está dividida da seguinte forma: “Obsidiana” (que é uma pedra vulcânica associada à proteção e purificação de energias), esse é o capítulo que tem mais textos do Lustre de Carne, com caráter mais introspectivo; “Histeria”, capítulo no qual a escritora aborda temas feministas; e “Voragem”, onde ela aborda a ideia do punk, com textos sobre a política. “Antes de publicar o livro, eu não tinha a opção de falar sobre ele, pois o Lustre era muito restrito. O livro serviu para abrir essa porta, pois eu sou muito na minha”, crava Renata Flávia. A escritora conta o quanto é importante esse diálogo com o público, pois é quando ela percebe como a escrita ganha novos significados e modifica a outra pessoa.
Um macramê poético
Renata Flávia é uma escritora entrelaçada à escrita. A sua paixão pela criação faz dela uma artista insaciável pela criação, sempre buscando expressar as suas ideias por meio das artes, ora escrevendo, ora pintando, ora tecendo os seus macramês. E a escrita tem essa mesma organização, esse costurar que é tanto solto quanto profundo e visceral. Renata Flávia conta como os livros de literatura foram importantes para a sua formação e como o incentivo dos seus professores ajudaram ela a mergulhar ainda mais na sua paixão pela literatura. O processo criativo da escritora é bem espontâneo, e ela conta que não tem um método para produzir, parte da sua necessidade de criação, mas a finalização da escrita para o livro tem uma seleção mais criteriosa. Em 2012, Renata foi aprovada na lei de incentivo fiscal A. Tito Filho (Lei nº 2.194), que financiará a publicação da sua próxima obra, baseada também nos textos do Lustre de Carne. Renata Flávia escreve as suas “proesias” (prosa e poesias) e “poemetos” (poemas curtos) sem seguir temas específicos, sua escrita é bem espontânea e livre de quaisquer amarras. Segundo a própria escritora, definir as suas “prosas poéticas” seria limitar o próprio alcance que elas têm sendo assim como são, indefiníveis.
Contatos
Tel: 86 9 99924-3294
email: renata.flavia07@hotmail.com
Fotos
Vídeo
Proesias
O desenho da tua boca contorna e mata
um médico diagnosticou meu mal
Bibliografia
Mar Grave (2018).
Outras fontes
Crítica do livro “Mar Grave” de Renata Flávia, por Marciléia Ribeiro
Última atualização: 10/12/2019
Caso queria sugerir alguma edição ou correção, envie e-mail para geleiatotal@gmail.com.